28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-1A - GT 1 - Saúde das populações do Campo, Floresta e Águas: pesquisas, experiências e vivências na direção de um conhecimento emancipatório. |
31393 - A ECOLOGIA DE SABERES COMO METODOLOGIA DE PESQUISA PARA AS POPULAÇÕES DO CAMPO, FLORESTA E DAS ÁGUAS. FERNANDO FERREIRA CARNEIRO - FIOCRUZ, VANIRA MATOS PESSOA - FIOCRUZ, CARLOS ANDRÉ MOURA ARRUDA - FAECE, CLEBER ADRIANO FOLGADO - UFBA, ANA CÁSSIA FERREIRA FIRMINO - PREFEITURA MUNICIPAL DE TAUÁ
A saúde das populações do campo, da floresta e das águas coloca o desafio de dialogar com realidades singulares, plurais, interculturais, que passam pela dimensão dos movimentos sociais, do ambiente, do trabalho, do modo de vida e do cuidado em saúde. A expressão do desafio atual requer uma nova forma de explicar a realidade, de conhecer, de analisar, de perceber o mundo em que vivemos. O conceito de ecologia de saberes e o conjunto teórico em que se insere resultaram exatamente da necessidade de combinar e de articular conhecimentos diferentes, científicos e populares, com vistas a fortalecer as ações coletivas, em que todos estávamos de acordo ou nos quais existem grandes acordos, mas que há perspectivas diferentes ou conhecimentos distintos sobre os temas que nos congregam. Em sendo assim, é preciso reconhecer a insuficiência da ciência moderna pelos seus princípios para avançar em pesquisas participativas, com integração horizontal de sujeitos, considerando que a principal característica do paradigma hegemônico é a separação entre sujeito e objeto de pesquisa. A voz dos territórios ressoa o clamor de populações vulnerabilizadas que gritam por direitos, por justiça social e por preservação de certo modo de viver em um lugar de pertencimento, ou seja, um território que seja a eles permitido viver, com um trabalho que faz sentido, numa relação com a natureza, a qual é singular. O objetivo desse trabalho foi desenvolver uma pesquisa para avaliar a Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, Floresta e das Águas (PNSIPCFA) por meio de uma teia de saberes e práticas, buscando fazer ciência com consciência, tendo como premissa a produção compartilhada de conhecimentos. Esse modo de fazer ciência e de gestar novos saberes e práticas de saúde visou também trazer contribuições à maneira de fazer pesquisa na saúde coletiva e visibilizar essas populações do ponto de vista acadêmico. A metodologia buscou colocar em prática a Ecologia de Saberes como um método de pesquisa. Para isso utilizou como princípios básicos a relação sujeito-sujeito de pesquisa – o pesquisar “com” e não somente “para” ou “sobre”, e a participação e a ação em todas as etapas do processo, por meio de um diálogo entre acadêmicos, movimentos sociais e SUS, realizados por meio de oficinas para definir cada etapa da pesquisa. Foram selecionados 12 territórios envolvendo 11 municípios das 5 regiões do Brasil, em diversos biomas. Os critérios de seleção se basearam em áreas de conflito, contar com movimento social organizado; gestores do SUS comprometidos; componentes da PNSIPCFA implantados e pesquisadores populares (moradores dos territórios e vinculados a movimentos sociais) e pesquisadores acadêmicos locais próximos desses movimentos disponíveis para o desenvolvimento da pesquisa. Durante 6 meses essa dupla de pesquisa territorial recebeu uma bolsa de pesquisa de igual valor para financiar as atividades de campo. Em cada território foi realizada pelo menos uma oficina local que buscou identificar as questões que ameaçavam e que promoviam a vida, entendendo a saúde no seu conceito ampliado. Uma das estratégias de sistematização da pesquisa foi a elaboração de livro com os resultados, tendo a dupla de pesquisadores como autores e que organizaram processos de devolutiva com lançamento nos próprios territórios. A voz que ecoou desses locais, mostrou as contradições das políticas públicas, os impactos do modelo de desenvolvimento, as inequidades, as desigualdades sociais, os conflitos territoriais, as questões socioambientais, as potencialidades, a identidade e os modos de vida das populações do campo, da floresta e das águas. Esta parte caracteriza-se pela heterogeneidade (dos sujeitos, dos contextos, dos biomas, dos problemas de saúde, dos processos de pesquisa, das metodologias, dos registros escritos, entre outros), que é essencial na constituição de pesquisas participativas e emancipatórias. Um importante achado foi que os sujeitos dos territórios já se encontram cansados de serem objeto da pesquisa e de sequer ter acesso aos seus resultados exigindo serem tratados como sujeitos do processo de pesquisa, de modo que o conjunto de ações pudesse diagnosticar dados, ao mesmo tempo que pudesse contribuir para o processo de transformação local, ajudando a construir respostas concretas para os problemas identificados. Em vários territórios, após as oficinas da pesquisa, foram geradas agendas de compromisso do gestor de saúde com os movimentos bem como novas parcerias com a academia. Também foi identificado grande potência no processo de devolutiva dos resultados que incluiu a realização de debates locais e a estruturação de novos projetos para intervir sobre os problemas identificados.
Referência:
CARNEIRO, F. F.; PESSOA, V. (ORG.) ; TEIXEIRA, A. C. A. (ORG.) . Campo, Floresta e Águas: tecendo práticas e saberes de saúde. 1. ed. Brasília: Editora UnB, 2017. v. 1. 4
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