29/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-1C - GT 1 - Saúde das populações do Campo, Floresta e Águas: pesquisas, experiências e vivências na direção de um conhecimento emancipatório. |
29813 - MULHERES DAS ÁGUAS E O CAPITAL INDUSTRIAL: PERCEPÇÃO DE PESCADORAS E MARISQUEIRAS SOBRE A INSTALAÇÃO DO POLO AUTOMOTIVO DA MULTINACIONAL FCA NO TERRITÓRIO DE GOIANA, PE ISABELLE MARIA MENDES DE ARAÚJO - IESP
INTRODUÇÃO: A chegada de empreendimentos multinacionais do setor automotivo, alinhados à reestruturação produtiva do capital, potencialmente desencadeia dinâmicas de vulnerabilização a determinados grupos sociais locais, a exemplo da instalação do polo automotivo da Fiat Chrysler Automobiles (FCA) no entorno da reserva ambiental extrativista na cidade de Goiana, Pernambuco, Brasil, expressão de um modelo de desenvolvimento econômico, tardio e periférico, que vem ocasionando modificações na organização e funcionamento desse território. A reserva extrativista de Goiana envolve quatro comunidades tradicionais, Baldo do Rio, Tejucupapo, Carne de Vaca e São Lourenço (quilombola), compostas expressivamente por mulheres das águas, pescadoras e marisqueiras, que vêm resistindo ao perceber as contradições do processo. OBJETIVO: Compreender, a partir da percepção de comunitárias da Resex, o processo de vulnerabilização em saúde ambiental desencadeado pela chegada empreendimento da FCA no contexto local. MÉTODO: Foi realizada uma pesquisa qualitativa, estudo de caso, com observação-participante e sistematização dos relatos de trabalhadoras comunitárias da reserva mediante a utilização das as categorias de análise da reprodução social propostas por Samaja, a saber, reprodução biocomunal, cultural, societal-econômica, política e ecológica, as quais apontaram as dimensões das vulnerabilidades geradas no território. RESULTADOS: Apreendemos que o tripé: o Capital, alavancado pela FCA; o Estado, promotor de políticas de isenções e desonerações em prol desta; e o Trabalho, por meio do qual se viabiliza aquela, é fundante para as vulnerabilizações do bem-viver: na saúde (aumento de agravos ocupacionais, vítimas de violência, doenças por saneamento ambiental inadequado); na cultura (retirada de feriados, fetiche do progresso, perda de identidade); na natureza (mudança da paisagem, erosão e poluição ambiental, consumo da água e energia) e nas relações socioeconômicas (especulação imobiliária, gentrificação, migração populacional). CONCLUSÂO: A partir do estudo, observa-se que a vulnerabilização em saúde ambiental pode ser compreendida como os agravamentos ao bem-viver nos contextos locais, da natureza, das relações sociais e da vida humana singular e comunitária, resultantes das iniquidades e injustiças deflagradas pelo poder do Capital e do Estado em detrimento dos grupos sociais historicamente destituídos e dos sistemas socioecológicos.
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