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Grupos Temáticos

29/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-1C - GT 1 - Saúde das populações do Campo, Floresta e Águas: pesquisas, experiências e vivências na direção de um conhecimento emancipatório.

30335 - CRIME AMBIENTAL E PRÁTICAS DE SAÚDE NAS COMUNIDADES INDÍGENAS DE ARACRUZ
LUANA CARVALHO TRINDADE - UFES, AIDA BRANDÃO LEAL - UFES, JANAÍNA MARIANO CÉSAR - UFES, RAFAEL DA SILVEIRA GOMES - UFES, FÁBIO HEBERT DA SILVA - UFES, NATÁLIA SOARES DALFIOR - UFES, MAIARA DA SILVA - UFES


Introdução
Em novembro de 2015, o rompimento da barragem de Fundão lançou na bacia do Rio Doce mais de 40 milhões metros cúbicos de rejeitos de mineração. Lama que atravessou 43 municípios até alcançar o mar no norte do Espírito Santo, sem precisão do raio de contaminação. Considerado o maior desastre ambiental de nossa história, o crime cometido pela Mineradora Samarco, devastou a bacia do Rio Doce e os usos que as milhares de pessoas que habitam em suas margens faziam dele e impôs à mineradora a proposição de diferentes ações de restituição, dentre elas o pagamento de indenizações aos atingidos pela lama.
Os territórios indígenas Tupinikim e Guarani, situados no município de Aracruz, no norte do Espírito Santo também foram afetados pelo encontro da lama com a foz do Rio Piraquê-Açu e o mar. Com mudanças na qualidade da água, todo o ecossistema de complexas relações foram alteradas. Para estes povos, cuja relação com a terra é ontológica, e o território que engendra movimentos de produção social, os efeitos do crime ambiental toma outras proporções, uma vez que afeta os modos de relação desses povos com o rio e a praia na dimensão da saúde, dos ritos, das memórias e dos saberes.

Objetivos e Metodologia
Este texto, vincula-se à pesquisa "Saberes tradicionais indígenas e produção de subjetividade: memórias e políticas de saúde”, financiado pelo edital CAPES: "Memórias: conflitos sociais”, que visa cartografar práticas de saúde e modos de vida das populações Tupinikim e Guarani do norte do ES.
No território indígena em Aracruz vivem indígenas predominantemente das etnias Tupinikim e Guarani em 12 aldeias (09 Tupinikim e 03 Guarani). Neste território encontram-se serviços de saúde e assistência social (04 Unidades Básicas de Saúde Indígenas e um Centro de Referência de Assistência Social Indígena), que acompanham e ofertam serviços a essa população. Com o intuito de acessar alguns desses efeitos realizamos entrevistas em grupo com trabalhadoras de uma UBS e do CRAS. As entrevistas foram guiadas por um roteiro aberto, privilegiando também questões levantadas pelos participantes. A análise em processo se faz a partir das transcrições do material produzido e de encontros com o território.

Resultados e Discussões
O crime ambiental gerou conflitos e resistências nas comunidades. Os impactos ecológicos tornaram o rio impróprio para banho e pesca. A morte e a infestação tóxica da água e da vida marinha ameaçam as dimensões relacionais dos povos. Encontros, banhos, pesca e a cata de sururu e ostras compartilhada eram ações de afirmação de memória e troca de saberes tradicionais, além de atividade de subsistência. A Fundação Renova, entidade relacionada à empresa Samarco e responsável por ações visando a reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem, oferece indenizações. Essa negociação é marco de luta dos caciques e da comunidade com reuniões e manifestações.
A partir da entrada da indenização em Caieiras Velha, por exemplo, é possível observar a gestão do dinheiro das famílias para elevação social, de novas formas de consumo e hábitos. Além disso, as novas relações do corpo nos aspectos do paladar, no uso de remédios, nos casos de diabetes e obesidade, aumento do uso do álcool e outras drogas, produção de lixo, trazem novas questões no território indígena.
As equipes de trabalho relatam que muitos sentem falta do rio e as comunidades indígenas, especialmente os anciãos¹, também apontam as dificuldades na forçada mudança. A relação passa a ser de ruptura, do qual alguns não se desvincularam, mesmo sabendo dos riscos atrelados. Nos serviços de saúde e assistência é perceptível mudanças nas demandas e trabalhos com a comunidade a partir dessa ruptura experimentada.

Considerações finais
O crime ambiental aponta não apenas para a gravidade de seus efeitos nos territórios atingidos, mas dá visibilidade para o que se tem privilegiado na relação com nosso mundo e com os outros seres. Visibiliza uma violência cosmológica. Problematiza as relações epistemológicas colonialistas, de exploração e sujeição da terra e dos seres. Força a pensar a centralidade do pensamento econômico na direção dos projetos e no modo de resolver os problemas que deles advêm. Demonstra as relações autoritárias, que não escutam as diferentes composições e diversidade dos povos e de seu encontro com a terra, sendo as indenização e reparos modos insuficientes de lidar com os efeitos produzidos.

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¹Rio Piraqueaçu Tupiniquim. Peguei o barco e o remo e também o samburá, juntos com as índias guerreiras fomos lá para pescar, que tristeza eu fiquei porque no mangue nada encontrei. Não pude conter as lagrimas caí ali muito chorei. Lembrei de quando meus pais bem cedinho iam pescar, muitos peixes eles traziam para nos alimentar, foi nesse rio que eu cresci com meus pais sobrevivi. Me dá tristeza, me dá revolta de ver o rio morrer assim.[...] (Música de indígena Tupiniquim, neta de uma das anciãs dessa comunidade. Caieiras Velhas, 17/04/2017).

local do evento

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