30/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-1D - GT 1 - Saúde das populações do Campo, Floresta e Águas: Formação Crítica, Participação Social e Vigilância Popular |
30951 - ANÁLISE DOS PROBLEMAS DE SAÚDE DOS RIBEIRINHOS EM ÁREAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL NO AMAZONAS: RELATO DE EXPERIÊNCIA A PARTIR DA CATEGORIA DA REPRODUÇÃO SOCIAL DE JUAN SAMAJA MARCILIO SANDRO DE MEDEIROS - ILMD/FIOCRUZ AMAZÔNIA, LIA GIRALDO DA SILVA AUGUSTO - IAG/FIOCRUZ PERNAMBUCO, SOLANGE LAURENTINO DOS SANTOS - UFPE, RITA SUELY BACURI DE QUEIROZ - ILMD/FIOCRUZ AMAZONIA, FLOR ERNESTINA MARTINEZ-ESPINOSA - ILMD/FIOCRUZ AMAZÔNIA, ADRIANA PATRÍCIA BRELAZ LOPES GOMES - ILMD/FIOCRUZ AMAZÔNIA, ANNY BEATRIZ COSTA ANTONY DE ANDRADE - ILMD/FIOCRUZ AMAZÔNIA, ISABELA CRISTINA DE MIRANDA GONÇALVES - ESA/UEA, DIOGO FERREIRA DA ROCHA - ENSP/FIOCRUZ, STEFANIA BARCA - CES/UNIVERSIDADE DE COIMBRA, ANDRÉ MONTEIRO COSTA - IAG/FIOCRUZ PERNAMBUCO
Contextualização . No atual contexto sanitário amazônico, um desafio posto aos SUS diz respeito à incorporação de povos e comunidades historicamente negligenciados pelas políticas públicas de saúde. Aqui focamos as populações ribeirinhas que habitam as Unidades de Conservação (UCs) de uso sustentável. A construção de conhecimento a respeito das interações sociais entre populações ribeirinhas, UCs e o SUS requereu uma metodologia que considerasse os vários componentes desse sistema complexo. Para isso, adotamos o referencial teórico-metodológico da Reprodução Social proposto por Juan Samaja, um modelo explicativo que integra sistemicamente as distintas interfaces hierárquicas que compõem as totalidades individuais e coletivas. Para Samaja, a natureza social do processo saúde-doença-cuidado não se reduz ao caso clínico, mas no modo característico de adoecer, do cuidar e do morrer de cada grupo humano. Métodos e técnicas. Nossa experiência foi realizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM) localizada na região do médio Solimões, que abrange 7 municípios, onde vivem cerca de 11 mil pessoas distribuídas em 200 comunidades, onde selecionamos uma amostra de 239 sujeitos de estudo. Para coleta de dados qualitativos utilizamos a análise documental, entrevistas abertas e observação participante para compreendermos os aspectos culturais e de conduta das populações diante dos desafios impostos pelo contexto socioambiental. No estudo aplicamos um questionário estruturado sobre as condições de vida e de saúde, composto por 64 perguntas aplicado em 8 comunidades. Esta coleta dos dados ocorreu num período de dois meses em 2016 e contou com a anuências dos órgãos ambientais e do CEP/IAM/FIOCRUZ. O plano de análise baseou-se na Matriz de Samaja com a qual buscamos traduzir a realidade estudada para a um modelo lógico de matrizes que especificasse os sujeitos (unidade de análise); as características (variáveis) implícitas e as situações particulares (valores) que tais características informam. Resultados. A partir de nossas opções teórico-metodológicas verificamos que a vida naquele território está marcada pelo ecossistema de várzea, pois os recursos naturais desempenham importante papel na vida da reprodução social das comunidades. Contudo, a abundância dos recursos hídricos oculta o problema, como a falta de água durante os meses de seca. A reprodução política na RDSM emerge em meio às contradições da biologia conservacionista. A gestão do território é responsabilidade do Estado, mas na prática, as estratégias de ações ficam a cargo das instituições não estatais. Contudo, as barreiras de ordem geográfica, econômicas, organizacionais e culturais do acesso à saúde, identificadas pela pesquisa, não foram solucionadas por nenhum dos três níveis de governo e nem pelas instituições não estatais. A reprodução tecnoeconômica dos ribeirinhos se baseia no trabalho familiar em articulação com o mercado e a indução à diversidade de atividades econômicas pelas instituições não estatais o que repercutiu positivamente na renda constituindo um tipo de aproximação entre as dimensões tecnoeconômica e política. No entanto, elas não têm reduzido as trocas desiguais e injustas da comercialização do pirarucu. As condições de vida e de saúde operam sobre a realidade em processos estreitamente entrelaçados e mutuamente interdependentes da reprodução social, as quais se expressam na forma e na frequência como as populações adoecem no nível biocomunal. Dessa forma, o saneamento deficitário está associado às doenças de veiculação hídrica e de transmissão vetorial. Esses males somam-se a outros agravos de baixa letalidade, mas de alta frequência e transmissibilidade, como tuberculose, hanseníase e intoxicação por animais peçonhentos. Logo, podemos afirmar que os processos sociais que determinam as situações de saúde dos ribeirinhos da RDSM são oriundos da estrutura de poder configurada pelas práticas territorializadas das políticas das áreas protegidas ambiental e pelos programas de saúde pública, cuja sobreposição tem produzido interação de conflito sobre as competências e responsabilidades com a atenção à saúde. Essa condição, por si só, impossibilita a conservação ambiental, revelando-se um contrassenso da política ambientalista ao não incluir o cuidado com a saúde de seus habitantes.
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