29/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-1C - GT 1 - Saúde das populações do Campo, Floresta e Águas: pesquisas, experiências e vivências na direção de um conhecimento emancipatório. |
30818 - PESCA ARTESANAL E A SAÚDE E DOENÇA NO TRABALHO: A VOZ DE MULHERES PESCADORAS ISABELLE BERNARDINA DA SILVA LOPES - FIOCRUZ/CNPQ, VANIRA MATOS PESSOA - FIOCRUZ-CE, MARIA DAS GRAÇAS VIANA BEZERRA - SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE EUSÉBIO, LUIZ RONS CAÚLA DA SILVA - UFC, OZENETE DOS SANTOS ABREU - COMUNIDADE
Introdução: O trabalho no mundo contemporâneo tem passado por grandes transformações, todavia, algumas atividades produtivas tradicionais, como a pesca artesanal (PA) persistem como uma tradição de sustento das famílias, tanto em contextos urbanos como rurais. A população que vive da PA tem se autodenominado de populações das águas, que podem ser as águas doces ou salgadas. A PA tem uma relação direta com o modo de vida, de produção e reprodução social das famílias. Em Eusébio, Ceará, tem um rio denominado de Pacoti, em que há mulheres que praticam essa atividade produtiva. No referido município está em andamento um estudo intitulado: Pesquisa-ação no entorno do polo industrial e tecnológico da saúde (PITS) no Ceará/Brasil: interfaces entre a comunidade, o território e a saúde da família, ambiente e trabalho. Os resultados apontaram a necessidade de aprofundar a compreensão do trabalho das mulheres, que vivem da PA, tendo em vista, que há diferentes processos produtivos no território, que podem impactar na PA no entorno do PITS, bem como a relação desta atividade com a saúde da mulher pescadora e marisqueira. Objetivo: Compreender a percepção das pescadoras artesanais e marisqueiras sobre os riscos e agravos à saúde existentes no contexto da atividade pesqueira em Eusébio/Ceará. Metodologia: Pesquisa qualitativa, de caráter social, abordando o universo das crenças, símbolos e percepções das mulheres pescadoras sobre o seu trabalho. As mulheres pescadoras foram entrevistadas, tendo-se como base um roteiro semiestruturado. Participaram das entrevistas um total de sete pescadoras artesanais da comunidade de Mangabeira de Eusébio/Ce, que tiveram seus discursos gravados e posteriormente transcritos. Foi realizado um estudo crítico dos discursos, que foram organizados em uma categorização temática, reunindo-os em categorias de análise para a compreensão dos significados das falas. Resultados: As entrevistadas tinham idade entre 47 e 69 anos, uma média de tempo de trabalho variando entre 15 a mais 30 anos. Dentre as sete marisqueiras, o local principal de trabalho foi o Rio Pacoti, observando, que apenas duas trabalhava, também, na Lagoa da Precabura. Além do trabalho de marisqueira, o papel na fabricação de utensílios se mostrou ativo entre as ocupações das sete pescadoras. A renda foi prevalente como abaixo de um salário mínimo dentre as cincos pescadoras e duas, no caso a aposentada, entre um e dois salários mínimos. O grau de escolaridade foi evidenciado em seis pescadoras como fundamental incompleto I, e na mais jovem de, 47 anos, o ensino médio completo. Todas referiram morar em casa própria, ter o lixo coletado e seis tem acesso a água de distribuição e apenas uma utiliza poço para o abastecimento domiciliar e a presença de fossa rudimentar foi unânime entre as entrevistas. Os relatos das pescadoras apresentaram diversos riscos à saúde, dentre eles: quedas em virtude do solo lamacento; ferimentos nos pés e mãos com fratura de ossos das mãos, que acontecem, principalmente, através de paus e do cuidado com os mariscos. As mulheres expressaram que houveram mortes de pescadores por afogamentos no rio Pacoti, e trazem a dimensão da espiritualidade com relatos de medos das entidades espirituais presenciadas durante o trabalho. As pescadoras, apesar de citarem todos esses riscos à saúde e os acidentes de trabalhos (AT), graves e fatais, não consideram o trabalho como gerador de riscos e agravos à saúde. Para as entrevistadas, esse adoecimento é inerente ao trabalho e a vida delas de pescadoras. Quando indagadas sobre os problemas de saúde, as mulheres pescadoras citam as doenças crônicas como diabetes, hipertensão, colesterol alto, além de dificuldades na acuidade visual e o envelhecimento, que não estão diretamente associados ao trabalho. Conclusão: Trata-se de uma atividade que expõe as trabalhadoras a riscos físicos, biológicos, ergonômicos que resultam em doenças relacionadas ao trabalho, como as lesões por esforços repetitivos (LER) entre outros acidentes de trabalhos - ferimentos, quedas e os afogamentos. Além disso, ainda não há um reconhecimento dessas situações como perigosas ou danosas à saúde. São riscos e agravos que na percepção das mulheres pescadoras estão associados ao processo normal da pesca artesanal demonstrando o quanto é importante a atuação dos serviços de saúde, em especial da estratégia saúde da família desenvolver ações de promoção da saúde com foco na prevenção de AT e em doenças relacionadas ao trabalho.
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