Clique para visualizar os Anais!



Certificados disponíveis. Clique para acessar a área de impressão!

Associe-se aqui!

Grupos Temáticos

30/09/2019 - 13:30 - 15:00
CB-1D - GT 1 - Saúde das populações do Campo, Floresta e Águas: Pesquisa, Participação Social e Vigilância Popular

31423 - ECOLOGIA DE SABERES NAS PRÁTICAS DE SAÚDE RURAL: UMA ABORDAGEM AUTOBIOGRÁFICA
VANIRA MATOS PESSOA - FIOCRUZ CEARÁ


Introdução: Nos tempos atuais o conhecimento crítico em saúde para ser insurgente precisa nutrir-se de novas proposições epistemológicas para conceber uma leitura ampla do território e do modo de vida. O repensamento do sistema de saúde deve ser concebido num contexto dinâmico de conflitos, disputas, de assimetrias de poder, de uma sociedade plural com a forte presença das lógicas positivista autoritária, com características da oligarquia colonial e da liberal mercantil, impulsionada pelo neoliberalismo. Objetivo: discutir a ecologia de saberes como caminho para práticas emancipatórias na estratégia saúde da família(ESF) em cenários rurais/camponeses. Metodologia: pesquisa autobiográfica, em que defendi a partir do conhecimento experiencial, a ecologia de saberes nas práticas de saúde na ESF. Resgatei uma experiência de formação e de pesquisa, que acontecem num processo de fusão, em que um nutre o outro, e ambos se tornam renovados a partir da consciência política e crítica do papel individual e coletivo do educador/educando, do pesquisador aprendiz/pesquisador orientador. A ruptura com a relação sujeito-objeto na perspectiva de gestar um novo saber, uma nova prática, um novo valor mediado pela ecologia de saberes, considerando o interconhecimento e a tradução intercultural como pedras angulares. Resultados e discussão: o desafio de firmar um modelo assistencial centrado nos sujeitos, que favoreça a autonomia, como sugere a ESF requer uma compreensão da relação da saúde com as dimensões: científica, cultural, histórica, política e social numa sociedade capitalista, com forte hegemonia do modelo médico-privatista. O setor saúde, por sua vez repete práticas autoritárias e não reconhece a multiplicidade de fatores envolvidos na produção da saúde e da doença no semiárido. A ESF em territórios rurais, pouco atua/ intervém em situações decorrentes da ausência de outras políticas públicas, não articulando uma visão ampliada de saúde, intersetorial e interdisciplinar. A atuação em saúde incorporando estas dimensões exige: diálogos, interações, aprender novos conhecimentos, estabelecer novas relações, romper com processos arraigados de agir, criar novos mecanismos de de cuidado em saúde, que necessariamente reivindicam uma ecologia de saberes. É essencial valorizar nas práticas de saúde a especificidade, a diferença e a singularidade, que é inerente as populações habitantes de contextos rurais/sertanejos para reorientar o modelo assistencial e superar o modelo hegemônico (médico hospitalocêntrico e o sanitarista campanhista); A promoção de práticas emancipatórias precisa de uma fundamentação epistemológica, de um pensamento emancipatório, como o pensamento pós-abissal. A ESF ancorando suas práticas na ecologia de saberes, que é um pensamento que reintegra a pluralidade de conhecimentos existentes no território, pode conformar processos reflexivos e críticos que amplie a visão acerca do território, da saúde e das necessidades de saúde na saúde coletiva. A ESF tem como diretrizes atuar numa perspectiva relacional tecendo relações clínicas e terapêuticas contínuas com indivíduos e família, entre os profissionais e em equipe e destes com o território/comunidades/famílias com vínculo e afetividade; realizar o acolhimento das necessidades de saúde com responsabilidade e humanização das práticas de saúde. Estes aspectos reivindicam um saber, que não é o conhecimento científico, mas um saber que é produzido na interação, na cooperação, na partilha humana que requer a arte, a literatura, a poesia, a música, entre outros saberes para gerar um saber ético-político-solidário, que se compromete com a singularidade individual e coletiva no âmbito do cuidado do indivíduo, da família, do território, da comunidade. Este saber ético-político-solidário é um pilar das práticas assistenciais, de promoção e de vigilância na atenção à saúde, que serve de âncora a dimensão clínica e epidemiológica. Considerações finais: A produção do conhecimento-emancipação deve se dá no contexto de práticas territorializadas e singulares no ato de cuidar da saúde, reivindicado o estabelecimento de outra relação entre a academia e o serviço de saúde e comunidade como sujeitos da produção do novo modelo de atenção, que é a ESF. Acredito que a ecologia de saberes tem uma contribuição na emancipação das práticas de saúde, por ter abertura para subsidiar os contraditórios em busca de uma nova realidade, a ser tecida junto, instaurando uma estranheza em relação as práticas de saúde vigentes. Esta estranheza significa colocá-las em permanente crítica de si e de outrem. A ESF, como uma possibilidade orientadora de uma nova prática de saúde deve se comprometer no desvelamento de necessidades de forma colaborativa, participativa, num contínuo exercício democrático com vistas a transitar de uma visão doença-centrada, para uma visão saúde-centrada, ao mesmo tempo que recria uma visão de Estado para dentro e para fora do serviço de saúde.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

Campus I - Lot. Cidade Universitaria, João Pessoa - PB, 58051-900