29/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-1B - GT 1 - Saúde das populações do Campo, Floresta e Águas: Formação Crítica, Participação Social e Vigilância Popular |
30527 - A EXPERIÊNCIA DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO E AGROECOLOGIA E OS DESAFIOS DA CONSTRUÇÃO DE EXPERIÊNCIAS AGROECOLÓGICAS NO COTIDIANO ESCOLAR
INGRID D'AVILLA FREIRE PEREIRA - EPSJV/FIOCRUZ, ANAKEILA DE BARROS STAUFFER - EPSJV/FIOCRUZ, DIONARA SOARES RIBEIRO - EPAAEB, ELIANE OLIVEIRA DA SILVA KAI - EPAAEB, MARCELA ALEJANDRA PRONKO - EPSJV/FIOCRUZ
Este trabalho apresenta a experiência do curso de especialização lato sensu “Educação e Agroecologia” desenvolvido pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio/Fundação Oswaldo Cruz (EPSJV/Fiocruz), Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Bruneto (EPAAEB), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e apoio da Vice Presidência de Promoção e Atenção à Saúde da Fiocruz.
A construção político-pedagógica do curso é parte de um conjunto de iniciativas relevantes e pioneiras que tentam disputar as possibilidades de viver de forma digna, saudável e em harmonia com a natureza em um cenário marcado pela intervenção do capital internacional, que no território do extremo sul da Bahia tem se expressado, prioritariamente, pela expansão da monocultura de eucalipto desde os anos 1980.
Destacam-se entre estas iniciativas: a luta e as ocupações realizadas pelo MST que culminaram com a conquista de mais de 30 mil hec. de terra distribuídos em 17 áreas na região; a priorização deste território para a implementação de iniciativas como o projeto de assentamentos agroecológicos; a realização de estudos sistemáticos sobre a cadeia do agronegócio na região; a criação da EPAAEB como espaço de referência técnica e formação sobre a produção agropecuária na região, sobretudo, na pesquisa agroecológica; e a inclusão de atividades teóricas e práticas de agroecologia na educação básica das escolas públicas dos assentamentos e acampamentos de boa parte dos municípios da região desde 2015.
Este curso de especialização possui carga horária de 488h, teve início em janeiro de 2019 e tem término previsto para janeiro de 2020. Em sua primeira turma se dedica à formação de 43 educandos, que são educadores e gestores da Educação do Campo em áreas de Reforma Agrária. São objetivos desta formação: a socialização de saberes histórico-conceituais dos campos da educação e da agroecologia; a reflexão crítica das técnicas e métodos destes dois campos de conhecimento; e a ampliação das possibilidades de compreensão dos territórios e consolidação de experiências agroeocológicas nas escolas em articulação com a comunidade.
O curso é formado por quatro componentes curriculares: Epistemologias e Historicidade da Ciência e da Agroecologia; Fundamentos da Educação e do Trabalho Docente; a Práxis Docente e a Agroecologia; Processo Investigativo, Sistematização de Experiências e TCC e se desenvolve a partir da Pedagogia da Alternância e dos fundamentos da Educação do Campo. É composto, portanto, por 4 etapas de Tempo Escola (TE) e 3 etapas de Tempo Comunidade (TC), potencializando a relação teoria e prática.
Os TE ocorrem na EPAAEB (Itamaraju - BA), que recebe os educadores dos outros municípios da região, e se configuram como momentos para estudos individuais e em grupo orientados para o foco de pesquisa, com orientação coletiva dos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC); seminários sobre tópicos temáticos e aulas expositivas e dialógicas. As três etapas de TC são realizadas nos intervalos entre os TE, quando os educandos(as) dedicam 40 horas de trabalho para atividades de pesquisa e extensão, nas escolas, serviços de saúde, assentamentos e acampamentos dos quais são oriundos. O TCC, elaborado processualmente, se constituirá de estudo sobre a realidade sócio-histórica do território e planejamento educacional em agroecologia, integrando dimensões teóricas e vivenciais.
A experiência de construção deste curso tem demonstrado grande potencial para a produção do conhecimento agroecológico nas escolas. É, portanto, uma oportunidade para problematizar, simultaneamente, o modelo de produção agrícola convencional, bem como os danos e os impactos à saúde e à natureza decorrentes do uso dos agrotóxicos. As reflexões sobre este tema e sua incorporação ao cotidiano escolar, ainda que de forma recente, tem permitido a mobilização dos docentes e a construção de um novo agir pedagógico, que, necessariamente inconcluso, ocorre de forma coletiva, impulsionando uma atuação da escola junto à comunidade.
A realização de mais este processo pedagógico vinculado aos movimentos sociais oferece à EPSJV a oportunidade de aprender com a realidade dos territórios camponeses a partir de uma relação mais íntegra com a saúde, a educação, o trabalho e o meio ambiente. Reafirma ainda o princípio da politecnia e suas contribuições para a construção de uma escola unitária e crítica. Como é particular deste tipo de experiência destacamos dois desafios: a superação da disciplinarização da agroecologia e seu tratamento de forma técnica e instrumental; bem como a disseminação desta experiência e as reflexões sobre a inclusão das experiências agroecológicas em outros cenários educacionais.
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