28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-36B - GT 36 - Eixo 1 – Aprender com Dona Maria: artes e espiritualidades populares na construção do bem viver. |
30879 - O SABER POPULAR E O CUIDADO DA CRIANÇA QUILOMBOLA RAFAELA DOMINGOS DA CUNHA - INSTITUTO AGGEU MAGALHÃES- FIOCRUZ/PE, SIMONE ELISABETH D. COUTINHO - UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, ANA MARIA CAVALCANTE LOPES - UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
INTRODUÇÃO
A construção da saúde na sociedade brasileira, no tocante a Constituição em 1988, incorpora ao seu conteúdo a ampliação do conceito de saúde, sendo o mesmo favorecido pelo movimento de resistência e contra-hegemonia da Reforma Sanitária Brasileira. Diante disso, estava posta a proposta e a necessidade de reformulações na configuração da oferta de serviços e na formação dos profissionais, objetivando-se a construção de um sistema de saúde erguido pelos pilares da universalidade, equidade e integralidade (AMARAL et al; 2014).
Nesse cenário, as práticas sanitárias igualmente precisariam ser reformuladas e resignificadas. Com isso, a metodologia hegemônica na qual se exercia a Educação em Saúde precisava ser driblada, passando a ser uma ferramenta para o desenvolvimento e aprimoramento da autonomia da população diante da própria vida e história (ALBUQUERQUE, 2004)
As populações quilombolas, carregam consigo a história e a cultura, as quais interferem nas ações diárias, inclusive na forma de viver e de cuidar. Refere-se que nos quilombos há uma presença marcante das práticas populares no ato de cuidar, como por exemplo, o uso de chás, xaropes, assim como as práticas religiosas de cura, segundo Santos e Chaves (2007).
OBJETIVO
O estudo objetiva investigar as formas de cuidado das crianças quilombolas, na comunidade quilombola de Paratibe.
MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa de campo de caráter exploratório descritivo, com abordagem qualitativa utilizando a entrevista semiestruturada, gravada e posteriormente transcrita. O cenário da pesquisa foi a Comunidade Quilombola de Paratibe, às margens da PB-008, no município de João Pessoa- PB. No período de junho de 2016 a abril de 2017. A pesquisa foi desenvolvida com um núcleo familiar de quatro mulheres, dentre elas, duas mães e duas avós, observando-se como critérios de inclusão: indivíduos envolvidos nos cuidados diários de crianças quilombolas, inseridas na faixa etária de 0 a 2 anos de idade. Os dados foram organizados pelo método de análise temática de conteúdo, segundo Minayo (2012). O projeto foi submetido, analisado e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do CCS- UFPB, sob CAAE n°- 62416416.6.0000.5188. Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), conforme as diretrizes e normas regulamentadoras para pesquisa envolvendo seres humanos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O saber tradicional no cuidado das crianças quilombolas
Segundo os resultados das entrevistas, percebe-se quanto os cuidados proporcionados pelas mulheres mais jovens divergem dos cuidados desenvolvidos pelas mulheres mais velhas. Essas privilegiam o uso de chás, lambedores, ervas e rezas; enquanto as mais jovens priorizam o saber médico tradicional e os remédios alopáticos.
Essas divergências explicitadas nos modos de cuidado no processo de restabelecimento da cura, diante do adoecimento infantil, e o cuidado com o cardápio alimentar da criança, evidenciam a quebra do processo de transmissão cultural do cuidado. Com mudanças percebidas no espaço que antes era ocupado pelo saber popular, próprio da comunidade, tradicional no cuidado da criança. Esse último passa a ser relegado, e um cuidado uniformizado e externo passa a ser promovido.
O cuidado tradicional naquela localidade envolvia, predominantemente, o uso de ervas e raízes. Essas sendo utilizadas na produção de chás, lambedores e banhos, os quais junto a outros cuidados formam uma maneira de cuidar das crianças. Um modo de cuidar característico dos mais antigos, no qual a figura do profissional de saúde e do hospital não é o centro.
A avó da criança quilombola como detentora do saber tradicional no cuidado
Consta no laudo antropológico da Comunidade Quilombola de Paratibe, segundo Gonçalves (2010), que a força feminina era quem mantinha a tradição cultural e familiar, força essa, detentora dos saberes ancestrais e históricos da respectiva comunidade. O que nos proporciona a compreensão de uma sociedade constituída sob as égides do matriarcalismo, originalmente.
Enfatiza-se no mesmo documento que o vínculo dos filhos é maior com a figura da avó, tradição afetiva essa que se repete nas gerações atuais. Além disso, em Paratibe, o exercício da maternidade, sendo um papel coletivo e social, causa influência principalmente na disposição e organização das casas no território, uma vez que elas administram a produção dos bens materiais e da vida familiar, suas tradições (GONÇALVES, 2010).
CONCLUSÃO
O processo de transmissão oral da memória não tem sido suficiente diante das práticas culturais externas que adentram o espaço quilombola, com isso, a identidade cultural que resguarda o quilombo tem sido degradada. Logo, o fortalecimento da transmissão oral da memória africana e quilombola é a ferramenta alcançável para a tentativa do agir na perpetuação das tradições e origens do povo negro.
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