28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-36B - GT 36 - Eixo 1 – Aprender com Dona Maria: artes e espiritualidades populares na construção do bem viver. |
31524 - ESPIRITUALIDADE NA PALHAÇARIA DO CUIDADO - A EXPERIÊNCIA DO PALHASUS ALDENILDO ARAUJO DE MORAES FERNANDES COSTEIRA - UFPB, JANINE AZEVEDO DO NASCIMENTO - UFPB
O PalhaSUS é um projeto de extensão universitária que trabalha no campo da educação popular e da humanização em saúde através da ação do Palhaço Cuidador (PC) em diversos contextos, sobretudo em espaços de assistência. Suas atividades incluem a preparação dos extensionistas e a atuação destes como PCs junto a seu público externo. A espiritualidade, como dimensão humana ainda pouco reconhecida no meio acadêmico e profissional, vem sendo manifestada neste trabalho, a partir das suas ações e vivências em que o extensionista se desafia a um mergulho pessoal profundo e se entrega à busca do encontro consigo e com o outro. O PC é identificado como um palhaço formado na Oficina do Riso da UFPB, realizada anualmente pelo PalhaSUS. Conforme anunciado por Costeira (2018), constitui uma categoria de análise cuja definição é de um papel social desenvolvido a partir da criança interior dos participantes, em contato com o arquétipo do palhaço e alicerçado nos princípios e na convivência do grupo PalhaSUS, que constitui a sua placenta social ou matriz de identidade. O indivíduo, na ação desse papel, passa a constituir um protagonista de processos de cuidado e de educação, embasados pela ética da alegria, na construção de vínculos de amizade, e em prática libertadoras. O desenvolvimento do projeto e de suas ações está baseado nos princípios e aportes teórico-metodológicos do psicodrama e da educação popular, incluídos outros recursos metodológicos como meditação dinâmica, jogos teatrais, danças circulares e outros. Busca-se, com essa metodologia, um aprendizado que transcenda o cognitivo, envolvendo o corpo, as emoções e a totalidade do ser. O PalhaSUS atua há nove anos junto a instituições assistenciais parceiras, estando atualmente nos Hospitais Pe. Zé, São Vicente de Paulo, Universitário Lauro Wanderlei e na Vila Vicentina Julia Freire, instituição para idosos. A experiência aqui relatada diz respeito ao acúmulo destes anos em que o projeto vem se aperfeiçoando e despertando reflexões acerca da potência do PC no desenvolvimento do extensionista e no impacto de sua atuação nos encontros com seus interlocutores, fazendo emergir a questão da espiritualidade como dimensão essencial do ser humano. Ao longo da prática do projeto vem-se observando como o PC desperta na maioria das pessoas, mesmo em situação de forte sofrimento, uma reação de ânimo e momentos de alegria. Diante da tristeza, possibilita sua expressão e consequente alívio, pelo simples ato de expressar a dor, medo ou receio da morte em processos de adoecimento. No encontro com as pessoas em sofrimentos momentâneos, crônicos ou terminais, vislumbra-se a capacidade desse PC despertar a ressignificação do sofrimento, onde a espiritualidade se manifesta, compreendida como o contato com uma dimensão que vai além das realidades consideradas normais na vida humana (Vasconcelos, 2015). Em vários momentos se despertam as manifestações de fé e religiosidade das pessoas neste encontro. São pedidos para entoar cânticos religiosos, falas e diálogos com alusão a aspectos da religiosidade ou mesmo manifestações específicas de determinadas religiões. O contato com o numinoso é experimentado e mencionado também na solidão individual dos momentos singulares do extensionista nas vivências de desenvolvimento do seu papel de PC, quando entra em contato com sua própria subjetividade, onde se encontram suas dores e sua essência. O arquétipo do palhaço está presente ao longo da história da humanidade, como o Xamã das tribos, os pajés, que constituíam os palhaços destas culturas. Encontra-se nos limites entre o mundano e o sagrado, revelando a fragilidade humana que o transforma em herói. Carl G. Yung, de acordo com Ramalho (2009), menciona o trickster como uma imagem arquetípica do inconsciente coletivo, um herói mítico e solitário, que se efetiva na relação com o outro, portador de impulsos infantis, de natureza ambígua (animal e humana, sublime e grotesca) trazendo o aspecto infantil no adulto, o infrator de normas. O personagem Macunaíma é um exemplo deste arquétipo que está vivo em nossa cultura e dá vida ao papel do PC no encontro com a criança interior que vive em cada um dos que participam da formação de palhaços do PalhaSUS. Além do despertar pelo arquétipo do palhaço há também, neste trabalho, a dimensão do cuidado, que nos aproxima do sagrado. Considerada por Boff (2005) como uma dimensão ontológica, que entra na constituição do ser humano, à medida que se busca a prática do cuidado e do autocuidado permite-se o contato com a experiência espiritual. A compreensão da dimensão espiritual no trabalho do PC ainda é incipiente, sendo necessário desenvolver estudos com base nesta experiência. A força dos sentimentos e das experiências provocadas pelo PC o reveste de responsabilidades, sendo necessário um nível de desenvolvimento que o projeto procura alcançar através de suas atividades que devem ser sistematizadas para a possibilidade de futura expansão desta experiência.
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