29/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-36C - GT 36 - Eixo 2 – Resistimos há 519 anos”: construção de conhecimentos a partir do bem viver e a luta por direitos dos povos indígenas em contexto de violações. |
31578 - EXPERIÊNCIA DA EQUIPE DE SAÚDE DA FAMILIA INDÍGENA PARA ATENÇÃO DIFERENCIADA EM CONTEXTO URBANO: UMA (DES)CONSTRUÇÃO DIÁRIA NA METRÓPLE JULIANA GONÇALVES FIDELIS - SPDM, MARCO ANTONIO SILVA DOS SANTOS - SPDM, VIVIANE DA SILVA FREITAS - SPDM, THAIS DE SÁ COSTA - SPDM, MARIA LÍDIA DA SILVA - SPDM, KAOMA MARIA DA SILVA - SPDM
Contextualização: A etnia Pankararu originária de Pernambuco migrou para metrópole paulista a partir da década de 1940. Sua luta pela afirmação étnica remonta o final do século XIX e na década de 1990 toma corpo em São Paulo. Umas das principais conquistas deste período foi uma equipe de Estratégia de Saúde da Família indígena (ESFi) que iniciou seu funcionamento em 2004. Esta equipe tinha o objetivo de oferecer atendimento conforme as diretrizes da Política Nacional da Saúde Indígena (PNSI) que reconhece às populações indígenas do país o direito a uma atenção à saúde que respeite suas práticas tradicionais de cuidado e cura. (BRASIL, 2012). Apresenta como questões principais: o cuidado aos Pankararu que vivem em contexto urbano e preconceitos ligados à identidade indígena; desafios de um território não vinculado à gestão do DSEI e também não caracterizado exatamente na definição de território da Estratégia Saúde da Família; e cuidado intercultural. A ESFi atua na UBS Real Parque localizada na região do Morumbi, zona oeste da cidade de São Paulo e assiste a comunidade Pankararu residente no bairro. Os profissionais também são referência para Pankararu de toda área metropolitana. Descrição: A atenção diferenciada foi tema durante todo ano de 2017 para a equipe, como uma atividade de reflexão e de discussão das dificuldades do dia a dia e de projeção das ações para o futuro. Internamente na unidade há funcionários novos que desconhecem a política nacional de saúde indígena e a cultura Pankararu e há funcionários antigos que se posicionam de forma preconceituosa frente as questões indígenas do território. Nas reuniões de equipe discutimos limites da equipe frente à assistência à saúde, à articulação com a Associação Indígena Pankararu e discussões com população local não indígena e funcionários da UBS sobre direito e identidade. Período de realização: A construção das propostas iniciou Março de 2017 e segue até momento atual. Objetivo: Identificar desafios e potenciais da equipe de saúde para atenção diferenciada em saúde indígena no contexto urbano. Resultados: Implementamos os seguintes projetos a partir das reuniões de equipe: 1) Mural de informações, fotos e textos no corredor da UBS específicos para as questões indígenas, 2) Grupo de Estudo mensal da equipe em parceria com antropólogo José Maurício Arruti (UNICAMP) para discussões da mobilidade e do contexto urbano para os Pankararu, 3) Abril Indígena na UBS com apresentação de Toré, artesanato, História dos Pankararu; 4) Registro e visibilidade das rezas realizados pela Agente Indígena de Saúde “fora do horário de trabalho”; 5) Apoio à articulação das lideranças Indígenas (Associação Indígena) com Ponto de Economia Solidária da Região; 6) Organização semanal das reuniões de equipe para discussão de casos, território, indicadores de saúde e saúde mental. Aprendizados: 1) Indígenas ganham visibilidade na sala de espera, 2) Houve estudo de dissertações, testes e outros trabalhos realizados sobre os Pankararu do Real Parque e possibilidade de retorno à comunidade que nem sempre se concretiza no ambiente acadêmico; 3) Profissionais com diferentes tempo de serviço na unidade se aproximaram da cultura Pankararu. As Agentes Indígenas de Saúde sentiram-se acolhidas e integradas para além da equipe de saúde; 4) Registrar a frequência das rezas realizados pela xamã da equipe abriu diálogo na equipe, no serviço e na gestão para as práticas tradicionais; 5) O contato das lideranças com o Ponto de Economia Solidária possibilitou um canal de expressão cultural, geração de renda e identidade na região macro da UBS, 6) Olhar para o território nas reuniões revelou a mobilidade dos Pankararu entre a aldeia e as regiões metropolitanas, assim como a mobilidade do cuidado, em parceria com antropólogos do Grupo de Estudos está em construção indicadores de saúde específicos para este contexto. Análise crítica: O trabalho desenvolvido pela equipe tem aumentado a procura por estágios de Residência em Medicina da Família e Comunidade e empenhado a ampliação para cenários de formação Multiprofissional. O debate interno através das estratégias implementadas tem diminuído falas como “privilégio” dos indígenas. O projeto da equipe tem contribuído para compreender a relação aldeia/cidade/cuidado e a história de resistência dos rituais indígenas com a urbanização do território. Ferramentas utilizadas na Saúde da Família como familiograma (ou genograma) ajudam na visualização dos arranjos familiares e como as famílias se interligam. A atenção diferenciada é realizada a cada dia, não apenas com abordagem clínica, mas alinhando-se ao conceito ampliado de saúde.
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