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Grupos Temáticos

28/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-36A - GT 36 - Eixo 1 – Aprender com Dona Maria: artes e espiritualidades populares na construção do bem viver.

29749 - VERSANDO COM JOVELINAS E IVONES: É O SAMBA O DONO DO CORPO?
ADRIANA MIRANDA DE CASTRO - IFF/FIOCRUZ, CLÁUDIA BONAN - IFF/FIOCRUZ, PAULA GAUDENZI - IFF/FIOCRUZ


A cronologização da vida é íntima e fundamentalmente vinculada às transformações no processo de ordenamento moderno do socius. Com o surgimento e ascensão da burguesia, a intensificação do comércio, o crescimento das cidades e a produção da população como objeto de governo, as tecnologias de poder/ saber multiplicaram seus aparatos de normalização e controle da vida.
Tomando como suporte a materialidade dos processos biológicos, o dispositivo da idade fez-se extremamente potente na naturalização, essencialização e homogeneização de grupos etários à medida que podia costurar uma série de registros, sentidos e operações nos mais variados domínios culturais, jurídicos, biomédicos, pedagógicos e religiosos.
Estudos sobre riscos de adoecer, cronicidade, empregabilidade, seguridade social, emprego do tempo, sociabilidade, dentre outros, partindo da transição demográfica, produzem discursos sobre o que se deve ser, fazer e/ou esperar na velhice e como se preparar para ela durante toda a vida.
No âmbito da saúde, a produção do conhecimento sobre o envelhecer afirma que investe na sua compreensão como processo biopsicossocial e na defesa de que velhice não é doença. Porém, verifica-se que há centralidade na construção de evidências e estratégias que objetivam a produção de um “envelhecimento ativo”, que para ser alcançado implica a existência de um sujeito empresário de si.
Faz-se funcionar um aparato de biomedicalização da vida, que privatiza as questões relativas ao envelhecer sob a égide da vigilância do corpo e da produção de subjetividades culpabilizadas por suas escolhas, por fazer a gestão adequada ou não de fatores de risco e proteção à saúde.
Entendemos que se produz uma dicotomia entre categorias universalizantes: velho frágil/ vulnerável e velho ativo/ bem-sucedido, a qual favorece o etarismo e a expansão de um mercado consumidor de bens e serviços para manter-se sempre jovial, “não aparentando a idade que tem”. Além disso, se invisibiliza e silencia as diversas experimentações possíveis da velhice e sua potência na construção do cuidado e do bem-viver.
Seguindo noutra direção, nos reunimos a Jovelinas e Ivones – mulheres da Ala dos Cabelos Brancos do Grêmio Recreativo Escola de Samba Império Serrano -, para versar sobre que mulheres de cabelos brancos emergem no mundo do samba.
D. Ivone Lara canta: “Quando um poeta compõe mais um samba/ Ele funda outra cidade/ Lamentando a sua dor ele faz felicidade.” Assim, interessa-nos cartografar os processos de composição desses femininos, que pertencendo à velha guarda, são atravessados e emergem marcados por uma arte da resistência, da afirmação da vida como potência de criação/ reinvenção de si. Afinal, “o samba agoniza, mas não morre”.
Partindo da perspectiva de que práticas sociais instauram relações poder/saber capazes de tensionar hegemonias, mergulhamos no mundo do samba. Um mundo que emerge atrelado a modos de pensar e ser marcados pelo lugar social da população negra pós-abolição da escravatura, por estratégias de sobrevivência de sua cultura e religião e pelo papel de liderança política, cultural, econômica e religiosa das mulheres, notadamente das negras. Um mundo que é atravessado pelas diferentes maneiras como se arranjam as opressões de classe social, gênero, raça e geração. Um mundo comumente associado à malandragem, ao excesso de comes e bebes, à farra. Um mundo que ainda remete à parceria, à construção coletiva, à roda, à ala, à escola.
Assim, da observação participante das atividades da Ala dos Cabelos Brancos e de entrevistas com oito de suas mulheres com idades entre 54 e 77 anos, levantamos pistas para pensar: será que envelhecimento e saúde têm aí a mesma importância e sentido que noutros espaços e/ou extratos da sociedade? Parafraseando Muniz Sodré (1998): será o samba o dono do corpo?
Sem negar o envelhecimento nem lutar pela eterna juventude, mesmo em cenários muitas vezes inóspitos, nossas Jovelinas e Ivones criam modos de viver que falam de potência, de alegria e de amizade. Suas composições afirmam que bem-viver guarda um sentido mais amplo ou, ao menos, diferente da “simples” manutenção da capacidade funcional.
Trata-se de afirmar que produzir saúde é investir na ética da liberdade, potente na (re)criação de si na relação com o mundo e na produção do mundo. Noutras palavras, como cantam Arlindo Cruz e Sombrinha: “Sem sambar a vida é triste/ Porque no samba a vida é mais bonita [...] É no samba que a gente fica assim sorrindo/ É no samba que a gente fica resistindo”.

local do evento

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