28/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-36A - GT 36 - Eixo 1 – Aprender com Dona Maria: artes e espiritualidades populares na construção do bem viver. |
30296 - A ESPIRITUALIDADE E SUAS IMPLICAÇÕES NO CUIDADO EM SAÚDE: EXPERIÊNCIAS NA DISCIPLINA DE ANTROPOLOGIA
VINÍCIUS RODRIGUES DE OLIVEIRA - URCA, MARIA LUIZA SANTOS FERREIRA - URCA, IRENE CUSTODIA DA SILVA - URCA, JOÃO PAULO XAVIER SILVA - URCA
A espiritualidade é uma forma plural de manifestação da fé que ganha uma definição própria em diferentes culturas, porém sempre atrelada ao conceito de espírito e seu modo de se relacionar com um ser superior que dá sentido a existência humana. Sendo esta uma temática emergente na contemporaneidade, as ciências, principalmente as sociais e humanas, têm buscado compreensão desse fenômeno e suas implicações na saúde. A antropologia, por exemplo, tem dedicado uma área específica para tratar desse assunto, sendo a antropologia médica ou da saúde interessada pelo processo saúde doença sob múltiplas construções culturais e sociais. Nessa perspectiva, já não se pode falar em saúde sem pensar em seu conceito ampliado, que leva em consideração os inúmeros aspectos da vida humana. No campo da enfermagem, a espiritualidade tem disso abordada com maior atenção desde 1985 através da Teoria do Cuidado Transpessoal, proposta por Jean Watson. Essa teoria visa uma interação cliente/enfermeiro a partir de uma relação de confiança e compartilhamento de angústias, realizando ações que potencializam o processo de recuperação da saúde através do cuidado holístico, reconhecendo a dimensão espiritual do sujeito. O presente trabalho trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, embasado na prática de um estudante/monitor da disciplina de antropologia acerca da abordagem da espiritualidade durante a graduação em enfermagem na Universidade Regional do Cariri (URCA). A experiência ocorreu no mês de setembro do ano de 2018, referente ao semestre letivo 2018.2, no qual estavam regularmente matriculados 40 alunos. Objetivou-se relatar a experiência vivenciada pelo monitor da disciplina de antropologia do curso de graduação em enfermagem ao abordar a temática espiritualidade e saúde. A disciplina em questão é ofertada no primeiro semestre do curso de enfermagem da referida instituição de ensino superior e apresenta uma visão ampliada do processo saúde doença por meio de uma perspectiva antropológica, na qual destaca-se a abordagem da espiritualidade dos indivíduos. As aulas de monitoria aconteciam semanalmente com duração média de 90 minutos e eram agendadas de acordo com a disponibilidade do monitor e da turma, com a finalidade de discutir o conteúdo ministrado pelo professor. O comparecimento dos alunos se dava de maneira voluntária, porém grande parte da turma, cerca de 30 alunos, participavam dos encontros. Ao se depararem com o tema espiritualidade, muitos questionavam o motivo de estudar tais temáticas no curso de enfermagem e referiam como algo sem sentido, pois não compreendiam sua aplicabilidade na prática assistencial. Existe uma grande dificuldade por parte dos profissionais da saúde em incorporar na sua prática clínica a compreensão dos elementos espirituais, uma vez que muitos não têm consciência de como se utilizar desses elementos na sua assistência, o que resulta de uma fragilidade em sua formação. Dessa forma, o enfermeiro deixa lacunas ao desenvolver o cuidado e o usuário acaba por não receber uma assistência integral e holística nos serviços de saúde. Devido aos questionamentos dos alunos, o monitor resolveu abordar aspectos práticos nas aulas teóricas, ilustrando situações através dos casos clínicos que envolvessem a espiritualidade, instigando os participantes da monitoria a não se atentarem apenas aos aspectos biológicos. Na contemporaneidade, prega-se veementemente a desvinculação do cuidado reducionista biomédico e a inclusão de aspectos diversos no tratamento em saúde que consequentemente permitem a concretização de uma atenção integral. Assim, o monitor buscou inserir estes aspectos em suas exposições, promovendo reflexão e aprimorando o senso empático, compelindo os acadêmicos a se colocarem no lugar do usuário com suas múltiplas necessidades. O campo da espiritualidade tem ganhado força no contexto assistencial da saúde e aplica-se aos diversos momentos da realização do cuidado, seja nos níveis mais básicos aos mais complexos. Por isso, é de extrema importância que os trabalhadores da saúde, independentemente do contexto em que atuem, tenham consciência de práticas subjetivas do cuidar para que superem o modelo tecnicista e tradicional da abordagem clínica. Conclui-se que as experiências vivenciadas na monitoria da disciplina antropologia trouxe benefícios para todos os envolvidos e, consequentemente, para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde, que necessita de profissionais mais capacitados e empáticos. Percebeu-se também que, por meio da disciplina em questão, pode-se desconstruir o olhar dos graduandos voltado majoritariamente para o tecnicismo assistencial e conscientizá-los sobre perspectivas ampliadas do cuidado que abordam o ser humano de maneira integral. Por fim, considera-se a necessidade de mais diálogos sobre a temática na graduação em enfermagem, vislumbrando um caráter permanente dessa discussão na formação em saúde.
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