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Grupos Temáticos

30/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-36C - GT 36 - Eixo 3 – Sistemas de Saúde e Tradições de Cura no Brasil: descolonização de saberes e práticas emancipatórias.

30066 - A ESPERANÇA EM FORMA DE PLANTA: UM OLHAR ANTROPOLÓGICO SOBRE O USO DA CANNABIS COMO MEDICAMENTO NA CIDADE DE NATAL
IOANNA AUGUSTA COSTA DA SILVA - UFRN


As recentes modificações no status da maconha para fins medicinais no Brasil, resultados da interpretação dela como plantas medicinal e em consequência sua liberação da importação pela ANVISA desde 2014 trouxeram diversas modificações no imaginário social dessa planta, na forma de consumir como pacientes e também no direito do acesso. Esses são os três pontos que resolvi focar no presente trabalho que é resultado de minha pesquisa de monografia do ano de 2018 para conclusão do curso de ciências sociais.
A base da minha pesquisa se encontra em um grupo chamado Liga Canábica- RN, que inspirado em uma associação de nome homólogo na Paraíba começou a se articular no ano de 2017. Desde lá venho acompanhando suas mobilizações enquanto coletivo que tem como objetivo a luta pela legalização da maconha para fins medicinais, contando que para isso é necessário a mobilização de diversas áreas da sociedade civil e além de tudo políticas públicas em saúde para garantir informações e acesso de qualidade.
O grupo têm uma composição mista e transitória que reflete bastante na sua forma de articulação que em sua maioria se dá pela internet, em particular por grupos de WhatsApp. Estão no grupo cerca de 70 pessoas, entre elas pais e pacientes que fazem uso do medicamento, médicos e pesquisadores do tema, advogados especialistas e ativistas da causa, em sua maioria da cidade de Natal, mas com a presença pontual de outros estados como a Paraíba e Teresina.
A principal questão que me incentivou a pesquisa é como que as pessoas chegam a usar a maconha para fins medicinais, pois percebi que a maioria dos pacientes não eram usuários da maconha para fins recreativos e muitas vezes nem conheciam suas propriedades medicinais. Então parti pensando o caminho feito para se conhecer o “milagre da maconha” que é exemplificado em casos de doenças que não tem terapia definida ou o tratamento parece inconveniente para o paciente, e por meio de pessoas que já usam como medicamento ou outras figuras como a própria mídia que apresenta suas potencialidades i que a maconha surge como uma possibilidade, uma esperança.
A ideia da esperança é muito presente nas narrativas apresentadas pelos pacientes do grupo. Misturado com o receio pelo conhecimento da ilegalidade em que o medicamento se encontra e ainda acrescido do próprio drama social da enfermidade o processo de tratamento é de perto acompanhado por outros pais, pacientes e ‘experts’ que atuam como fonte de informação e garante a confiança na possibilidade da melhora.
Outro elemento que me saltou ao olhar durante a pesquisa foi a intercessão entre saberes tradicionais e modernos acerca da maconha. Por um lado as pessoas estavam se vinculando pela sua característica natural da planta remontando as aplicações terapêuticas tradicionais, ao mesmo tempo orientadas por uma nova medicina especializada nesses componentes. A ‘Medicina Canábica’, ainda em desenvolvimento no mundo e com pouca representatividade no Brasil, parte da descoberta do Sistema endocanabinóide que afirma a existência de um sistema do corpo humano que responde diretamente aos diferentes compostos da cannabis, que se relacionam com outros sistemas como o digestivo, o respiratório e o metabólico, por exemplo.
Essa medicina vêm ganhando grande prestígio mundialmente e trabalha em cima da identificação genética das patologias com o auxílio da tecnologia e na busca da combinação perfeita de compostos para as possíveis disfunções. São saberes como esses que são levados para os possíveis pacientes, para profissionais de saúde e instrumentalizado pelos próprios pacientes para garantir o seu direito ao uso.
Por fim, existindo a necessidade, a aplicabilidade e a eficiência do medicamento, poderíamos nos perguntar então onde estaria o problema. A principal questão que surge é como acessar esse medicamento. Pela ilegalidade no território nacional é necessário que se importe, para que se importe é preciso ter laudos médicos, para se ter laudos médicos é preciso que já exista um conhecimento sobre essas utilidade, que parece incomum na prática da medicina tradicional.
O saber tradicional se empenha então na resolução dessa questão, devido a natureza da planta da cannabis e a prática comum de produção de elementos terapêuticos a partir das planta, a solução é produzir o próprio medicamento. É a forma mais barata de se conseguir, aberta a maiores utilizações e também a maior controle de qualidade, mostrando também uma complexa forma de relacionar o paciente e o que vai ser o seu medicamento.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

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