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Grupos Temáticos

30/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-36C - GT 36 - Eixo 3 – Sistemas de Saúde e Tradições de Cura no Brasil: descolonização de saberes e práticas emancipatórias.

31467 - JORNADAS EM DANÇA: SENSIBILIZAÇÃO, PERCEPÇÃO E CONSCIÊNCIA DE SI
LUANA MARA PEREIRA - UFT


A presente experiência ocorreu no segundo semestre de 2018, durante a disciplina “Fundamentos e Metodologia do Ensino de Arte e do Movimento”, Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Tocantins – UFT, campus Tocantinópolis. Com o objetivo de fundamentar e conhecer metodologias do ensino de Arte e do Movimento, a disciplina contou com momentos teóricos e práticos. A experiência apresentada versa da parte prática, na qual optamos por vivenciar as Jornadas em Dança, desenvolvidas por Ida Mara Freire, da Universidade Federal de Santa Catarina.
Julgamos importante destacar que Tocantinópolis é um município essencialmente rural, com cerca de 22 mil habitantes, localizado na porção norte do estado do Tocantins. Embora exista a tradição de um festival anual de quadrilha junina, a presença de dança nos demais espaços públicos resumem-se a alguns poucos bares que tocam forró e aulas de zumba que acontecem em praças públicas ou academias semanalmente.
As Jornadas configuram-se como uma experiência (BONDÍA, 2004) que “envolve o corpo, a mente e o espírito, ou seja, a dança, a reflexão e a meditação. [...] Trata-se de uma experiência lúdica, prazerosa e profunda tendo em vista o bem estar proveniente do autoconhecimento” (FREIRE, 2014, p. 38). Buscam um processo de criação e composição em dança a partir do despertar os sentidos, as emoções, as sensações e novos movimentos.
Compostas por dez jornadas, objetiva tocar e despertar as memórias corporais e trabalhá-las esteticamente. Da primeira à quinta busca-se explorar o espaço vital que o corpo ocupa, visitar a ancestralidade filo e ontogenética dos corpos, despertar os sentidos e explorar os movimentos e outras sensações. Nestas jornadas, busca-se “perceber o corpo como uma dádiva: a dança como coragem de ser” (FREIRE, 2014, p.38). A sexta e a sétima voltam-se para uma sensibilização sobre o sentido da vida, os rumos que se toma nela e a possibilidade de reinventá-los. Nestas vivências “é necessária a coragem de criar” (FREIRE, 2014, p.38). Da oitava à nona, o sagrado e o feminino emergem, e a vida é celebrada: “a liberdade do voo exige a coragem de amar” (FREIRE, 2014, p.38). A última Jornada consiste nas apresentações coreográficas individuais: o corpo que conta sua vida em dança.
As jornadas iniciavam-se com uma sequência de movimentos de yôga conhecidos como “saudação ao sol”, que funcionava como uma espécie de ritual de despertar o corpo e comunicá-lo que as Jornadas estavam começando.
No início do semestre realizamos um levantamento para identificar a relação dos estudantes com a dança, e pudemos constatar a quase inexistência desta experiência corporal/estética na vida dos estudantes. Ademais, boa parte dos estudantes matriculados na referida disciplina declaram-se evangélicos, tendo alguns deles certos impeditivos relativos ao corpo e o movimento deste, portanto à dança.
Para evitar possíveis resistências, dado o perfil da turma, as primeiras Jornadas foram trabalhadas com vendas nos olhos dos participantes, para que, “livres” do medo do julgamento alheio, pudessem concentrar-se na percepção de seus próprios corpos enquanto exploravam conscientemente seus movimentos. Aos poucos, o uso da venda foi sendo suprimido e eles foram passando a enxergar uns aos outros em movimento.
Como proponente e mediadora das Jornadas, pude perceber tanto nos corpos, como nas falas, depoimentos e diários, a potência destas e o quanto elas marcaram os estudantes. Era visível não apenas o nível crescente de entrega e disponibilidade dos estudantes para os exercícios, mas o crescimento na amplitude e na complexidade dos movimentos produzidos pelos corpos dançantes.
Foram diversos depoimento que revelaram o quanto a consciência de si contribuiu para a escuta corporal e respeito do que este corpo diz. O quanto possibilita a percepção do corpo do outro com mais alteridade, respeito e cuidado. O outro como alguém que sente dores, possui sentimentos, emoções e sensações diferentes das nossas. Depoimentos de que passaram a aceitar melhor as formas dos corpos que são e dos corpos que os outros são e de que passaram a cuidar e acolher mais estes corpos também.
Percebi também uma carência de espaços e momentos de escuta corporal e até mesmo de reflexões sobre o corpo. Percebi que estes estudantes de pedagogia, futuros educadores, tinham pouca consciência somática e emocional e que, pensar sobre o corpo e praticar a conexão com seus próprios corpos foi um ganho qualitativo em suas vidas pessoais, mas também em suas vidas profissionais, tornando-os mais sensíveis à necessidade de cuidarem de sua saúde física, mental e espiritual, bem como mais sensíveis e atentos ao corpo do educando, respeitando suas dores, sentimentos e sensações. Aprendo, com esta vivência, a importância e potência de se perceber o corpo como um lugar sagrado, o corpo como templo onde nossa vida tem morada, o corpo como nós mesmos.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

Campus I - Lot. Cidade Universitaria, João Pessoa - PB, 58051-900