29/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-25C - GT 25 - Renovando Estratégias Desistitucionalizantes |
29995 - CUIDADO EM SAÚDE MENTAL NO HOSPITAL GERAL: CONCEPÇÕES DOS PROFISSIONAIS SOBRE CRISE E O SUJEITO EM SOFRIMENTO PSÍQUICO MARIÁ LANZOTTI SAMPAIO - UFBA, ANDRÉA BATISTA DE ANDRADE - UFBA, DANIELA RODRIGUES GOULART GOMES - UFBA
Introdução
A Reforma Psiquiátrica Brasileira propõe a desconstrução da estrutura teórica, prática e política acerca da experiência da loucura, que legitima um lugar de invalidação e exclusão dos sujeitos em sofrimento mental, para tecer novas relações entre loucura-sociedade e oferecer um novo local social para esses sujeitos (YASUI, 2010).
A criação da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), mediante promulgação da portaria nº 3.088, de 23 de dezembro de 2011, objetivou oferecer atendimento em meio aberto e territorializado aos sujeitos em sofrimento psíquico, consonante aos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e na tentativa de superação à desassistência em saúde mental e ao tratamento predominantemente violento e excludente (BRASIL, 2011; GOULART, 2015). Buscou-se ainda ampliar as práticas de cuidado, valorizando a inserção de diversas disciplinas e a participação dos usuários dos serviços como atores protagonistas no processo de produção de saúde (NASI; SCHNEIDER, 2011).
A nova Política Nacional de Saúde Mental de 2017 incorporou os hospitais psiquiátricos como instituições da RAPS (BRASIL, 2017), o que vai na contramão dos ideais defendidos pela Reforma Psiquiátrica e representa retrocesso aos avanços alcançados. Assim, o suporte clínico às situações de urgência/emergência em saúde mental no hospital geral é fundamental para consolidação da reforma psiquiátrica, pois contribui para deslegitimar o hospital psiquiátrico como principal responsável pelo manejo da crise e favorece tratamento integral (PAES et al, 2013).
Objetivo
Objetivou-se analisar as práticas e os significados atribuídos pelos profissionais de saúde sobre a crise e o sujeito em sofrimento psíquico em um hospital geral do sudoeste baiano.
Metodologia
Consiste em uma das análises realizadas na pesquisa intitulada “Cuidado em saúde mental no hospital geral”, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto Multidisciplinar em Saúde da Universidade Federal da Bahia, sob parecer nº 1.525.271. Trata-se de pesquisa qualitativa que utilizou entrevista semiestruturada com dez profissionais de saúde de um hospital geral do sudoeste da Bahia. Os participantes foram selecionados por amostra de conveniência e o fechamento amostral ocorreu pela técnica de saturação teórica. Utilizou-se Análise de Conteúdo para análise do material empírico e evidenciaram-se duas categorias: a) Cuidado em saúde mental baseado na concepção tradicional; b) Cuidado em saúde mental fundamentado em uma perspectiva ampliada.
Resultados e discussão
Os resultados apontaram que, apesar da emergência de uma visão integrada e ampliada sobre o cuidado em saúde metal, predominou-se uma visão estigmatizada, associando o sujeito em sofrimento psíquico à periculosidade e desrazão. A análise apontou também para um cuidado voltado primordialmente para supressão sintomática com foco na contenção física e medicamentosa e negligência de dimensões psicodinâmicas e psicossociais. Ademais, os participantes referiram que o pouco conhecimento técnico e teórico sobre saúde mental fomenta medo de atender esta população. Por fim, observou-se resistência no atendimento aos sujeitos nesta condição de sofrimento e deslegitimação das queixas de sofrimento mental o que impacta negativamente no atendimento prestado e confere, aos sujeitos atendidos, lugar de passividade ante seu sofrimento.
Considerações final
Conclui-se que há necessidade de desenvolver ações de educação permanente e espaços de discussões multiprofissionais; fortalecer polos de resistências e transformar paradigmas e práticas assistenciais, a fim de delinear novas concepções e intervenções em saúde mental no hospital geral, que rompam com a propagação da lógica manicomial e sejam consonantes aos princípios do SUS e da Reforma Psiquiátrica.
Referências
BRASIL. Rede de Atenção Psicossocial. Portaria nº3.088GM, de 26 de dezembro de 2011. Brasília: Ministério da Saúde, 2011. Disponível em: Acesso em: 27 maio. 2017.
BRASIL. Portaria n. 3.588, de 21 de dezembro de 2017. Altera as Portarias de Consolidação nº 3 e
nº 6, de 28 de setembro de 2017, para dispor sobre a Rede de Atenção Psicossocial, e dá outras
providências. Brasília, 2017. Disponível em:. Acesso em: 24 fev. 2019.
GOULART, M. S. B. A política de saúde mental mineira: rumo à consolidação. Revista Interinstitucional de Psicologia, Juiz de Fora, v. 8, n. spe, p. 194-213, 2015.
PAES, M. R. et al. O papel do hospital geral na rede de atenção à saúde mental no Brasil. Cienc. Cuid. Saúde, v.12, n.2, p.407-412, 2013.
NASI, C.; SCHNEIDER, J. F. O Centro de Atenção Psicossocial no cotidiano dos seus usuários. Rev. Esc. Enferm., USP, São Paulo, v. 45, n. 5, p.1157-1163, 2011.
YASUI, S. Rupturas e encontros: desafios da reforma psiquiátrica brasileira. 22.ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2010. 192p.
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