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28/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-25A - GT 25 - Mãos que não se soltam na tecitura da RAPS

30747 - CAMINHOS DO CUIDADO NA ATENÇÃO PSICOSSOCIAL: IMPASSES E POSSIBILIDADES PARA UMA ÉTICA DIALÓGICA
ANA PAULA PIMENTEL - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA DA FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (ENSP/FIOCRUZ), PAULO DUARTE DE CARVALHO AMARANTE - ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA DA FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (ENSP/FIOCRUZ)


O processo de Reforma Psiquiátrica busca promover novos saberes e fazeres no campo da saúde mental, especialmente para mudar as relações sociais estabelecidas com a loucura. Nessa direção, somam-se avanços, mas também grandes desafios. Um deles é superar o histórico estigma da doença mental: fenômeno relacional demarcador de desigualdades, presente na forma de perceber quem sofre mentalmente. O estigma cria e consolida uma imagem inautêntica da loucura, além de gerar um aparato normalizador, produtor de injustiças sociais e outros efeitos perversos na vida dos estigmatizados. No campo da saúde mental, a lógica estigmatizante e silenciadora é uma realidade. Embora as diretrizes que redefinem o modelo de assistência acentuem a necessidade de “escuta” às pessoas assistidas, constatamos a persistência de óbices para que o acolhimento da fala daquele que sofre a dor psíquica se efetive. Vemos que a lógica biomédica mantém o lugar hegemônico e, no atual contexto político, vem ganhando força na pesquisa e intervenção, principalmente pela via da medicalização – o que impõe uma vultuosa barreira à diretriz da “escuta” e a escolhas terapêuticas psicossociais. Na lógica medicalizante, a diferença expressa pela condição subjetiva do sujeito em sofrimento mental é entendida como sintoma da doença, que deve ser suprimido com a administração de psicofármacos para estabelecer um padrão de “normalidade”. Quando se procede dessa maneira, volta-se às práticas de silenciamento que produzem agravo à saúde física e mental. Esse quadro acena a urgência de pensar as vicissitudes da dimensão relacional do processo de cuidado.

OBJETIVOS: O objetivo desta exposição é apresentar os pressupostos teóricos de uma perspectiva ético-dialógica de trabalho em saúde mental. Refletir sobre o fortalecimento da dimensão relacional no cuidado a partir da compreensão do sujeito, sua condição de saúde e do tratamento sob a ética do diálogo.

METODOLOGIA: Trata-se de uma pesquisa qualitativa desenhada como estudo de caso, desenvolvida no curso de mestrado acadêmico em Saúde Pública (ENSP/FIOCRUZ/CAPES). Foi examinado o caso de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) visando a identificar, por meio da análise das percepções dos profissionais, elementos de impasse ou possibilidade para uma práxis ético-dialógica. A estratégia de investigação consistiu na realização de entrevistas semiestruturadas e observação participante do cotidiano institucional. Entrevistamos toda a equipe técnica do CAPS, formada por nove profissionais de nível superior e cinco profissionais de nível médio e técnico. Analisamos o material oriundo da pesquisa de campo à luz do Construcionismo Social e de estudos da linguagem (especialmente os aportes do filósofo Mikhail Bakhtin), buscando apreender como, na realidade concreta da instituição, os saberes que conformam as práticas respondiam pelo cuidado.

RESUTADOS E DISCUSSÃO:
O local de pesquisa é bastante propício para a observação dos modos de cuidar em duras realidades, repletas de conflitos e pressões diversas. O município em que se insere o CAPS do estudo apresenta o pior Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) entre os 12 municípios dessa região, bem como um dos piores IDH do país. Além disso, o serviço pesquisado fica muito próximo de locais que sediaram grandes manicômios. Desse modo, a cultura e história local se construíram expostas à lógica de entendimento e tratamento da loucura tencionada pelo paradigma manicomial. Interessou perceber como as novas formas de cuidado do modelo psicossocial se desenvolvem em contexto com tais configurações. As análises apontaram que os discursos e práticas dos profissionais apresentavam muitos aspectos afinados com pressupostos ético-dialógicos relativos aos sentidos construídos para o modo de cuidar, para as relações com o sujeito em sofrimento psíquico e para o entendimento da sua condição de saúde. Contudo, se revelaram graves dificuldades para a condução do projeto psicossocial no CAPS e no território em que se insere, como a manutenção de um funcionamento ambulatorial, a forte presença da medicalização e impasses para o estabelecimento do trabalho em rede.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Concluímos que as percepções analisadas se mostraram afinadas com pressupostos ético-dialógicos, mas as práticas concretas conflituaram com aquelas orientadas para o modelo psicossocial – contradição que pareceu ter relação com aspectos contextuais e seus efeitos na subjetividade dos profissionais, além da ação do histórico estigma da loucura. Ao tomar o campo da saúde mental como um processo social complexo, percebemos a importância de direcionar o foco de investigação para a dimensão relacional do processo de cuidado nos diferentes dispositivos da rede de atenção. A partir da análise das microtramas tecidas no dia a dia das inter-relações, podemos encontrar o fio condutor que possibilita apreender as particularidades conjunturais e desafios que o trabalho real impõe em cada contexto.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

Campus I - Lot. Cidade Universitaria, João Pessoa - PB, 58051-900