28/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-25A - GT 25 - Mãos que não se soltam na tecitura da RAPS |
31250 - SAÚDE MENTAL NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA: RELATO DE UM PROCESSO DE TRABALHO RAFAELA MACIEL DANTAS - UNIPÊ, GUSTAVO VIEIRA DIAS - UFPB
CONTEXTUALIZAÇÃO: A atenção em Saúde Mental, considerando os pressupostos da Reforma Psiquiátrica, deve ser eficiente em garantir um cuidado integral e direcionado ao resgate da autonomia das pessoas em sofrimento. Diante da atual conjuntura no campo da Saúde Mental no Brasil, onde ocorre uma política de retrocesso e inversão dos cuidados, compreender a importância da APS nesse cenário e falar sobre o processo de trabalho das equipes no cuidado às pessoas em sofrimento mental torna-se algo extremamente pertinente. Entendendo a importância de constantes reflexões que auxiliem a pensar e atuar no sentido da qualificação do cuidado, este estudo discorre sobre o processo de trabalho de uma Equipe de Saúde da Família (ESF) – em uma Unidade Básica de Saúde da cidade de João Pessoa-PB – no contexto da Saúde Mental. DESCRIÇÃO/PERÍODO DE REALIZAÇÃO: Trata-se de um estudo qualitativo, tipo relato de experiência, realizado ao longo do período de formação médica em Residência de Medicina de Família e Comunidade – março de 2017 a março de 2019. OBJETIVOS: Este trabalho tem como principais objetivos: 1) evidenciar o processo de trabalho da ESF na atenção em saúde mental; 2) propor estratégias para melhorar a atenção prestada às pessoas em sofrimento mental na APS; 3) expor os desafios para estruturar o cuidado em saúde mental na APS, tendo como base a Reforma Psiquiátrica e o princípio da integralidade do SUS. RESULTADOS: Os resultados obtidos foram a transformação gradual do processo de trabalho que acontecia de forma segregadora no atendimento às pessoas em sofrimento mental. Para isso, estratégias foram amplamente discutidas em várias reuniões de equipe, delimitando um plano no qual optou-se pela realização de modificações nas ferramentas de acolhimento e agendamento e também pela proposta de criação de um grupo terapêutico, tendo como principais finalidades a reestruturação e o fortalecimento dos cuidados em Saúde Mental. As mudanças no acolhimento e agendamento se deram principalmente na lógica de inserção dessas pessoas na dinâmica de atendimentos gerais da equipe, tentando fazê-las compreender que, na Unidade de Saúde, é possível receber o atendimento esperado e necessário, de forma eficiente, com ênfase no cuidado continuado e, principalmente, no cuidado integral. O atendimento em grupo, por sua vez, foi pensado tanto como instrumento terapêutico como complementar, na tentativa de reduzir a pressão assistencial em Saúde Mental, a qual se apresentava de forma bastante significativa. APRENDIZADOS/ANÁLISE CRÍTICA: Ao explorar o processo de trabalho, expor fragilidades, evidenciar desafios e propor estratégias de mudanças significativas, este trabalho proporciona aprendizado importante para desconstrução de conceitos e modelos de atenção que vão de encontro ao preconizado pela Reforma Psiquiátrica. Nesse sentido, ao abordar o tema da assistência em saúde mental na APS, instiga reflexões acerca das fragilidades no cuidado, considerando questões como a capacitação profissional, o cuidado integral e continuado, a comunicação e o processo de trabalho em equipe, a importância do vínculo com os usuários e a necessidade de ampliação das práticas ofertadas. Além disso, ajuda a compreender que a atenção em saúde deve ser sempre considerada passível de modificações, considerando o pressuposto da ação-reflexão, evitando ater-se a rotinas repetitivas e, muitas vezes, obsoletas, que contribuem tão somente para a cronicidade dos problemas. É nesse contexto que podemos apontar os desafios enfrentados ao longo do processo, apresentando-se exatamente como o receio da equipe em relação às mudanças e, principalmente, suas dificuldades em lidar com pessoas em sofrimento mental. Assim sendo, apesar dos avanços, ainda não foi possível perceber se as estratégias implementadas se apresentavam com força suficiente para garantir continuidade no processo, principalmente devido à alta rotatividade de profissionais médicos na equipe – considerando ser uma Unidade escola referência para a Residência, havendo mudança de profissional a cada dois anos. Portanto, é importante discutir que essa mudança deve ser cada vez mais direcionada ao pensamento e sentimento do usuário, para que ele possa compreender e ativamente se posicionar para que seu cuidado seja estabelecido na Atenção Primária, assim como preconizado pelas Políticas Nacionais em Saúde Mental.
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