28/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-25A - GT 25 - Mãos que não se soltam na tecitura da RAPS |
31253 - PERFIL DA DEMANDA PARA PSICOLOGIA NA ATENÇÃO BÁSICA
BÁRBARA PALOMA MARQUES DE LUNA - FIOCRUZ, RUBENILDA MARIA ROSINHA BARBOSA - UFPE, MARIA ANGÉLICA BEZERRA DE OLIVEIRA - PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE
A criação do Sistema Único de Saúde redirecionou o modelo de atenção à saúde no país ao priorizar a Atenção Primária, especialmente através da Estratégia de Saúde da Família. Com o intuito de ampliar sua abrangência e resolutividade, foram criados os Núcleos de Apoio à Saúde da Família. Definida como uma das áreas estratégicas do NASF, a atenção em saúde mental na Atenção Básica visa proporcionar qualidade da atenção, redução de exames dispensáveis e tratamentos não indicados, e evitar a sobrecarga nos serviços especializados com casos de menor complexidade. Pesquisas apontam que cerca de 30% dos usuários na Atenção Primária apresentam alguma demanda em saúde mental. Dentre os casos que costumam surgir no cotidiano das equipes de saúde estão os chamados Transtornos Mentais Comuns: casos que apresentam sintomas, como insônia, fadiga, sintomas depressivos, dificuldade de concentração e queixas somáticas. O estudo teve como objetivo principal descrever o perfil da demanda para Psicologia dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família, através do levantamento dos casos encaminhados para Psicologia do NASF no período investigado, da descrição do perfil sociodemográfico dos usuários e da categorização da demanda para acompanhamento psicológico no NASF. Foi utilizado o método de pesquisa quantitativa, descritiva, a partir de pesquisa documental em fonte de dados secundários. Foram analisados registros no período de julho de 2016 a junho de 2017, no Distrito Sanitário IV, na cidade do Recife, Pernambuco. A investigação se deu em dois momentos: coleta dos dados dos casos compartilhados com o NASF para intervenção das psicólogas, através das fichas de compartilhamento de casos (instrumento municipal de registro utilizado pelas equipes) e coleta das informações sociodemográficas nas fichas A (utilizada para cadastramento das famílias). Os dados coletados foram registrados e, posteriormente, digitados no Microsoft Office Excel 2007 para verificação das frequências e análise dos resultados. O perfil da população foi predominantemente feminina, negra, infantojuvenil, com ensino fundamental, estudantes e excluídos do mercado formal de trabalho. As principais demandas foram transtornos depressivos (28,5%), conflitos conjugais e familiares (25,4%), demandas escolares e transtornos do neurodesenvolvimento (21,3%), e transtornos de ansiedade (16%). Outra importante demanda diz respeito aos casos de violência (10,5%), dos quais metade foram autolesões, ideações e tentativas de suicídio. O tipo de intervenção solicitada foi principalmente individual (78%). Os resultados revelaram a predominância de transtornos mentais comuns e a relação entre sofrimento mental e vulnerabilidades sociais. Destacamos também o cenário preocupante de possível medicalização da infância e biologização dos processos escolares. Sobre as demandas de violências sofridas por alguns usuários, a variável sexo/gênero apresenta-se como marcador que define a exposição desigual de mulheres e homens enquanto vítimas da violência no contexto familiar. A complexidade desses casos constitui um desafio para a APS e reforça a importância do trabalho compartilhado, multi/interprofissional e em rede, para o qual o NASF contribui ampliando os conhecimentos e possibilidades de atenção/cuidado. Ações em atenção psicossocial são uma das principais demandas da APS atualmente. Casos complexos e demandas crescentes desafiam os profissionais da atenção básica, de modo que o conhecimento da Psicologia aliado à ferramenta do apoio matricial contribui para que as equipes de Saúde da Família possam reconhecer necessidades em saúde mental, superar preconceitos, conhecer estratégias de abordagens e construir vínculos para efetivar o cuidado. Reforçamos a importância de conhecer o perfil das demandas para determinar a dimensão das necessidades em saúde mental para Psicologia na Atenção Primária, fundamentais na proposição de políticas públicas e qualificação do cuidado.
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