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Grupos Temáticos

29/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-25B - GT 25 - Formação para o Cuidado em Liberdade

29220 - ACESSO DE PESSOAS SURDAS A SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL
BRUNA ROMANO GOMES - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ, OCTAVIO DOMONT DE SERPA JUNIOR - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ


Trata-se de um recorte de pesquisa realizada para obtenção do grau de mestre em Atenção Psicossocial, partindo de inquietações minhas a partir de dois contextos de trabalho diferentes: um na saúde mental e outro com pessoas surdas. Meu olhar está aqui dirigido ao surdo como alguém que em relação em um mundo que majoritariamente utiliza uma língua que pouco lhe diz ou possibilita dizer, coloca-o em situação de desvantagem. A depender do contato que o surdo tem com uma outra língua – a Libras - e das operações que essa língua realiza em sua subjetividade, a Libras pode ser entendida como constituidora de signos, afetos e experiência, ou seja, uma marca de territorialidade, criando ou minando possibilidades de acesso e circulação para o surdo. O acesso, por sua vez é compreendido como a viabilidade de chegada ao serviço bem como de construção/tradução de demandas ao serviço e de formas de cuidar que dialoguem com as necessidades apresentadas por aquele que demanda algo ao serviço. O serviço escolhido para a realização da pesquisa foi o Centro de Atenção Psicossocial – CAPS serviços de caráter aberto e territorial que se propõem a cuidar das pessoas em sofrimento psíquico em seu contexto de vida, sem afastá-la de sua comunidade ou de sua família. O trabalho nos CAPS deve dar-se de maneira interdisciplinar e as ações de cuidado devem ser organizadas em torno do usuário, tecendo as possibilidades de cuidado em torno da necessidade que o usuário apresenta. Partindo das ideias até aqui apresentadas este estudo teve como objetivo investigar o acesso e formas de cuidados à pessoas surdas que chegam à serviços de saúde mental, considerando que não se utilizam da mesma língua falada pelo profissional que o atende, o português. A pesquisa foi realizada através de Estudo de Casos Múltiplos em Centros de Atenção Psicossocial no município do Rio de Janeiro, através de consulta a prontuários, observação e entrevistas com os profissionais para elaboração dos casos. A análise deu-se a incialmente com a descrição dos casos através das fontes convergentes de informação, seguidas da releitura balizada pelo referencial teórico utilizado. A partir da releitura ficou evidente que os caminhos percorridos pelos usuários para conseguir o tratamento em saúde mental foram bastante diversos, mas em nenhumas das situações ocorreu por demanda espontânea ou por demanda da família, sendo todos eles encaminhados por algum outro serviço (hospital psiquiátrico, clínica da família, ambulatório), demonstrando que a garantia de acesso a serviços de saúde mental não se dá deslocada da garantia de acesso a toda uma rede de serviços (como clínica da família, escola, hospital geral, CRAS etc) que além de poderem auxiliar na identificação de uma demanda para atendimento em saúde mental, contribuirão para a construção de um cuidado integral a essa pessoa. Ou seja, quanto mais se acessa mais se tem possibilidades de acessar. Destacou-se também durante a análise dos dados que as dificuldades já encontradas pela população em geral, associadas à falta de uma língua em comum, torna ainda mais complexo o caminho que o surdo precisa percorrer para acessar os cuidados de um serviço de saúde mental, sendo a surdez um fator a mais a ser considerado quando se pensa o acesso dessa população. Os arranjos únicos que cada caso traz de tantos fatores - rede de suporte, acesso a língua, acesso à educação, condições sociais, culturais, econômicas – fazem com que os serviços precisem se redesenhar, para que seja possível receber cada um desses usuários, a seu modo. Assim, para que os CAPS sejam serviços acessíveis, é de grande importância a garantia de que estes sejam espaços democráticos, onde o usuário possa estar e participar, considerando as diferentes formas de participação e comunicação possam se dar. Para tanto, os CAPS precisam estar abertos a potência criativa e inventiva, tanto de seus profissionais quanto de seus usuários, que estão frequentemente buscando rearranjos que tornem possível sua existência e circulação no mundo. Nesse sentido, foram identificadas pelos profissionais uma grande diversidade de formas de o usuário dizer de si e de suas necessidades nos serviços - Libras, aplicativo, escrita, uso de objetos, massagem, tatuagem, música, grito, expressão facial. Falada inúmeras vezes pelos entrevistados as palavras invenção/ reinventar-se aparecem como uma marca de que é na sutileza da disponibilidade de se reconstruir a partir do encontro com o outro que opera o acesso. Desta maneira, concluiu-se que a língua em si não oferece barreira, mas quando em relação com uma rede pouco permeável a diferença linguística e com longo histórico de barreiras ao longo da vida do usuário surdo, opera como mais um fator a dificultar o acesso e cuidados a serviços de saúde mental.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

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