29/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-25B - GT 25 - Formação para o Cuidado em Liberdade |
30921 - PROJETO MEMÓRIA DA SAÚDE MENTAL EM GOIÁS
LARISSSA ARBUÉS CARNEIRO - UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS, LARA PELHUS GOMES CLAUDINO - COLETIVO DESENCUCA, PAOLA GOMES - UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS, HELOÍZA HELENA MENDONÇA MASSANARO - FÓRUM GOIANO DE SAÚDE MENTAL, ADELINO ADILSON DE CARVALHO - UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
Historicamente a saúde mental centrada no modelo manicomial resultou na exclusão social, estigmatização e violação de direitos humanos das pessoas com sofrimento mental, que fazem uso de drogas ou que simplesmente não se adequam à normatividade.
Nos últimos três anos a configuração política mais conservadora, colocou em risco a construção da rede de saúde mental territorial e com ofertas diversificadas de serviços e que vinha sendo construída a duras penas, para um modelo que retoma a internação como centralidade no tratamento, ou seja, o retorno à lógica higienista, de exclusão e do tratamento limitado ao modelo de internação.
Em meio a este contexto, militantes da luta antimanicomial, que ocupam diferentes espaços, elaborou o Projeto “Memória da Saúde Mental em Goiás”. Trata-se de um projeto de extensão que visa se configurar como um espaço de interlocução, sistematização e visibilidade da memória da saúde mental no estado de Goiás.
O projeto iniciou em fevereiro de 2019 e possui coordenação do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva e do Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás, do Fórum Goiano de Saúde Mental e do Coletivo Desencuca. O coletivo gestor está comprometido com os princípios da Luta Antimanicomial, que orienta-se pelo cuidado em liberdade e pela promoção de direitos, autonomia e cidadania na saúde mental, assim como, com os princípios da nova museologia, que incorpora a utilização do poder da memória para redução das injustiças e desigualdades sociais, o combate aos preconceitos e o fortalecimento da dignidade e da coesão social.
Para a execução do projeto foram organizados três eixos de ação:
Eixo 1: Conservação, guarda e apoio à salvaguarda de documentos históricos da Saúde Mental em Goiás.
- Contato com instituições, profissionais, familiares e usuários dos serviços de saúde mental, visando o acesso e guarda temporária de documentos que auxiliem na sistematização da memória da saúde mental no estado. Tratamento da documentação para conservação, guarda virtual de documentos históricos da Saúde Mental em Goiás.
Eixo 2: Visibilidade da memória da saúde mental no estado de Goiás
- Criação do “Museu Virtual da Saúde Mental”: Curadoria das produções artísticas e documentos históricos da Saúde Mental em Goiás com posterior digitalização e publicação online desses documentos, fornecendo material para pesquisas nas áreas afins. E organização de exposições temporárias e periódicas no Museu Antropológico.
Eixo 3: Formação, educação e produção e divulgação acadêmica
- Sistematização da história da Luta Antimanicomial e da Reforma Psiquiátrica em Goiás, com estímulo ao registro escrito, produção e publicação de textos na temática. Publicação com o registro histórico da Saúde Mental em Goiás, edição de comemoração de 25 anos de Luta Antimanicomial no estado. Promoção de ações e eventos a fim de estimular a pesquisa e contribuir com a divulgação e comunicação dos produtos do projeto à comunidade.
A ação inicial do projeto deu-se no mês de maio de 2019, no qual se comemora o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, no dia 18, e também a Semana Nacional dos Museus. Realizou-se uma exposição/instalação no Museu Antropológico, com o nome “É covardia deixar retroceder! Cuidado em liberdade, na luta eu vou viver!”. A estética foi composta por objetos diversos e fotos e vídeo, que retratavam internos do Hospital Psiquiátrico Adauto Botelho (localizado em Goiânia) alguns anos antes do seu fechamento, ocorrido no ano de 1997. Além disso, um mural interativo no qual os visitantes eram provocados a responderem a duas perguntas: “O que é manicômio para você” e “O que você pode fazer para transformá-lo”.
Na primeira semana a exposição já havia recebido cerca de uma centena de visitantes, sendo positivamente avaliada pelo público. Nela, os visitantes também foram chamados a contribuir com o Museu Virtual, enviando registros fotográficos, vídeos, documentos e textos que representem parte da história da saúde mental no Estado e das pessoas que dela foram/são atores. Foi um momento importante para o coletivo gestor do projeto perceber o tamanho da sua potencialidade.
É um projeto de vida longa, que pretende proporcionar visibilidade, fortalecimento e potencializar a voz dos usuários dos serviços de saúde mental no estado de Goiás. Além disso, beneficiar a sociedade goiana e comunidade acadêmica, promovendo a mobilização social, educação, informação, articulação de diferentes pessoas e entidades, sistematização e acesso à conteúdos da história e da organização da saúde mental no estado de Goiás, de modo que todos possam olhar para as "atrocidades" do passado e sejam agentes de transformação e de promoção de cuidado e direitos das pessoas com demandas de saúde mental. Em tempos de retrocessos na política pública de saúde mental, nos vemos em absoluta consonância com um dos lemas da Luta Antimanicomial no Brasil “Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça: por uma sociedade sem manicômios”.
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