28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-26A - GT 26 - Gênero, Controle, Aprimoramento e Subjetividades |
30819 - VACINAR OU NÃO VACINAR: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA SOBRE VACINA, IMUNIZAÇÃO E MULHERES GRÁVIDAS E PUÉRPERAS REGINA YOSHIE MATSUE - UNIFESP, RAQUEL LITTÉRIO BASTOS - UFPB, CAROLINA PAES DE BARROS - CEALAG, CÁSSIO SILVEIRA - SANTA CASA/UNIFESP
A vacinação ou imunização se tornou uma prática consagrada na Saúde Pública brasileira e mundial ao longo das últimas décadas. Contudo, a sua história, nos diversos países e continentes revela múltiplas facetas e contrastes que remetem a questões, de cunho sociocultural e econômico, mais amplas. O contexto brasileiro apresenta especificidade por contar com o Programa Nacional de Imunização (PNI), criado em 1973, que se tornou uma das políticas públicas mais “exitosas”, por fornecer de forma universal e gratuita um extenso conjunto de vacinas à população. Pesquisas sugerem que, no decorrer das últimas quatro décadas ocorreu, no Brasil, a implantação de uma "cultura de imunização", ultrapassando a perspectiva biomédica e da Saúde Pública. Tal cultura penetrou de modo incisivo no universo familiar, atingindo grande parte da população brasileira pela sua efetividade, extensão e expansão. Tal pressuposto, entretanto, deve ser repensado em toda a sua complexidade. Ao abordarmos o caso do Brasil, devemos levar em consideração as particularidades e características regionais da população; a questão das diversidades sociocultural e desigualdades socioeconômicas. Apesar do relativo sucesso das vacinas e dos programas de imunização mundial e nacional, recentemente, estudos vêm chamando a atenção que a cobertura vacinal no mundo e no Brasil vem sofrendo oscilações e quedas. Em contraponto aos avanços em saúde atribuídos à vacinação e sua legitimidade pela população mais ampla, a cobertura vacinal no país, considerada modelo, caiu significativamente nos últimos dois anos. Tendo em vista este cenário, este artigo mostra os resultados preliminares de um estudo de revisão sistemática de pesquisas sobre a temática: Percepções de mulheres gestantes e puérperas sobre vacinas e imunização no Brasil e no mundo, buscando perceber quais os motivos que podem levar estas mulheres a se vacinarem ou não. A busca dos estudos foi realizada de forma ampla através da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline), Journal Storage (JSTOR), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs) e Scientific Eletronic Library Online (SciELO). A busca foi realizada a partir dos descritores vacina, gravidez ou gestante, puerpério ou pós-parto e as respectivas traduções em inglês, sendo que no cruzamento das palavras foi adotada a expressão AND. Ressalta que o intervalo de busca foi delimitado entre os anos 2000 a 2019. Os critérios de inclusão foram: artigos e trabalhos resultados de pesquisas ou discussões acadêmicas originais; disponibilizados online; nos idiomas português, inglês ou espanhol; com definição do método, cenário do estudo, população estudada, apresentação consistente dos resultados encontrados. Os motivos apontados por pesquisadores são variados; desde a percepção enganosa por parte da população de que não é preciso vacinar porque as doenças desapareceram, o desconhecimento sobre o calendário da vacinação, a ideia e desconfiança de que as vacinas são perigosas, causam efeitos colaterais e danos irreversíveis à saúde e maior visibilidade dos efeitos adversos das vacinas, a sensação de controle e a ampliação das informações em saúde via internet, proporcionam visões negativas ou falseadas sobre a vacinação. Estas tendências emergiram em estudos realizados por pesquisadores nacionais e internacionais. No Brasil estudos com famílias de maior nível socioeconômico e escolaridade mostraram as menores taxas de vacinação. Segundos tais estudos algumas famílias de alta renda e escolaridade em centros urbanos estão optando pela não vacinação problematizando esta intervenção. Nas duas últimas décadas, estudos desenvolvidos nos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Austrália encontraram questões relacionadas à epidemiologia das doenças imunopreveníveis, ao mecanismo de ação e composição das vacinas, à seguridade e crítica à política pública e ao interesse financeiro. Em contrapartida, alguns especialistas apontam a questão da comunicação e da educação em saúde como fortes aliados das estratégias de vacinação. As campanhas de vacinação têm efeito positivo sobre a população que demonstra receptividade ao chamamento público e confiança nas orientações divulgadas. Ideias equivocadas divulgadas pela mídia aliada à baixa escolaridade da população e o não domínio de conhecimento científico básico obscurecem a clareza de discernimento e a tomada de decisão sobre as vacinas. Conclui-se que a função da comunicação pelo profissional de saúde é crucial no esclarecimento e orientações das mulheres sobre as vacinas e as campanhas de vacinação são estratégias importantes. O problema que muitas epidemias e campanhas de vacinação no Brasil têm acontecido em meio a uma crise do Estado, o que dificulta campanhas mais efetivas que atendam as diversas expectativas e necessidades da população brasileira como um todo.
|

|