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Grupos Temáticos

29/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-26B - GT 26 - Tecnologias, Programas e Serviços de Saúde

30775 - FORMAS DE USO DO PRONTUÁRIO ELETRÔNICO E A INTEGRALIDADE NO CUIDADO EM SAÚDE: PREOCUPAÇÕES OPORTUNAS
ANGELICA FERREIRA FONSECA - EPSJV/ FIOCRUZ, MARCIA VALÉRIA GUIMARAES CARDOSO MOROSINI - EPSJV/FIOCRUZ


O objetivo do trabalho é refletir criticamente sobre a incorporação de tecnologias de informação no cotidiano do trabalho em saúde, especialmente os prontuários eletrônicos. Admitimos que esta incorporação coloca-nos na confluência de questões que carregam fortes tensões, a saber: autonomia profissional, a qualidade da atenção na perspectiva da integralidade e interesses do complexo industrial da saúde
Argumentamos sobre a pertinência em dar destaque à produção e consumo de softwares dentre o conjunto de elementos que compõe as bases tecnológicas que mediam,em diversos níveis a atenção à saúde, e que integram a dinâmica de interesses de mercado deste campo. Atualmente existe uma forte vertente de produção e oferta de amplo leque de mercadorias na interface entre saúde e informatização, que incluem grandes sistemas, cursos e consultas online e aplicativos destinados a apoiar processos diagnósticos e terapêuticos, de uso profissional ou pessoal. No Brasil os estudos de Ricardo Bruno, desde 1980, contribuíram para que o trabalho em saúde foi destituído de sua aura de neutralidade passando a ser pensado como condicionado por relações de produção, cabendo às tecnologias um importante papel em suaa configuração. Desde então, acompanhamos a crescente consolidação de linhas de investigação que analisam as relações entre o Complexo econômico e industrial da saúde (CEIS) e os serviços. Dentre os elementos que compõe os subsistemas desse complexo, componentes como fármacos, insumos e equipamentos, movimentam uma indústria cujo volume de recursos é tão expressivo que concentram os esforços de investigação.
Defendemos que preocupações já assinaladas no âmbito do CEIS devem ser igualmente dirigidas aos processos de informatização que atravessam o cotidiano, impactando a dinâmica de trabalho e o modelo de cuidado. A aceitação dos prontuários eletrônicos, instrumentos crescentemente presentes na atenção primaria, fundamenta-se na ideia, internacionalmente difundida de que elevam a qualidade do cuidado e diminuem os erros. Posto nesses termos, os prontuários eletrônicos passam a ser visto como essencialmente virtuosos, perspectiva que colocamos em discussão.
Metodologia : Perguntas formuladas por Souza (2016) merecem resgate: que valores e interesses estão incorporados às atuais tecnologias? Em que grau tecnologias “contribuem para reduzir a autonomia da pessoa que as utiliza? O autor referia-se aos pacientes, mas acrescentamos os profissionais.
Tendo como cenário a atenção primaria em saúde, propomos a seguinte indagação: de que forma o uso do prontuário eletrônico tem favorecido a integralidade do cuidado? De que modo estabelecem hierarquias para a relação entre o trabalhador o usuário? Como interfere na interação subjetiva, dimensão menos adaptável aos esquemas de registro desses prontuários? Por quais vias podem se efetivar como instrumento de controle do trabalho/tempo?
Destacamos dois trabalhadores da APS como sujeitos que, em graus diferentes vivenciam alterações do seu trabalho em virtude dos efeitos do uso dos prontuários eletrônicos: os agentes comunitários de saúde e os médicos.
Os resultados já disponíveis são sobre observações e entrevistas com ACS, feitas em 2016, com trabalhadores de uma clinica da família do Rio de Janeiro, que utilizavam prontuário eletrônico (produzido pelo setor privado). Os resultados demonstram que ao conjugar a intensificação do trabalho, decorrente da redução do tempo disponível para as atividades, com o direcionamento dado pelo propósito de alimentar esses sistemas, a relação entre ACS e usuário torna-se mais utilitarista e focalizada na coleta de dados; são relegados ao segundo plano componentes do ambiente social /familiar que apenas sumária e descritivamente são considerados nesses sistemas; os trabalhadores, particularmente os mais recentes na ESF e com pouca qualificação específica para o trabalho de ACS acabam por restringir-se ao propósitos indicados por esses instrumentos, mais especificamente à coleta de dados para preenchê-los. É estabelecido um controle do trabalho, no qual o trabalho realizado é entendido como equivalente do registrado, subdimensionando o empenho do ACS e gerando maior pressão por volume de atividades. Os relatórios extraídos destes prontuários eletrônicos são, mesmo nos níveis de gestão mais próximo das equipes, elementos privilegiados para a reorientação do trabalho, ocupando lugar central e não, como se desejaria,provocando e subsidiando discussões que se conectam com os desafios da experiência prática e dos valores que conformam uma ética do cuidado. Isso pode impulsionar uma inversão hierárquica dos componentes que potencializam o dialogo e o trabalho em equipe, essenciais para alcance de melhores níveis de integralidade no cuidado.

Souza, Luis Eugenio P.F. (2016). Saúde, desenvolvimento e inovação: uma contribuição da teoria crítica da tecnologia ao debate. CSP, 32(Suppl. 2), e00029615.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

Campus I - Lot. Cidade Universitaria, João Pessoa - PB, 58051-900