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Grupos Temáticos

30/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-26C - GT 26 - Biografia, Efeitos e Éticas de Tecnologias de Saúde: da Produção à Publicização

29965 - BIOTECNOLOGIAS E LABORATÓRIOS DE HABILIDADES MÉDICAS: CORPOS NÃO HUMANOS EDUCANDO CORPOS HUMANOS.
RAQUEL LITTÉRIO DE BASTOS - FMB UNESP BOTUCATU, CRISTIANE SPADACIO - UNICAMP, REGINA MATSUE - UNIFESP SÃO PAULO


O resumo apresenta os resultados parciais de uma pesquisa maior de pós-doutoramento realizado na Faculdade de Medicina na Unesp de Botucatu, iniciada em 2018, intitulada “Corpos educando Corpos: biotecnologias e modulações do self na formação médica”. A pesquisa é uma etnografia multissituada em dois LabHab (Laboratório de Habilidades), em duas universidades públicas: a FMB (Faculdade de Medicina de Botucatu) na Unesp, no interior do Estado de São Paulo e a EMCM (Escola Multicampi de Ciências Médicas) na UFRN, na cidade de Caícó, no Seridó do Rio Grande do Norte. O objetivo da pesquisa é descrever a interação entre 3 coisas: 01. As tecnologias no espaço destinado a educação do treino de habilidades e 02. Os estudantes e egressos dos cursos de medicina e 03. (Observando) as possíveis alterações no self presentes nesta relação e compreendendo que este contato é produtor de saberes relativos aos corpos, o que constitui interesse na Saúde Coletiva e nas Ciências Sociais no campo da Ciência e da Tecnologia em saúde. Especificamente, na oportunidade do evento, apresento os resultados da historicização do treino das habilidades na formação médica no curso de medicina da Unesp de Botucatu, por meio das memórias e relatos dos interlocutores da etnografia: egressos que concluíram a graduação nas décadas de 1980, 1990, 2000 e 2010. Os dez médicos que decidiram participar da pesquisa foram entrevistados, pessoalmente e por Skype, durante os três primeiros meses de 2019. No diálogo elenquei temas sobre o contato com os corpos humanos e o treino de habilidades, os aspectos éticos e antiéticos que haviam presenciado nas oportunidades de treino, o enfrentamento da morte na rotina hospitalar e a interação com as novas tecnologias educacionais oferecidas no LabHab. Como resultado, apresento e problematizo as narrativas dos interlocutores e suas percepções sobres os valores éticos de uma formação cindida, no tempo-espaço, e modelos educacionais; as narrativas sobre as técnicas corporais na interação com os pacientes no momento do treino das habilidades invasivas, antes e depois das biotecnologias dos laboratórios nas universidades; e as interações entre corpos humanos com essas biotecnologias educacionais. As considerações provisórias desvelam que essas biotecnologias utilizadas na educação médica são compreendidas como uma fonte de tensão entre os médicos formados antes da década de 2000, elevando o apreço pelo paradigma do aprendizado realizado em corpos humanos no cotidiano hospitalar. Isso, mesmo com as lembranças das posturas antiéticas dos colegas durante a formação e no treino abusivo das habilidades em pacientes e cadáveres. Para esses interlocutores os profissionais de saúde estão divididos moralmente entre os “médicos de trincheira” - mais humanizados porque já viveram a experiência da morte, onde se necessita segurar a mão do paciente até que ele se vá, e os “médicos de laboratório” que, por mais bem treinados que se apresentem ao mercado de trabalho, desconhecem a realidade hospitalar com a profundidade necessária à alteridade exigida para a profissão. Negociando valores éticos e status de um médico humanizado, estão os egressos formados a partir da década de 2000. Esses médicos defendem uma educação híbrida onde o treino das habilidades ocorrera primeiro nos laboratórios e somente depois nos pacientes hospitalizados, justificando a aquisição de mais tecnologias para o treino das habilidades. Contudo, a descrição da rotina do LabHab da Unesp de Botucatu demonstra um desprestígio pela maior parte dos docentes, médicos de trincheira ou não. Entre os poucos interessados em utilizar o espaço reservado para o aprendizado por meio das biotecnologias, surge outro relevante aspecto, o despreparo para interagir com os corpos não humanos para educar corpos humanos. Apesar dos interlocutores considerarem os avanços das biotecnologias no aprendizado das habilidades um recurso necessário, o paradigma de aprendizado da prática situada primeiro nos corpos dos pacientes ainda é bastante resistente e evidente. A ética, tão evocada para justificar o alto financiamento destas sofisticadas biotecnologias desaparece nos relatos sobre o momento da manipulação dos corpos humanos nos hospitais, e se situa mais no campo do consentimento e da explicação dos procedimentos ao paciente do que no acerto ou erro da técnica. No laboratório da FMB, o espaço é tão realisticamente montado para o treino das habilidades que chega a ultrapassar a realidade desejada nos hospitais públicos no Brasil, em termo de recursos e instrumentos. Mas tal realismo parece mais focado no treino das habilidades objetivando os exames disciplinares e os concursos de residência, do que para prepara-los para uma rotina hospitalar ética. A função do LabHab aparece ainda de forma borrada, articulando interesses econômicos, políticos e sociais, ainda nebulosa na investigação.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

Campus I - Lot. Cidade Universitaria, João Pessoa - PB, 58051-900