28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-28B - GT 28 - Saúde, Currículo, Formação: Experiências, Vivências, Aprendizados e Resistência Sobre Raça, Etnia, Gênero e Seus (Des)Afetos: Políticas Públicas e Intersetorialidade |
30655 - SITUAÇÃO DE MORADIA E SAÚDE DOS BOLIVIANOS RESIDENTES NO CENTRO DE SÃO PAULO. MARIA CECÍLIA LEITE DE MORAES - UFBA, FELIPE ABRAHÃO - UNASP
Situação de moradia e saúde dos bolivianos residentes no centro de São Paulo.
Introdução: Os primeiros fluxos de bolivianos surgem a partir de um acordo bilateral para intercâmbio cultural em 1958. Os processos ditatoriais, nos dois países, na década de 1960 contribuíram para o arrefecimento da imigração. A retomada acontece nos anos 80, quando os bolivianos chegam para trabalhar na área de vestuário capitaneada por imigrantes coreanos. A face boliviana se consolida em São Paulo, porém nem sempre a inserção é fácil e feliz; às vezes, são precárias, as condições de estar e viver. Muitos residem e trabalham no mesmo local, o qual não oferece proteção à vida e desempenho do trabalho. A conjuntura é tão contundente que alcançou mídia e público. Ainda, há a vida extratrabalho, onde imigrantes sub-remunerados, que conseguem escapar de situações análogas à escravidão têm que experimentar. Objetivos: conhecer as condições de moradia e, estado de saúde de homens imigrantes bolivianos residentes na região central de São Paulo; caracterizar as condições de cuidado da moradia; discriminar os problemas de saúde encontrados. Método: Tratou-se de um estudo descritivo quanti-qualitativo de corte transversal. Foi elaborado um instrumental constituído por duas secções: um questionário e uma entrevista. O questionário contemplou variáveis demográficas (idade, escolaridade, cor declarada, função) e, condições da moradia. A entrevista levantou a situação da habitação, o cenário da moradia e, o estado de saúde dos sujeitos. O universo amostral foi formado por 50 homens. As entrevistas aconteceram no: Grêmio de Bolivianos, Feira da Kantuta e Igreja Adventista da Comunidade Hispana, entre os meses de março e agosto de 2018. As respostas abertas foram analisadas por meio do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). O relato de cada participante permite agregar relatos similares, os quais possuem um arcabouço denominado ideia central (IC). Os discursos são elaborados com os argumentos da IC de cada respondente, formando um encadeamento, daí a denominação DSC. A pesquisa foi aprovada pelo CEP do UNASP- São Paulo (nº 2.333.355). Resultados: Perfil dos entrevistados: 58% entre 20-30 anos; 88% cursaram ensino médio; 56% declaram-se brancos, 56% trabalham no setor de vestuários. Condições da moradia: 100% utilizam banheiros internos ao domicílio; 98% possuem geladeiras, 96% das casas possuem tanques distintos de pias. Situação da habitação: 98% vivem em residências coletivas, 96% dormem em quartos coletivos, 98% utilizam cozinhas coletivas. Principais DSC - Cenário da moradia: “Quem realiza a limpeza da casa são as mulheres da família. Ou seja minha mãe, esposa e filha.” (36%); Estado de saúde 74% já ficaram doentes: “Tenho gastrite, queimação na barriga, queimação no estomago, sei lá dor na barriga, principalmente quando como um pouco muito.” Discussão: O perfil demográfico destaca a presença de jovens com pouca escolaridade. A complexidade do tema cor contribui para que o indivíduo se coloque dentro de um grupo em que seja mais aceito, mesmo que não seja real. O trabalho no setor têxtil associa-se com a “sugestão” de bons salários e, a possibilidade real do emprego, motivo da aceitação, são os indocumentados e subalternos urbanos. As respostas mostram as moradias em condições de habitabilidade. A situação de moradia pontua uma vivência coletiva, marca do nascimento de um novo proletariado. Os cuidados da moradia são realizados pelas mulheres, evidenciando a tarefa como feminina. Grande parte dos respondentes mencionam ter ficado doentes, as indisposições estomacais apareceram com maior frequência. Estudos associam o quadro com a dieta nativa, onde o excesso de carboidratos e pimentas é uma constante; tal ingesta remete aos hábitos originais. Evidencia-se que as condições de cuidados na manipulação e higiene dos alimentos não se descolam da situação. Considerações finais: Dar voz aos imigrantes possibilitou conhecer a realidade segundo a ótica dos próprios. Eles reconhecem a inadequação das condições de moradia, entretanto pela situação vigente, nada podem fazer. O estado que recebe não acolhe, mesmo distinguindo a conjuntura. São necessárias novas oitivas para pensar em projetos e ações possíveis à mudança do contexto, assim este estudo se encerra, apenas, como parte de um trabalho.
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