29/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-28C - GT 28 - Saúde, Currículo, Formação: Experiências, Vivências, Aprendizados e Resistência Sobre Raça, Etnia, Gênero e Seus (Des)Afetos: Formação |
30214 - VIVÊNCIAS E APRENDIZADOS DE GRADUANDOS DE UM GRUPO DE PESQUISA SOBRE DOENÇA FALCIFORME E A (DESIN)FORMAÇÃO NA TEMÁTICA SAÚDE DA POPULAÇÃO NEGRA. MARCIA PEREIRA ALVES DOS SANTOS - UFRJ, MARIA CLARA CANELLAS - UFRJ, ANA JÚLIA PAREDES - UFRJ, FABIA SOUZA - UFRJ, DESIREE CRUZ - UFRJ, PAULO HENRIQUE MARTINS - UFRJ, TAMIRES CAVALCANTE DA SILVA - ENSP - FIOCRUZ
O racismo é estruturante das iniquidades em saúde pois impacta negativamente na saúde da população negra, logo, sobre a qualidade da atenção à saúde das Doença Falciforme (DF), estas majoritariamente negras. Normativas como a Resolução CNE/CP 01/2004, a Portaria GM 992/2009 e a Lei 12.288, de 20/07/2010 determinam para os cursos da educação superior, em particular, para a formação de profissionais da saúde, a inclusão de conteúdos sobre história, cultura afro-brasileira e africana, e da saúde da população negra. Este relato de experiências objetiva descrever as vivências de graduandos (G) dos cursos de Farmácia (F), Medicina (M) e Serviço Social (SS) atuantes como alunos de iniciação científica (IC) em um projeto de pesquisa sobre Doença Falciforme (DF) em uma instituição Pública de Ensino Superior entre 2017 a 2018. Para isto, duas perguntas (P) disparadoras(D): PD1 - Como o tema saúde da população negra permeia a sua formação? PD2 - Como este tema foi apresentado no grupo de pesquisa? foram respondidas por pelos graduandos. Para GSS, “não há discussão adequada sobre questões raciais, o que foi oportunizado na IC. Além disso, a experiência multiprofissional e o debate com diferentes saberes, permitiram acessar e aprofundar a temática sobre a população negra, especificamente no recorte para a saúde; Acrescenta que na grade curricular existe apenas uma disciplina obrigatória, “Identidades Culturais e Serviço Social no Brasil”, que objetivou oferecer um quadro analítico das identidades culturais configuradas na sociedade brasileira e das condicionantes que põem ao exercício profissional, abordando dentre outros temas, o mito da democracia racial. Para ela, isto preocupa visto a relevância de compreender as particularidades dessa população. Enfatiza que apenas uma disciplina versa sobre “Relações Étnico-raciais e de Gênero”, e trata efetivamente da questão raça/cor, sendo no entanto, eletiva, e que por incompatibilidade de horário entre esta disciplina e as demais matérias, não pode cursar”. Já a GM, reconhece o privilégio de ver o tema saúde da população negra ser implementado no currículo do curso ao longo dos ciclos básico, clínico e no internato, valoriza muito a seriedade que isso tem trazido ao debate, e relata que muitos desses alunos tem o primeiro contato com o debate ao frequentarem as aulas, que tem cobrança de presença obrigatória, quebrando paradigmas para os alunos. Destaca que como IC tem a oportunidade de como pessoa negra, atuar como agente e construtora da narrativa da produção científica acerca da doença falciforme, com o recorte racial. Já para os GF, “ na vivência acadêmica, pouco falou-se de população negra, em qualquer situação que seja” ; um dos GF afirmou que: “ estando no 7o período, só me recordo de ter visto o tema políticas de saúde da população negra na matéria de "políticas de saúde" que foi conduzida por um professor negro, possibilitando uma perspectiva mais imersiva das questões, dificuldades e contradições, especialmente no SUS. Neste momento, enxerguei o sistema público de saúde como necessidade indispensável, principalmente para a população negra, a qual, em sua esmagadora maioria, se mostra a mais desfavorecida e carente em cuidados com a saúde. Essa disciplina foi um grande contraponto em relação a todas as outras que tive até momento”; para outro GF, a abordagem das matérias, de uma forma geral, eram as leis, em políticas de saúde e saúde coletiva, e os conteúdos normais de Química, Farmacologia, Bioquímica. A abordagem da questão da população negra surgiu mesmo nas aulas de hematologia, com uma professora atuante no projeto de pesquisa. Lá foi falado sobre doença falciforme e a ligação da doença com a população negra. Despertou em mim ainda mais interesse pois meu noivo é negro e nosso filho nasceu com traço falciforme, que em diversos médicos quando eu sinalizava, eles diziam "não ser nada demais". Como IC, acredito que podemos oferecer uma melhora na qualidade de vida dessas pessoas. Estamos dispostos à encarar dúvidas, problemas, buscar soluções e respostas. Falar sobre política de saúde para a população negra parece ser algo tão difícil, pois parece que a população negra não existe ou não precise de atenção a sua saúde. Os relatos das vivências mostram que se por um lado a temática saúde da população é ainda pouco discutida nos cursos de formação elencados, ainda que com exceções, por outro lado, é tema demandante nos serviços de saúde, sendo a participação como IC no projeto de pesquisa uma possibilidade de preencher esta lacuna. Como reflexão crítica, é inegável a necessidade de translacionar à teoria normativa relacionada à saúde da população à formação de futuros profissionais já que esta é hoje majoritariamente representante da nossa sociedade.
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