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Grupos Temáticos

29/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-28C - GT 28 - Saúde, Currículo, Formação: Experiências, Vivências, Aprendizados e Resistência Sobre Raça, Etnia, Gênero e Seus (Des)Afetos: Formação

30704 - DIVERSIDADE HUMANA E INTERSECCIONALIDADE EM SAÚDE: O LÚDICO COMO INSTRUMENTO DE PROBLEMATIZAÇÃO PARA ESTUDANTES DE CURSOS DA SAÚDE DA UNIVERSIDADE DE FORTALEZA - UNIFOR
ANA MATTOS BRITO DE ALMEIDA - UNIFOR-CE, ANNA KARYNNE MELO - UNIFOR-CE, LUARA DA COSTA FRANÇA - UNIFOR-CE


O ensino superior na área da saúde tem sido ainda perpassado pelo modelo biomédico, centrado na doença, diagnóstico clínico e remissão do sintoma como alvo principal. O entendimento do homem como um ser social e a construção de um conceito ampliado de saúde, no qual as ciências sociais assumem um papel fundamental na análise dos processos saúde e doença e, por vezes é negligenciado na formação de profissionais da saúde.
Atento para esse cenário social e impactado pelo aumento de discursos e práticas preconceituosas e excludentes no ambiente universitário, trouxemos essa discussão e enfrentamento para sala de aula.
Utilizamos uma estratégia lúdica que permite ao aluno vivenciar situações complexas de modo a criar ambientes potentes para que se processe uma aprendizagem dinâmica, crítica e reflexiva, com apresentação de conceitos que, sem o recurso da ludicidade, podem ser rejeitados ou negados pelos alunos.
O jogo foi elaborado pelas docentes, desde o tabuleiro, material, regras e instruções, inspirado no vídeo publicado na internet pelo Observatoire des inégalités (2017), com objetivo de problematizar a desigualdade social Francesa, utilizando uma adaptação do jogo Banco Imobiliário.
Adaptamos o jogo com personagens e situações que elucidam questões sobre a diferença, desigualdade e diversidade existente na nossa sociedade. Assim, criamos um jogo no qual cada participante escolhe uma cor que representaria um personagem, a saber: Homem, branco, rico (laranja); Homem, pobre, negro (lilás); Mulher (azul); Deficiente (preto), e; Transgênero (verde). No tabuleiro colocamos situações cotidianas como: comprar bens, seleção de emprego, ser preso, ganhar presentes, participar de festas de família, ganhar “vale night”, fazer sociedades, entre outros.
Cada jogador, ao movimentar-se no tabuleiro, obedecia aos limites de cada personagem (cor), por exemplo, o AZUL não ganha “vale nigth” e ao ganhar presentes, são eletrodomésticos. O VERDE só consegue emprego sem qualificação e não vai em festas da família. O LILÁS participa das festas, mas não consegue comprar bens. O LARANJA, ao cair na casa na qual irá para cadeia, joga novamente o dado e continua no jogo, o PRETO ganha livros de autoajuda e não vai à reuniões familiares. Cada jogador vai anotando seu percurso em um papel explicitando o que ganhou e o que perdeu ao longo do processo.
A intenção é criar um clima de desconforto entre os participantes, que ao se perceberem com possibilidades distintas, vão externalizando sentimentos de frustação, inveja, raiva, superioridade, etc. Após o jogo é feita uma discussão sobre quais sentimentos e conflitos surgiram e o grupo é convidado a identificar que personagens representavam cada uma das cores. Em seguida, foi realizada uma exposição dialogada sobre os conceitos de diversidade, diferença, interseccionalidade e a relação com a prática do profissional da saúde.
A atividade é realizada desde 2017.2 no módulo Diversidade Humana e Saúde Coletiva, ofertado no 2º semestre dos cursos de educação física, enfermagem, farmácia, fisioterapia, fonoaudiologia, nutrição e odontologia e já atingiu cerca de 1200 alunos. O jogo acontece em uma aula específica, mas os conteúdos são retomados ao longo do semestre articulando com outras temáticas do módulo, tais como subjetividade, prática de cuidado.
O objetivo da atividade é que o aluno identifique a diversidade humana como uma construção perpassada por dimensões econômicas, sociais, culturais, históricas e que possa relacioná-las com a prática dos profissionais da saúde.
A atividade tem sido bem recebida pelos alunos, apesar da inicial dificuldade de relacionar o jogo com sua prática profissional no campo da saúde, muitos se dão conta do quanto invisibilizamos essas questões e nos colocamos a parte de uma discussão crítica. Os alunos relatam o quanto são atravessados por espaços de privilégios e de exclusão e conseguem identificar situações reais e cotidianas na qual vivenciam ou presenciam situações semelhantes. Entretanto, nem todos se sentem à vontade ou avaliam como positiva essa experiência. Existem alunos que saem da sala ou sustentam discursos que legitimam as desigualdades como natural.
A utilização do lúdico para problematizar um assunto tão complexo tem sido alternativa didática para que o aluno possa desempenhar, a partir de representações de papeis, situações comparáveis as vivenciadas na sociedade.
Nessa perspectiva, favorecemos aos alunos contato com espaço de reflexão sobre a desigualdade e seus múltiplos atravessamentos, identificando-se como sujeito implicado na manutenção ou na ruptura desses processos, podendo ratificar em suas práticas o lugar da diferença como desigual e excludente ou assumir uma nova postura de enfrentamento e fomento da diversidade como pertencente a nossa sociedade. Não assumindo só um lugar de aceitação e respeito, mas conseguindo analisar esses contextos de forma crítica e reflexiva em prol de um mundo mais igualitário, justo e ético.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

Campus I - Lot. Cidade Universitaria, João Pessoa - PB, 58051-900