29/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-28C - GT 28 - Saúde, Currículo, Formação: Experiências, Vivências, Aprendizados e Resistência Sobre Raça, Etnia, Gênero e Seus (Des)Afetos: Formação |
30713 - CARTOGRAFANDO TERRITÓRIOS EM QUE SE VIVE: PERCURSOS PARA UM FORMAÇÃO MÉDICA COM A PERSPECTIVA DO CUIDADO NAS DIVERSIDADES. CARLA PONTES DE ALBUQUERQUE - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (UNIRIO), ALANA GABRIELA AZEVEDO SILVA - UNIRIO, MARINA BAPTISTA MAROJA - UNIRIO, PAULA VERA CRUZ DE PAIVA - UNIRIO
Contextualização
A Escola de Medicina e Cirurgia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro é uma instituição tradicional com 107 anos de existência. Com a criação recente do Instituto de Saúde Coletiva e sua contribuição na reforma curricular de 2014, principalmente no eixo de saúde coletiva e humanidades, veem emergindo experiências formativas que rompem com a modalidade exclusiva da Biomedicina. A diversificação de cenários de ensino e aprendizagem para além do hospital universitário, a inserção do estudante na atenção básica e em outros equipamentos públicos existentes nos territórios circundantes desta, incluindo interlocuções com movimentos sociais, tem oportunizado vivências e problematizações em relação à gestão, formação, trabalho, cuidado e participação no campo da saúde.
Descrição
Na disciplina de Prática em Saúde 1 – territórios cotidianos de vida, estudantes do primeiro período da graduação médica participam de uma construção coletiva em grupos com média de 10 integrantes cada, na problematização de temáticas como: história de ocupação dos territórios; fluxos cotidianos; diversidades e desigualdades; Intersetorialidade na saúde, Políticas Públicas e Direito à Saúde; Biopoder; Redes de Cuidado; ativismo e cocidadania.
Com a orientação docente e apoio de monitores, são realizadas observações de campo nos bairros onde residem, havendo interação com pessoas que lá estejam transitando. Para tal, previamente há uma introdução a recursos da pesquisa qualitativa em saúde (etnoantropologia / diário de campo, narrativas, dentre outros), sendo incentivado o deslocamento de noções prévias “não críticas”. Os estudantes são também introduzidos a métodos quantitativos em saúde na análise dos indicadores de saúde e qualidade de vida local. Em sala de aula, são configuradas rodas presenciais entre os grupos de estudantes que narram e debatem suas vivências nos cenários, problematizando conceitos do campo da saúde coletiva. Há a composição de portfólios coletivo (de cada grupo) – componente formativo da avaliação da disciplina.
Período de realização:
A partir de 2014 até atualmente.
Objetivos
Introduzir os estudantes em cenários de prática, incluindo a abordagem de suas próprias experiências no entorno de onde residem, na problematização do conceito ampliado de saúde.
Oportunizar para estes espaços reflexivos que dialoguem macropolíticas e micropolíticas na problematização das situações vivenciadas.
Apresentar a estes possibilidades da pesquisa participativa na saúde, problematizando o caráter preponderantemente higienista de grande parte das propostas vinculadas à promoção em saúde.
Resultados
Ao final do percurso da disciplina, os grupos de estudantes apresentam para turma o material em registro áudio visual (documentário de 5 minutos) da síntese das cartografias dos territórios nos quais desenvolveram o trabalho de campo. A utilização de outros recursos expressivos que ativam a criatividade e o componente sensível no processo de ensino e aprendizagem tem trazido para a cena formativa intensidades relacionais e aprendizagens mais significativas.
Aprendizados
O estranhamento do familiar no olhar para os territórios onde se vive e para o qual frequentemente se reproduz perspectivas pouco críticas e fortemente aderidas a concepções das grande mídias, produz deslocamentos necessários para a formação de profissionais mais preparados para um cuidado inclusivo. Nas vivências no campo, emergem situações nas quais as diversidades (étnicas, gênero, religiosas, geracionais, dentre outras) ganham visibilidade e as desigualdades se expressam, sendo estas afecções, dispositivos potentes para que a turma de estudantes se torne uma comunidade crítica de aprendizagem nos processos compartilhados durante a disciplina e pós esta, ao longo da graduação.
Análise crítica
Ainda que, para cada turma da disciplina, com a contribuição avaliativa dos estudantes do semestre anterior e das trocas entre docente e monitores, mudanças venham acontecendo visando o aperfeiçoamento da proposta, o grande desafio enfrentado permanece sendo estabelecer interlocuções mais favoráveis com as demais disciplinas na integração curricular dos eixos formativos no sentido da efetivação das diretrizes preconizadas nas políticas educacionais nacionais para a formação médica. Para tal, o número atual de docentes com perfil e interesse em participar da proposta necessita ser ampliado.
Uma maior interlocução e participação de outros cursos da saúde, bem como os das áreas humanas, tecnológicas e de artes existentes na universidade, são necessárias para o desenvolvimento de cartografias territoriais com a perspectiva interdisciplinar e interprofissional, no ensejo não apenas da extensão e pesquisa mas também do ensino, favorecendo uma educação universitária que contemple as diversidades dos grupos populacionais e o fortalecimento de políticas públicas inclusivas.
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