28/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-28B - GT 28 - Saúde, Currículo, Formação: Experiências, Vivências, Aprendizados e Resistência Sobre Raça, Etnia, Gênero e Seus (Des)Afetos: Políticas Públicas para População Negra, Intersetorialidade e Território |
29927 - SAÚDE, EDUCAÇÃO E INTERSECCIONALIDADE: UM CAMINHO POSSÍVEL? TELMA LOW SILVA JUNQUEIRA - UFAL, ANA CLARA CHAVES DE OLIVEIRA - UFAL, LANNA MARIA VIEIRA DA GRAÇA SILVA - UFAL, LÍVIA MEDEIROS RAMOS DA SILVA - UFAL, ROBERTA CAROLINE DA SILVA CRISPIM - UFAL
Durante agosto de 2018 a agosto de 2019 um grupo de profissionais e estudantes de Psicologia da Universidade Federal de Alagoas inseriu-se no setor da maternidade de um hospital-escola, vinculado ao Sistema Único de Saúde, a fim de compreender como docentes, preceptoras/es, gestoras/es, discentes e mulheres usuárias produzem sentidos sobre gênero e Violência Contra as Mulheres (VCM) no cotidiano de suas formações e processos de trabalho. A pesquisa se desenvolveu com base no referencial teórico-metodológico da perspectiva feminista de gênero na interface com as Práticas Discursivas e Produção de Sentidos. De modo que, semanalmente, a equipe se inseria no setor para realizar conversas no cotidiano com as pessoas presentes, anotando-as em diários de bordo – ferramenta própria para o registro das afetações, questões, impressões e informações que emergiam no processo de investigação. Em um primeiro momento, buscou-se construir vínculos com as pessoas, compreender a dinâmica de funcionamento do setor e a relação que se construía entre os diferentes segmentos que circulavam na maternidade – trabalhadoras/es, docentes, discentes, gestoras/es, mulheres usuárias e acompanhantes. Assim, as pesquisadoras passaram a acompanhar as/os profissionais nas visitas às enfermarias, no atendimento às mulheres usuárias, em reuniões de equipe, no cotidiano da gestão, se inseriram nas atividades de grupo desenvolvidas com as usuárias etc. Posteriormente, realizaram 14 entrevistas semiestruturadas com algumas das pessoas que protagonizaram a investigação, no sentido de aprofundar alguns temas e questões que pareceram mais significativamente nas conversas no cotidiano. E, finalmente, facilitaram uma roda de conversa no setor apresentando os principais resultados da pesquisa e compartilhando impressões e afetações e, ao mesmo tempo, acolhendo e escutando como as pessoas interlocutoras se sentiram e compreenderam a inserção das pesquisadoras no cenário etc. Alguns dos sentidos produzidos parecem apontar para uma essencialização das hierarquias de poder entre os sexos, bem como para os binarismos que tendem a marcar a construção e percepção do mundo e das relações através, principalmente, da noção de feminino x masculino, da exacerbação do mito do amor materno e da maternidade como “destino” para as mulheres x a desresponsabilização e naturalização do não exercício cotidiano do cuidado, especialmente com as crianças, por parte dos homens pais, entre outros. Em relação à VCM, observou-se um certo alheamento da equipe em relação ao tema, que se tornava mais presente quando algum acompanhante, geralmente homem e companheiro da mulher usuária, agia com violência e ameaçava tanto a integridade da mulher usuária quanto da equipe. Nesses momentos, a equipe parecia se preocupar com a questão da VCM, buscando proibir o acompanhante de permanecer no setor e literalmente afastando o tema da VCM dos seus cotidianos. O tema da violência obstétrica, foi trazido por algumas mulheres usuárias, principalmente oriundas das cidades do interior, e também por algumas poucas profissionais. Parece evidente um certo desconhecimento e/ou naturalização de procedimentos, posturas e comportamentos que centralizem no/a profissional da saúde o lugar de saber-poder sobre o corpo das mulheres em detrimento da autonomia e desejo que elas mesmas possam ter e querer a respeito das questões que envolvem a gestação, o pré-parto, parto e pós-parto. De maneira que a notificação compulsória dos casos de (suspeita de) violência, assim como o investimento em atividades de prevenção de violência e promoção da saúde desde a perspectiva da interseccionalidade entre gênero, raça, sexualidade, classe e geração parecem não ocupar um lugar de prioridade no cotidiano do setor. Seja por desconhecimento e desinformação das equipes, especialmente no que se refere a uma ausência desses temas nos seus processos de formação profissional, quanto pelo não lugar que eles ocupam nos poucos momentos e espaços de educação permanente em saúde compartilhado pelas equipes. Nesse sentido, a pesquisa aponta para a relevância de garantir uma formação em saúde que privilegie uma articulação entre as políticas públicas de saúde, com destaque para a Política Nacional de Humanização e a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde – consideradas transversais –, e a perspectiva interseccional. De maneira que os marcadores de gênero, raça, classe e sexualidade se articulem no intuito de questionar os sistemas de saber-poder que regem o cuidado em saúde, desde a dimensão da assistência, gestão e formação, re-visitando desde o acolhimento e atenção às mulheres usuárias e pessoas acompanhantes até a própria saúde das pessoas trabalhadoras, que também são atravessadas, em suas vidas pessoais e profissionais, por essa interseccionalidade. É nesse contexto que essa pesquisa lança a seguinte pergunta: Saúde, educação e interseccionalidade é um caminho possível?
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