28/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-28B - GT 28 - Saúde, Currículo, Formação: Experiências, Vivências, Aprendizados e Resistência Sobre Raça, Etnia, Gênero e Seus (Des)Afetos: Políticas Públicas para População Negra, Intersetorialidade e Território |
31337 - EXPRESSÕES DO RACISMO E SAÚDE: A CONSTRUÇÃO COLETIVA DE UM ESPAÇO DE SABERES MAYRA DA CRUZ HONORATO - ENSP, ANA GISELLE DOS SANTOS GADELHA - ENSP, ROBERTA GONDIM - ENSP, PAULO ROBERTO DE ABREU BRUNO - ENSP, LUCIANE VICENTE DO NASCIMENTO - ENSP, THAMIRES MONTEIRO DE MEDEIROS - ENSP, VANESSA FIGUEIREDO LIMA - ENSP, VANESSA DEL CASTILLO SILVA COUTO - ENSP, SAMARA MILENE DA SILVA - ENSP, BEATRIZ ZOCAL DA SILVA - ENSP, SAVILLE MARIA COUTINHO BORGES DE ALMEIDA - ENSP, RAPHAEL BARRETO DA CONCEIÇÃO BARBOSA - ENSP
A partir da preocupação com a ausência de espaços na saúde de discussão e de produção de conhecimentos relacionadas à questão do racismo, nós, um grupo formado por pesquisadores, professores, trabalhadores e alunos (lato e stricto sensu) da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), idealizamos a construção de um curso de inverno que abordasse a temática do racismo em diálogo com a Saúde Coletiva. Nesse sentido, no presente trabalho relatamos a experiência de construção coletiva da primeira disciplina da ENSP que teve como temática central o racismo e suas expressões no campo da saúde, que ocorrera em julho de 2018, e como objetivo fomentar um debate mais aprofundado sobre a saúde da população negra e de discutir temáticas que são invisibilizadas nos campos da educação e da saúde. Partindo do entendimento de que o racismo é estruturante nas relações sociais brasileiras e que impacta na determinação do processo saúde-doença, durante alguns encontros de planejamento, escolhemos de forma dialogada as temáticas abordadas no curso: abordagem histórico-cultural do racismo; história, ideologia e racismo no Brasil; resistência cultural e saúde; racismo como dispositivo biopolítico; racismo e saúde das mulheres; racismo ambiental; racismo institucional/estrutural; racismo, violência e saúde. A partir destas temáticas, realizamos a construção da ementa e convidamos pesquisadores de diferentes instituições de ensino, integrantes de movimentos sociais e de organizações antirracistas para serem facilitadores das discussões realizadas em sala de aula, por entendermos que a construção dos saberes na Saúde Coletiva não deve se furtar da articulação com os saberes produzidos pelos movimentos sociais, além do fato de que o campo de saúde da população negra nasce a partir de demandas e de esforços do Movimento Negro e do Movimento de Mulheres Negras. A fim de facilitar o acesso da comunidade em geral, colocamos como pré-requisito para a inscrição apenas a carta de intenção, não sendo necessário os alunos estarem regularmente matriculados em instituições de ensino. Também participaram deste processo de organização e realização do curso, alunos de mestrado e doutorado da ENSP e do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro que realizaram estágio em docência. Desta forma, durante cinco dias, distribuídos em duas semanas, o curso de inverno “Expressões do Racismo e Saúde” aconteceu nos espaços da ENSP, reunindo um corpo de alunos de diferentes instituições, integrantes de movimentos sociais, pesquisadores, trabalhadores, em uma sala de aula notadamente composta de maioria de alunos negros. Seja utilizando em momentos de aula expositiva ou mesa redonda, os professores convidados realizavam, após suas exposições, um momento de roda de conversa. Assim, tivemos como resultado, por meio de uma metodologia dialógica e participativa, um contexto de aprendizagem em que se possibilitou o compartilhamento de saberes, a profusão de debates e o acolhimento. Durante o curso, elaboramos uma curadoria cultural de forma a iniciar cada encontro do curso apresentando algum/a artista negro/a, seja das artes visuais, música, poesia, etc. No último dia da disciplina de inverno, realizamos uma avaliação coletiva em sala de aula, momento no qual os alunos avaliaram que o curso trouxe debate importantes não apenas para a seara da saúde, mas também da educação, filosofia, artes, psicologia, etc, além de aproximar pesquisadores negros que têm pautado a discussão racial em seus projetos de pesquisa. Ainda no momento da avaliação, os alunos sugeriram que a disciplina acontecesse novamente e que pudesse ser ofertada enquanto eletiva, além de recomendarem novas temáticas a serem contempladas. Assim, como forma de continuidade dos debates e reflexões iniciados na disciplina de inverno, iniciamos o processo de construção coletiva da disciplina eletiva “Expressões do Racismo e Saúde”, que será ofertada regularmente em um dos maiores programas de Pós-Graduação de Saúde Pública do país. Nesse planejamento coletivo, convidamos os alunos do curso de inverno e novos atores a comporem as oficinas de elaboração da ementa da disciplina eletiva que será ofertada no segundo semestre de 2019. Reconhecemos que o tempo do curso de inverno limitado tendo em vista serem complexos e amplos os atravessamentos do racismo no processo saúde-doença, bem como as diversas abordagens e construções teóricas do assunto. Por outro lado, entendemos que esse esforço é imprescindível para aprofundar o debate das relações raciais no campo da Saúde Coletiva.
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