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Grupos Temáticos

28/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-28B - GT 28 - Saúde, Currículo, Formação: Experiências, Vivências, Aprendizados e Resistência Sobre Raça, Etnia, Gênero e Seus (Des)Afetos: Políticas Públicas para População Negra, Intersetorialidade e Território

31356 - O OLHAR EMANCIPATÓRIO COMO DIMENSÃO DA INTEGRALIDADE EM SAÚDE
MARIA CLARA SANTANA MAROJA - UFRN, JOSÉ JAILSON DE ALMEIDA JÚNIOR - UFRN, CLAUDIANNY AMORIM NORONHA - UFRN


As Residências Multiprofissionais em Saúde surgiram, nos anos 2000, como uma estratégia para formação de profissionais de saúde sustentadas pela compreensão das relações políticas e humanísticas que conduzem a interação ensino-serviço-comunidade. Ainda hoje são escassos os estudos que abordam as ferramentas pedagógicas que sustentam as políticas de ensino-aprendizagem na formação de profissionais de saúde. No caso específico das Residências Multiprofissionais em Saúde, os estudos já realizados trazem os discursos dos que falam a favor e dos que são contrários à proposta das RMSs. Destacam-se nos efeitos dessa modalidade de ensino sobre os processos de produção de subjetividade dos educandos e educadores, como a reinvenção de si e do mundo, com base na crítica ao modelo de racionalidade moderna ainda presente na atenção em saúde e nos processos de ensino-aprendizagem na saúde. Assim, o presente estudo teve por objetivo compreender como as contribuições da proposta pedagógica de Paulo Freire, cooperam no olhar emancipatório como dimensão da integralidade em saúde. Trata-se de uma pesquisa avaliativa, participativa, com abordagem qualitativa, do tipo Estudo de Caso. O lócus de estudo foi o programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental, cujo Plano de Curso fundamenta-se na pedagogia freiriana. Os dados foram coletados por meio de entrevistas individuais semiestruturadas com tutores e preceptores, bem como encontros de grupo focal com residentes, e analisados segundo a Análise de Conteúdo. A análise dos dados coletados revelou que a pedagogia problematizadora adotada oferece aos residentes a possibilidade de descobrir, propor, desenvolver e discutir temáticas e ações de forma horizontal e crítica junto aos tutores e preceptores. É possível pensar que a autonomia dos educandos no processo ensino-aprendizagem, potencializada pelo exercício permanente do compromisso com a realidade e das práticas multiprofissionais, pode facilitar, entre os residentes, o desenvolvimento de um olhar emancipatório sobre os sujeitos assistidos. Os depoimentos dos residentes fizeram emergir outra questão que merece destaque: a “institucionalização” dos sujeitos. Segundo os educandos, há uma relação de dependência dos usuários com os serviços de saúde, revelada em falas como “O CAPS é minha casa” e “O CAPS é minha vida”, frequentemente ouvidas pelos residentes nos cenários de prática. Os discursos dos tutores apontam para essa cultura de resistência que surge paulatinamente nas experiências práticas dos residentes. Identificaram-se atitudes de negação aos diferentes tipos de opressão sofridos pelos portadores de doença mental, como reações decorrentes da ampliação da leitura de mundo dos alunos. Não se trata, portanto, somente da criticidade às injustiças sofridas pelos usuários, mas de atitudes que visam à transformação da realidade. A formação multiprofissional de trabalhadores para o SUS, norteada pelo conhecimento, reflexão e intervenção na realidade, visa proporcionar o cuidado integral à saúde, valorizando o papel das diferentes profissões bem como dos demais setores que interferem na promoção da saúde, para a construção do conhecimento e para as tomadas de decisão. Além dos olhares multiprofissional e intersetorial, o respeito às peculiaridades de cada sujeito assistido exige que sejam consideradas não só suas limitações mas, sobretudo, suas potencialidades e sua responsabilidade no próprio tratamento de saúde e na superação das situações-limite. É importante perceber, ainda, que a autonomia se faz necessária também para a instituição formadora, a qual se configura não como grupos de professores e alunos, mas como um espaço de “tensões” entre diversos atores, onde as diferenças de ideias são estruturantes e os consensos permitem os avanços. Sendo assim, os elementos freirianos do diálogo, da humanização e da autonomia não devem permanecer presos ao plano teórico, limitando-se a citações nos Projetos Pedagógicos dos cursos. Devem constituir-se no fio condutor de todos as ações pedagógicas, proporcionando uma compreensão integral do Ser Humano e práticas libertadoras em saúde. Portanto, a proposta pedagogia freiriana, quando experimentada verdadeiramente, cursa para transformações de si e da realidade como conseqüências da ampliação da leitura de mundo dos educandos, o que, no campo da saúde, pode significar micro rupturas no modelo assistencial de cuidado e gestão, fortalecendo os princípios instituintes do SUS, com ênfase para a equidade, integralidade e participação social.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

Campus I - Lot. Cidade Universitaria, João Pessoa - PB, 58051-900