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Grupos Temáticos

28/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-28B - GT 28 - Saúde, Currículo, Formação: Experiências, Vivências, Aprendizados e Resistência Sobre Raça, Etnia, Gênero e Seus (Des)Afetos: Políticas Públicas para População Negra, Intersetorialidade e Território

31378 - POPULAÇÕES VULNERABILIZADAS E POLÍTICAS PÚBLICAS: PERCEPÇÕES SOBRE OS PROCESSOS DE GESTÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
MAIRA ANDRADE SCAVAZZA - ENSP/FIOCRUZ, ROBERTA GONDIM DE OLIVEIRA - ENSP/FIOCRUZ


O relato é referente a vivência entre Maio/2018 e Abril/2019, durante a formação na especialização Lato Sensu em Gestão da Atenção Básica nos moldes de residência da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/FIOCRUZ). Esse curso de pós-graduação aposta em um processo formativo referenciado pela educação permanente. Assim, o percurso durante os doze meses de experimentação e construção do ser gestora perpassou pela vivência e imersão nos espaços de gestão tripartite do Sistema Único de Saúde (SUS), com ênfase na Atenção Básica.
Os campos que conformaram a imersão na gestão intergovernamental foram a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ), o Ministério da Saúde (MS-DF) e a Secretaria Municipal de Saúde do Município do Rio de Janeiro (SMS-MRJ).
O ingresso nessa formação se deu a partir da construção e apresentação de um projeto de trabalho, no qual me propus a olhar para a gestão e as ações em saúde voltadas à População em Situação de Rua (PSR). A partir de experiências durante meu percurso formativo, escolhi trabalhar a temática dessas populações que me inquieta e atravessa minha caminhada desde a graduação em Psicologia. Apostei na construção de um projeto que refletisse sobre a relevância da construção da rede intersetorial na gestão das políticas públicas a partir de mecanismos institucionais de articulação e garantia de vinculação entre as políticas de amparo a PSR.
Estar próxima da produção de conhecimento sobre a PSR nos espaços de gestão da atenção básica, como residente, significou acompanhar os processos de discussões, debates e tomada de decisões no que tange a formulação, construção, indução, implantação e execução das políticas públicas de saúde que se concretizam (ou não) em cuidados em saúde para esse grupo.
Na caminhada ao longo desses doze meses pela gestão tripartite, a ideia da intersetorialidade foi ficando a margem na medida em que a minha percepção sobre processos que se propõem ao cuidado e que por vezes parecem operar de maneira ambígua, gerando a invisibilização de sujeitos e grupos, aguçou meus questionamentos sobre mecanismos de produção de vulnerabilizações no processo de gestão das políticas públicas de saúde. Processos esses que me provocaram reflexões e percepções sobre o deslizamento desse tema (da invisibilização de sujeitos e corpos) de marco societário a operar no mesmo registro dentro das instituições.
Na medida em que me inseria e imergia nos processos de trabalho da gestão, enquanto vocalizadora de processos assimétricos e contraditórios voltados às populações vulnerabilizadas, sentia os efeitos dos posicionamentos marcados na minha própria caminhada por dentro das instituições. Essas inquietações foram registradas em portfólios reflexivos durante a imersão no processo de trabalho na gestão, me mobilizando e deslocando minha implicação e modos de me colocar nessa discussão.
A partir dos cenários vivenciados na gestão do SUS, alguns questionamentos emergiram: Como coletivos de profissionais envolvidos em processos de gestão operam as políticas de saúde às pessoas vulnerabilizadas? Como desigualdade social, preconceito e racismo deslizam e se performam na gestão?
Fui percebendo que os espaços de gestão eram predominantemente ocupados por pessoas brancas e que muitas delas diziam ter acesso a saúde por planos privados. Fui me dando conta que as pessoas que tomam as decisões nos espaços da gestão, muitas vezes, não necessariamente vivenciam o SUS como usuários dos serviços de atenção à saúde, as inserções ocorrem em registros de gestão ou acadêmico. Nesse contexto, repenso meus privilégios por ser também uma profissional branca de classe média que teve acesso a uma universidade federal e em formação enquanto gestora do SUS.
Ser gestora não está descolado de quem nós somos e da nossa história, qual meu lugar nisso tudo? Por que então debater, escrever e pensar as populações vulnerabilizadas? Qual a minha responsabilidade? Como isso movimenta meu processo formativo e como ser uma gestora do SUS coerente?
O recorte desse ensaio foi se desenhando enquanto uma discussão sobre a produção institucional de apagamentos de sujeitos na agenda da gestão da Atenção Básica e da percepção sobre arranjos e narrativas no sentido da produção da legitimidade do cuidado em saúde desses corpos e grupos emergir do recorte de risco dos agravos.
O encontro dessas inquietações com a autoetnografia, como método e ética na possibilidade de construção de uma narrativa contra-hegemônica sobre os processos de invisibilização de pessoas na gestão do SUS, atribuiu sentido e relevância a continuidade dessa escrita.
Assim, a partir da minha vivência na gestão da Atenção Básica, sem a pretensão de responder a todos esses questionamento mas de produzir com o atravessamento deles, a intenção do texto é de propor um olhar analítico sobre as produções institucionais da saúde para grupos subalternizados.

local do evento

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