Clique para visualizar os Anais!



Certificados disponíveis. Clique para acessar a área de impressão!

Associe-se aqui!

Grupos Temáticos

29/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-28C - GT 28 - Saúde, Currículo, Formação: Experiências, Vivências, Aprendizados e Resistência Sobre Raça, Etnia, Gênero e Seus (Des)Afetos: Formação e Qualificação

30274 - A HEGEMONIA BIOMÉDICA NA FORMAÇÃO E NO TRABALHO DO FONOAUDIÓLOGO: REFLEXÕES A PARTIR DA TEORIA GRAMSCIANA
MAURÍCIO WIERING PINTO TELLES - UFRN, LUIZ ROBERTO AUGUSTO NORO - UFRN


Apresentação:
O presente trabalho busca utilizar a categoria “hegemonia” de Antônio Gramsci para refletir sobre a prática profissional e a formação de fonoaudiólogos no Brasil. Para isso, são apresentadas a concepção de Estado e hegemonia em Gramsci e sua influência no contexto brasileiro, buscando demonstrar as contribuições do teórico para a interpretação do processo histórico do Estado. É feito um esforço para construir uma interpretação da prática profissional e da formação de fonoaudiólogos no Brasil numa perspectiva histórica, finalizando com apontamentos de conquistas e desafios para a construção de uma “nova hegemonia” na área.
Objetivo:
Refletir sobre a prática profissional e a formação de fonoaudiólogos no Brasil, a partir da teoria gramsciana.
Metodologia
Trabalho construído a partir de revisão bibliográfica não exaustiva o qual identificou a formação e o trabalho do fonoaudiólogo no Brasil, confrontando com referenciais sobre a concepção gramsciana de Estado, bem como a categoria hegemonia.
Resultados/discussão
Gramsci adota a compreensão de que a Ditadura do proletariado seria uma profunda mudança da estrutura econômica e política, mas também uma profunda revolução cultural e da maneira de pensar dos homens. Desta forma, Gramsci afirma que seria necessário elevar a condição dirigente da classe operária para a conquista do poder. Para isso precisava-se da criação de um sistema de alianças que permitisse unificar a maioria do povo trabalhador contra o capitalismo e o estado burguês.
Coutinho (1988) ressalta que as primeiras edições dos textos de Gramsci no Brasil tiveram dificuldade de influenciar a produção intelectual. Tal limitação foi identificada com as contradições internas no período de 1966 e 1968, relacionadas ao regime ditatorial instaurado em 1964. Ainda que permitisse uma relativa margem de liberdade no campo cultural, foi prejudicada pela decretação em dezembro de 1968 do AI-5, o qual agravou as condições políticas e institucionais desfavoráveis.
Em sua obra, Gramsci concebe hegemonia como “direção” e dominação da sociedade, isto é, o controle da sociedade civil e da sociedade política no bloco histórico. O resultado favorável desse processo à classe operária implicaria que esta alargasse a sua “base social” de direção, mantendo um “sistema de aliança” com outras classes subalternas. Um aspecto essencial da hegemonia da classe dirigente reside em seu monopólio intelectual. Essa atração de intelectuais leva a criação de um “bloco ideológico ou intelectual” vinculada à classe dirigente.
A partir do entendimento que as atitudes de profissionais de saúde em seu trabalho estão relacionadas com o que esses possuem com sua visão de mundo, e de sua própria profissão, podemos compreender que, de certa forma, esta sua visão pode ser influenciada pelo processo de formação profissional. Com isso, a perspectiva de hegemonia gramsciana, nos auxilia a interpretar as características do trabalho e da formação do fonoaudiólogo no Brasil.
No Brasil, o fonoaudiólogo iniciou sua prática voltada para a saúde escolar, entre as décadas de 20 e 40, num bloco histórico que se encontrava no contexto sociopolítico do movimento nacionalista e desenvolvimentista que tinha, na escola, o lugar privilegiado para a reorganização da sociedade. Entre 50 a 70, o direcionou seu trabalho para os consultórios particulares e clínicas de reabilitação.
Nesse período, surgiram os primeiros cursos de fonoaudiologia, cuja formação refletia as práticas com enfoque nas patologias fonoaudiológicas, segundo os pressupostos do modelo hegemônico hospitalocêntrico. Já no início de 90, com a significativa inserção de fonoaudiólogos no SUS, identificou-se que a formação e a atuação desse profissional estavam distantes dos desafios do trabalho neste sistema.Este é o momento que surge a “Fonoaudiologia Preventiva”. Ao mesmo tempo, de forma hegemônica, os fonoaudiólogos foram incorporando em sua formação a noção de empreendedorismo. Desta forma, em detrimento das críticas elaboradas por pesquisadores da Saúde Coletiva, a fonoaudiologia até os dias atuais tem hegemonicamente se baseado em ações preventivas e reabilitadoras.
Considerações finais
Uma análise histórica permite a visualização de algumas potencialidades conquistadas na fonoaudiologia: adoção de componentes curriculares em Saúde Coletiva; inserção de estudantes no SUS; crescimento de publicações que tem como cenário ou objeto de estudo os espaços do SUS. Por outro lado, ainda estão colocados como desafio o ideário biomédico hegemônico na sociedade e a fragmentação da formação e da própria profissão.
Em última instância, podemos apontar que a construção de uma “nova hegemonia” no trabalho e na formação em fonoaudiologia depende do compromisso que os profissionais e estudantes assumam com as necessidades da população e do SUS.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

Campus I - Lot. Cidade Universitaria, João Pessoa - PB, 58051-900