29/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-28C - GT 28 - Saúde, Currículo, Formação: Experiências, Vivências, Aprendizados e Resistência Sobre Raça, Etnia, Gênero e Seus (Des)Afetos: Formação e Qualificação |
30484 - O QUE DIZER DA LOUCURA: EXPERIÊNCIA ACADÊMICA EM MODELO ASILAR SILVIA HELENA DE AMORIM MARTINS - UNIFOR, ANA LUISA LEITE LIMA - UNIFOR, JANARA PINHEIRO LOPES - UNIFOR, LEÔNIA CAVALCANTE TEIXEIRA - UNIFOR, FRANCISCA BERTILIA CHAVES COSTA - UNIFOR, JULY GRASSIELY DE OLIVIERA BRANCO - UNIFOR, ANA MARIA FONTENELLE CATRIB - UNIFOR, LEONARDO LIMA ALEIXO - UNIFOR, LUIZ ADRIANO TORRES DE SOUSA - UNIFOR, DANIELA CAVALCANTE LOPES - UNIFOR, MARIANA MONTEIRO VASCONCELOS - UNIFOR, ANTÔNIA MICHELLY CASTRO GOMES - UNIFOR, PATRICIA DO CARMO LIMA - UNIFOR, LUIZA VALESKA DE MESQUITA MARTINS - UNIFOR
Contextualização: A humanidade, ao longo dos anos, enfrenta dificuldades em lidar com o diferente, contribuindo para que o tratamento da loucura seja o aprisionamento do sujeito em hospitais psiquiátricos, afastando-o como forma de proteger a sociedade (CARDOSO; GALERA, 2011). Partindo da abordagem psicanalítica, a loucura não é um construto fechado, pois reconhece que os processos psíquicos obedecem aos princípios do inconsciente, sendo o sintoma relacionado a constituição do sujeito e a sua organização psíquica para existir e se expressar no mundo. Nesse contexto, o que se observa mesmo após a Reforma Psiquiátrica, é a utilização do hospital psiquiátrico como recurso no tratamento dos transtornos mentais graves (PEREIRA; JOAZEIRO, 2015). Objetivo: Relatar a experiência vivida no atendimento de um paciente internado em um hospital psiquiátrico por acadêmicas de psicologia a partir da linha teórica da psicanálise. Descrição e período de realização: Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência. A vivência ocorreu em abril de 2018 em um hospital psiquiátrico de referência no estado, pertencente ao Sistema Único de Saúde, localizado no Nordeste do Brasil. A prática foi fundamentada na perspectiva psicanalítica e as considerações acerca dos processos de saúde e doença a partir do modelo asilar após a Reforma Psiquiátrica. Resultados: Ao longo de seus atendimentos foi possível observar alterações perceptíveis no usuário, como sua orientação de tempo e espaço, além de alterações no conteúdo dos pensamentos, bem como sua necessidade de remeter aos abandonos sofridos e o significado de ser órfão e ser criado por outras pessoas. Uma falha com a vivência do amor materno na constituição psíquica do sujeito pode ocasionar uma diminuição da tolerância à frustração relacionada ao narcisismo primário, na qual há um eu ideal que reproduz um perfil de conduta em que tudo gira em torno de seus próprios desejos (RAMALHO; COSTA, 2013) Percebeu-se que os sentimentos de mágoa e ressentimento estavam presentes também em seus relatos acerca de uma desilusão amorosa na adolescência. Nesse sentido, levantou-se a hipótese de que a situação de abandono inicial vivida não foi simbolizada satisfatoriamente. Desse modo, o sintoma foi se repetindo em busca de elaboração. Associado a isso, o uso abusivo de bebidas alcoólicas desencadeava a agressão, perda de emprego, crises psicóticas, motivando sua família a levá-lo para abrigamento e posterior internação compulsória em hospital psiquiátrico. Com base em sua história de vida, compreendeu-se que a não simbolização de uma situação de abandono se configurou como um trauma, e que, agravado pelo uso abusivo de substâncias psicoativas, desencadeou uma crise psicótica. Nesse sentido, não seria necessária sua permanência no hospital psiquiátrico após cessada a crise, podendo ser acompanhado nos serviços substitutivos. Desse modo, o internamento, antes de ter o sentido médico-assistencialista conhecido atualmente, servia a propósitos de exclusão de toda e qualquer alteridade considerada improdutiva. Enfatiza-se a importância de se repensar práticas que ainda estão sendo realizadas em um contexto pós Reforma Psiquiátrica, para garantir que não sejam repetidos modos de pensamentos asilares e de exclusão, que culpabilizam o sujeito por seu sofrimento psíquico. Aprendizagens e análise crítica: Salienta-se a importância da consolidação de um modelo de cuidado psicossocial nos serviços substitutivos. Ressalta-se que o sujeito adoece em um contexto social, cultural, econômico e familiar que produz e sustenta o adoecimento ao se considerar a dimensão sociopolítica do sofrimento psíquico. Enfatiza-se que o sujeito não se encerra em um diagnóstico, sendo necessária uma Rede de Atenção Psicossocial adequada dando suporte ao paciente para que tenha condições de retomar suas atividades e seu lugar no espaço social.
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