29/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-28C - GT 28 - Saúde, Currículo, Formação: Experiências, Vivências, Aprendizados e Resistência Sobre Raça, Etnia, Gênero e Seus (Des)Afetos: Formação e Qualificação |
31382 - CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS PARA A FORMAÇÃO NOS TEMAS RAÇA, GÊNERO E SAÚDE NOS CURSOS DE FONOAUDIOLOGIA. LÍVIA MARIA DA SILVA REIS - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, MARCOS VINICIUS RIBEIRO DE ARAÚJO - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, TAIA CAROLINE NASCIMENTO FERNANDES - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, VIVIANE BATISTA PIRES SANTOS - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
[INTRODUÇÃO] No Brasil, devido a democratização do acesso ao ensino superior, ocorrido na última década por meio das ações afirmativas, aumentou-se consideravelmente a busca e o acesso das mulheres e população negra às universidades. Apesar de tais iniciativas, a participação desta última nas Instituições de Ensino Superior (IES) ainda tem uma sub-representação em comparação à pessoas brancas. Esses indicadores reafirmam aspectos da realidade das desigualdades raciais e de gênero existentes no Brasil. Neste sentido, o presente trabalho busca discutir as contribuições do debate de Raça, Gênero e saúde para a formação em Fonoaudiologia, com destaque para contribuições de algumas das principais autoras negras que vêm desenvolvendo suas publicações ao longo de décadas em torno destas temáticas, contribuindo assim com a efetivação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) e para a construção de uma sociedade anti-racista. [OBJETIVO] Demonstrar as contribuições teóricas de autores negros, com destaque de autoras negras, sobre a temática de Raça, Gênero e Saúde nas formações de profissionais de saúde, em particular nos currículos de Fonoaudiologia, reafirmando a necessidade de mudanças nos currículos acadêmicos. [METODOLOGIA] Trata-se de um ensaio teórico, composto por artigos, livros, dissertações e teses de autores negros reconhecidos academicamente na produção do tema, assim como trabalhos que versaram sobre os referidos autores. A busca do referencial teórico foi realizada em algumas bases de dados acadêmicas,Scielo, Periódicos Capes, Google Acadêmico, usando os seguintes descritores: Raça, Racismo, Educação Superior, Saúde. Em seguida foram elaboradas categorias que orientaram a redação do ensaio. [RESULTADOS E DISCUSSÃO] No contexto brasileiro, raça se relaciona com atributos físicos, e por meio destes, impõe lugares sociais; racismo, por sua vez, se caracteriza através de uma estrutura social de poder baseada em discriminações raciais. Todavia, para o enfrentamento deste sistema de discriminações, o Movimento Negro (MN) surge com uma agenda de lutas contra o Racismo, articulado ao Movimento de mulheres negras, tendo como um dos conceitos chaves, a Interseccionalidade. Trata-se da compreensão de que diferentes tipos de opressões, quando associadas, colocam os indivíduos em maior condição de vulnerabilidade. Uma importante conquista desse movimento foi a inserção da temática da Saúde da População Negra no planejamento e gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), e por conseguinte as formações acadêmicas nessa área, com o potencial de minimizar iniquidades e desigualdades geradas pelo Racismo enquanto determinante social do processo saúde-doença. Há, portanto, que ser questionada a ausência desta discussão dentro da estrutura formativa da Fonoaudiologia que embora não seja a única na área da saúde, sustenta a sua formação sobre um modelo clínico biomédico cujos recortes dos indivíduos se dão por suas áreas de especialidades.Neste sentido o foco dos distúrbios/ disfunções ao circunscrever o “paciente” a uma condição biológica, abre mão de sua complexidade social, histórica, cultural, subjetiva de raça e gênero. Mesmo com a validação e reorganização promovida pelas Diretrizes Curriculares Nacionais de 2002 (DCN), as quais buscam aprimorar os currículos e formar profissionais de saúde mais generalistas e conscientes, temas de Raça, gênero e saúde não são mencionados em nenhuma parte deste documento. [CONCLUSÃO] Apesar das questões levantadas, percebe-se que ainda há um longo caminho a ser percorrido, em se tratando de formações acadêmicas e sua relação com temas como Raça e Gênero em suas grades obrigatórias.Este trabalho buscou construir uma discussão sobre a intersecção entre Raça, Gênero e Saúde, com o objetivo de demonstrar a importância da inclusão desses temas para a formação em Fonoaudiologia, utilizando contribuições teóricas, sobretudo de autoras negras, para demonstrar que as desigualdades sociais/raciais assumem papel determinante na vida de indivíduos negros, afetando fortemente as mulheres negras. Para confrontar tais circunstâncias é necessário que haja em nossa sociedade uma transformação, uma nova consciência sobre o racismo, entendendo-o como um sistema muito bem estruturado nas relações sociais e de poder. No campo da saúde pública e da educação isso se faz importante devido a interconexão desses processos, fazendo-se necessário um novo investimento formativo,tanto para formar pessoas que cuidem de pessoas negras com suas demandas e necessidades, como também para que estas pessoas que serão cuidadoras se vejam representadas e incluídas ao longo de seu percurso formativo.
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