28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-15A - GT 15 - Saúde LGBT |
30946 - POPULAÇÃO LGBT: VIVÊNCIAS DE RESIDENTES MULTIPROFISSIONAIS EM UM CENTRO DE CIDADANIA CÂNDIDA ISABEL DE FIGUEIREDO - FCM-PB, AÍSHA STHÉFANY SILVA DE MENESES - FCM-PB, ELAINE VALDNA OLIVEIRA DOS SANTOS - FCM-PB, ROBERTO CÉZAR MAIA DE SOUZA - PREFEITURA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA
Contextualização
O primeiro contato dos usuários com os serviços de saúde acontece pela atenção primária – porta de entrada do SUS – porém essa realidade é fragmentada no âmbito do processo saúde-doença da população LGBT, pois apesar dos grandes avanços, ainda é notória a discriminação e exclusão desses usuários na rotina das Unidades Básicas de Saúde.
Um campo potencial de atuação para consolidação da assistência ao cuidado à saúde da população LGBT é a Estratégia Saúde da Família (ESF) que busca fortalecer a Atenção Primária à Saúde (APS) enquanto primeiro nível de atenção e que tem como objetivo garantir a integralidade do cuidado aos indivíduos, família e comunidade, porém o acesso aos cuidados primários em saúde é um desafio em vários países principalmente no que tange as populações vulneráveis que enfrentam cotidianamente a desigualdade, iniquidade e violação dos seus direitos (HSIEH; RUTHER, 2017).
A capacitação do profissional de saúde é ponto chave para a melhoria do acesso da população LGBT aos serviços de saúde, para além da discriminação, de modo que a oferta de serviços não esteja restrita à prevenção de HIV/AIDS, e sim ao atendimento integral das necessidades de saúde (MONTEIRO; BRIGEIRO, 2019).
Descrição
Foram realizadas interconsultas em enfermagem e nutrição à população LGBT no Centro de Cidadania LGBT e Igualdade Racial nos turnos manhã e tarde, em demanda livre. Os atendimentos foram feitos por residentes Multiprofissionais em Saúde da Família e Comunidade da Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba e Prefeitura Municipal de João Pessoa.
A partir do diálogo com os trabalhadores do serviço surgiu a iniciativa da oferta de serviços por parte dos dois núcleos profissionais e junto à gestão foi elaborado um plano de atividades.
A divulgação da programação ocorreu por meio dos trabalhadores do serviço e pelas redes sociais. Os serviços ofertados foram: aferição de pressão arterial, orientações em saúde sexual e reprodutiva e promoção e prevenção de doenças crônicas transmissíveis e não-transmissíveis.
Período de realização
As atividades ocorreram no período entre 21 e 22 de maio de 2019, nos turnos manhã e tarde.
Objetivo
Relatar a atuação multiprofissional em saúde para a população LGBT no Centro de Cidadania LGBT e Igualdade Racial do município de João Pessoa, PB.
Resultados
Os usuários foram acolhidos de maneira integral, levando em consideração as demandas em saúde negligenciadas devido à discriminação e estigmatização sofridas que colocam como centro as questões sexuais.
O espaço criado para orientações nutricionais e orientações de enfermagem trouxe aos usuários do serviço oportunidades de autonomia para o cuidado, proporcionando a eles uma nova perspectiva de assistência.
Aprendizados
Através desta experiência, percebemos como o comportamento sexual que difere do heteronormativo é alvo constante de preconceito e discriminação, influenciando o processo saúde-doença desses usuários, que com relações familiares e sociais prejudicadas e muitas vezes abalados emocionalmente ou vítimas de violências, vêem os serviços do Centro como única forma de apoio.
Quando o serviço é organizado de forma a acolher integralmente as demandas e necessidades dessa população, o sujeito se reconhece como pertencente daquele espaço, tornando-se protagonista desses processos.
É necessário um olhar multifacetado dos profissionais e trabalhadores de saúde frente à realidade da população LGBT, de forma que a discriminação e exclusão sejam reduzidas, a fim de promover um atendimento humanizado, igualitário e holístico.
Análise crítica
Durante nossa experiência no Centro de Cidadania LGBT foi possível perceber que esse serviço funciona para esses usuários como meio de adentrar o sistema, seja devido demandas da saúde, questões jurídicas ou para demandas sócio-econômicas, como oportunidades de trabalho ou cadastros em programas sociais.
Apesar de todas as ofertas de serviços e do centro estar localizado estrategicamente, a procura pelo serviço ainda mostra-se reduzida. Segundo os trabalhadores, isso parece ocorrer devido à falta de conhecimento dos trabalhadores de saúde à respeito da rede para referenciar ao serviço, fragilidade na divulgação e à resistência da população LGBT para buscar o apoio necessário.
Nesse sentido é necessária a reflexão sobre o processo de trabalho, assim como a compreensão, sensibilidade e enfrentamento dos gestores e profissionais de saúde sobre as mudanças necessárias no campo da APS e a organização de suas linhas de cuidado na perspectiva de atender as necessidades e demandas do público LGBT, pois quando não incorporadas contribuem para fragilidade na construção de vínculo, aumento dos riscos e agravos à saúde, a busca pelos serviços de nível secundário e reforça a demanda queixa-conduta com uma visão biomédica e hospitalocêntrica dessa população.
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