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Grupos Temáticos

29/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-15B - GT 15 - Saúde e Narrativas de Si

30975 - REDE TRANS EM CONSTRUÇÃO NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO: UM OLHAR INTERSECCIONAL SOBRE A SAÚDE MENTAL DE TRAVESTIS E TRANSEXUAIS EM SITUAÇÃO DE RUA
UESLEI SOLATERRAR DA SILVA CARNEIRO - UFRJ, LAURA LOWENKRON - UERJ


A segunda metade do século XX foi palco de um volume importante de pesquisas e artigos científicos em torno da existência trans. O que marca grande parte desses estudos é uma perspectiva patologizante dessas existências. Na contramão dessa direção, os estudos transviad@s serão o contra-poder, o contradiscurso que se opõe a uma interpretação biologizante e patologizante sobre a experiência trans e propõe uma nova interpretação para a relação corpo-sexualidade-gênero. (BENTO, 2014).
A pesquisa aqui proposta cumpre uma dupla função: a de contribuir para uma discussão generificada e transviada no campo da saúde mental e sustentar uma discussão da saúde mental e processos de subjetivação no campo dos estudos transviad@s. Para efetivar um diálogo e aproximação com esses campos de estudos, defende-se a perspectiva analítica interseccional (BRAH, 2006; PISCITELLI, 2008, McCLINTOCK, 2010; MOUTINHO, 2014).
A questão que orienta esta pesquisa é: como tem se dado a gestão do sofrimento de pessoas transgêneros que vivem ou já viveram na rua e quais estratégias para o cuidado de si essas pessoas estão lançando mão? A pesquisa tem como objetivo geral compreender como tem se dado a gestão de sofrimento de pessoas transgêneros que vivem ou já viveram na rua e quais estratégias estão lançando mão para o cuidado de si na cidade do Rio de Janeiro.
Diante da natureza da pesquisa, aposto numa forma específica de construir uma etnografia: a etnografia multisituada (MARCUS, 1995; TOGNI, 2014). Para o desafio de se aproximar de “sujeitos nômades”, marcados pelo “ethos travesti” e que seguem ocupando o lugar da “margem compulsória” (BRAIDOTTI, 2000; CECÍLIA PATRÍCIO, 2002; PELÚCIO, 2009; PERES, 2012) a etnografia multisituada parece ser uma ferramenta que oferecerá importante contribuição. A proposta é que a mesma ocorra em duas esferas diferentes. Os espaços são projetos que tive acesso em pesquisa preliminar e compõe o que estou entendendo como uma “rede trans em construção”. A saber: “serviço noturno do Caps Miriam Makeba” e a ONG “A casinha”.
A proposta atual do percurso metodológico está pensada a partir de três tempos. No primeiro: realizou-se pesquisa preliminar de mapeamento da “rede trans em contrução”. Posteriormente, pretende-se aprofundar o acompanhamento da rotina dos dois projetos supracitados. Como terceiro e último tempo, espera-se aprofundar a história de vida de 03 a 05 pessoas que se autodefinem como travestis e transexual (tentando garantir a heterogeneidade em termos de formas de identificação com “travesti”, “homem trans” e “mulher trans”) que atuam no projeto ou que transitam por ele e vivem ou já viveram na rua para reconstruir, de forma sistemática, o que estou entendendo como o itinerário de vulnerabilização e a construção do cuidado de si.
Diante das andanças e trilhas inicias, das trocas e diálogos percebo que há uma “rede”, ainda informal e não institucionalizada, sendo costurada com dificuldades, mas a muitas mãos. A pesquisa preliminar funcionou muito mais como uma andança que me permitiu encontros e trilhas iniciais no universo transviado. Os encontros ocorreram entre os dias 04 de outubro e 08 de novembro, período no qual conversei com duas mulheres transexuais vinculas ao projeto de “promoção da saúde e redução de danos” da prefeitura municipal do Rio de Janeiro, o “Bikes da prevenção”, com o projeto “Transacessos”, o “serviço noturno” do CAPS Miriam Makeba, a “Oficina: rede de atenção à saúde da população trans”, do Centro Municipal de Saúde Heitor Beltrão, e a ONG “A casinha”.
A partir da aproximação com a abordagem interseccional tenho refletido sobre o desafio e a potência de se lançar num movimento a partir da realidade, a partir do contato com as pessoas e suas histórias de vida para pensar em quais diferenças, de fato, fizeram diferença na vida dessas pessoas, para além do enquadramento em categorias previamente estabelecidas. Sendo assim, por que não considerar as categorias de modo interseccionais para se pensar as políticas públicas de saúde para a população aqui em questão? Contra a construção de sujeitos universais (sem classe, cor, sexo, lugar, gênero, saúde mental) se aposta no saber localizado (HARAWAY,1995).
Em última instância, a aposta que se faz aqui é a de que ao falar sobre projetos de cuidado marcados pela exclusão, pela invisibilidade e violência está se falando no engendramento de diferentes projetos societários, diferentes respostas sociais para os diferentes tipos de pessoas (COUTINHO, 2000; SOLATERRAR, 2018). Pessoas estas que são reiteradamente colocadas no lugar da ralé (SOUZA, 2003), dos grupos difamados (ARENDT, 1999), enfim, no quarto de despejo (JESUS, 1960) aos quais só cabem as inúmeras e repetidas situações de humilhação social (GONÇALVES FILHO, 1998). Pensar na gestão desses lugares, seus atravessamentos, sofrimentos e agenciamentos possíveis é tarefa que a perspectiva analítica interseccional e seu convite a desnaturalização tem muito a contribuir.

local do evento

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