29/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-15C - GT 15 - Saúde e Narrativas de Si |
30461 - IDEAÇÃO SUICIDA ENTRE TRAVESTIS E TRANSEXUAIS ASSISTIDAS POR ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE GLAUBER WEDER DOS SANTOS SILVA - UFRN, KARINA CARDOSO MEIRA - UFRN, SUERDA LILLIAN DA FONSECA LINS - UFRN, ROMEIKA CARLA FERREIRA DE SENA - UFRN, DULCIAN MEDEIROS DE AZEVEDO - UERN, FRANCISCO ARNOLDO NUNES DE MIRANDA - UFRN
O suicídio é um agravo à saúde com causalidade multifatorial. Contudo, a literatura aponta maior risco de lesão autoprovocada e tentativas de suicídios em pessoas com problemas psiquiátricos, do sexo masculino, jovens adultos, idosos e com ideação suicida. Conceitua-se Ideação suicida como todo processo desde a idealização até a elaboração da morte autoprovocada. Nesse contexto, há evidências de maior risco de ideação suicida e suicídio em travestis e transexuais quanto comparados à população geral, devido à sua exposição cotidiana à violências associadas à transfobia. Frente ao exposto, o presente estudo teve como objetivo estimar a prevalência e os fatores associados à ideação suicida em travestis e transexuais assistidos por organizações não-governamentais do estado do Rio Grande do Norte. Realizou-se um estudo transversal, com 58 travestis e transexuais associadas a quatro organizações civis do Rio Grande do Norte. Estas ONGs são sediadas em duas microrregiões do estado e com membros em todo o território estadual. Desse modo, foram cenários desse estudo a Associação Potiguar de Travestis e Transexuais na Ação pela Coerência no RN; a Associação das Travestis Encontrado a Valorização e Atuação na Saúde Santa-cruzense; a Associação de Homens-Trans Potiguares; e a Associação de Travestis Reencontrando a Vida. Considerou-se transexual ou travesti como toda pessoa que se autodeterminou por acreditar não existir correspondência – socialmente imposta – entre seu sexo biológico e a identidade de gênero, independente da resignação sexual, terapia hormonal ou retificação de prenome no Registro Geral. É importante destacar que participaram deste estudo homens-trans (designado mulher ao nascimento, mas que se identificam com o gênero masculino); mulheres-trans (designado homem ao nascimento, mas que se identificam com o gênero feminino); e travestis (categoria político-cultural latina que é designada homem ao nascer, assumem papel feminino na vida adulta, porém, não se reconhecem como homens ou mulheres, mas um terceiro gênero). Os critérios de inclusão foram: (i) ter idade igual ou superior a 18 anos; (ii) auto-identificar-se como pessoa trans. Excluíram-se os candidatos que (i) se associaram a alguma das ONGs durante a coleta de dados; (ii) que não estavam residindo no RN (BR); (iii) e pessoas intersexuais ou auto-identificadas não-binários. O estudo seguiu as normas de pesquisa envolvendo seres humanos em atenção à Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil, com submissão à Plataforma Brasil e aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, parecer nº 1.314.559 em 09 de novembro de 2015. O formulário roteirizado foi respaldado pela literatura sobre a temática e conteve questões com os seguintes grupos de variáveis: (i) Dados sociodemográficos ;(ii) Histórico de saúde (iii) Histórico de violência sofrida – vitimização, tipologia, espacialidade, agressores, expulsão do núcleo familiar em razão da identidade de gênero, respeito integral ao nome social, vergonha de si e da identidade de gênero; (iv) Comportamento suicida .Em relação aos instrumentos de avaliação da depressão e IS optou-se, respectivamente, pelo Inventário de Depressão de Beck (BDI) e Escala de Ideação Suicida de Beck (BSI), as quais foram validadas para o português em 2001. Na adequabilidade da versão em português, originalmente, testou-se a fidedignidade dos instrumentos com coeficiente alfa de cronbach, alcançando-se excelente consistência interna. Avaliou-se a diferença entre as categorias por meio do Teste Qui-quadrado, Exato de Fisher e Razão de Verossimilhança. Realizou-se a análise múltipla através da Regressão de Poisson com variância robusta. A prevalência de ideação suicida foi de 41,4% (IC95% 41,3-54,51%). Observou-se que apresentaram maior prevalência de ideação suicida os participantes que referiram não ter espiritualidade (RP=1,16; IC95% 1,01-1,34), os indivíduos classificados com nível depressivo moderado ou grave (RP=1,33; IC95% 1,15-1,54), histórico de violência na escola (RP=1,24; IC95% 1,08-1,43) e com tentativa pregressa de suicídio (RP=1,19; IC95% 1,02-1,38). Ser expulso do núcleo familiar em razão da identidade de gênero apresentou-se como um fator de proteção para a presença de ideação suicida (RP=0,81; IC95% 0,70-0,94). Este estudo teve caráter situacional e alerta para que as instituições estatais e sociais promovam ações de prevenção, intervenções e implementação de políticas que objetivem o controle da IS e seus agravantes. O caráter associativo e coletivo em ONGs dos participantes da pesquisa pode ainda ter conferido fator protetivo para o desenvolvimento e rastreamento da ideação suicida, sendo possível que entre indivíduos não associados os resultados para ideação e suicídio sejam exponencialmente alarmantes. Recomenda-se a realização de outras investigações que alcancem recortes populacionais e delineamentos metodológicos na transgeneridade.
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