29/09/2019 - 15:00 - 16:30 EO-15D - GT 15 - Ciência e Educação |
30294 - TRANSEXUALIDADE E SAÚDE COMO OBJETO DE ESTUDO NOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU DO BRASIL: UM ESTUDO BIBLIOMÉTRICO RAFAEL RODOLFO TOMAZ DE LIMA - UFRN, TAIANA BRITO MENÊZES FLOR - UFRN, PEDRO HENRIQUE DE ARAÚJO - UFRN, LUIZ ROBERTO AUGUSTO NORO - UFRN
INTRODUÇÃO: A transexualidade tem sido objeto de políticas públicas nos últimos anos a partir do reconhecimento das vulnerabilidades em que vivem as pessoas trans. Na área da saúde, é relativamente recente a proposição de uma política nacional de saúde direcionada a esta população, publicada apenas em 2011. Além da implementação de uma política de saúde, é preciso produzir conhecimento científico para subsidiar novas ações para o enfrentamento dos desafios ainda existentes. Outrossim, é preciso disseminar esse conhecimento. Este estudo se justifica pela necessidade de conhecer o perfil das pesquisas realizadas sobre transexualidade e saúde na pós-graduação Stricto Sensu, vislumbrando a detecção de tendências sobre a abordagem desta temática. OBJETIVO: Caracterizar o perfil da produção científica sobre transexualidade e saúde nos Programas de Pós-Graduação (PPG) Stricto Sensu do Brasil. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo bibliométrico, o qual analisa a produção científica sobre determinado assunto por meio de dados quantitativos, com o intuito de apresentar um panorama ou apontar tendências do desenvolvimento científico. As unidades de análise corresponderam a teses e dissertações oriundas do Catálogo de Teses e Dissertações (CTD) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), cujo tema de pesquisa abordava a interface entre transexualidade e saúde. A busca dos documentos ocorreu em maio de 2019, utilizando a seguinte estratégia: [travesti OR transgênero OR transexual OR transexualidade] AND saúde. Não foi delimitado filtro relativo ao ano da publicação. A partir da busca, foram identificados 84 documentos os quais passaram por processo de leitura dos elementos de identificação e resumo. 32 trabalhos foram excluídos por não abordarem a temática investigada e 5 por serem estudos de revisão bibliográfica. Nesta etapa, foram extraídas as seguintes variáveis: título do trabalho, tipo do trabalho (dissertação ou tese), curso (mestrado acadêmico, mestrado profissional ou doutorado), ano de publicação, área de concentração do PPG, Instituição de Ensino Superior (IES), categoria administrativa da IES, unidade federativa da IES e abordagem metodológica do estudo (qualitativa ou quantitativa). Os dados foram tabulados no aplicativo de planilhas Google® e analisados por meio de estatística descritiva (análise de frequências). A análise dos dados também ocorreu em maio de 2019. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Dos 47 trabalhos selecionados, 38 (81%) são dissertações e 9 (19%) são teses. A maioria das dissertações, totalizando 34 (89%), advém de cursos de mestrado acadêmico. De 1997 a 2011, ano de publicação da Política Nacional de Saúde Integral LGBT, havia 8 produções sobre transexualidade e saúde registradas no CTD. Entre 2012 e 2018, foram encontradas 39 produções registradas, sobretudo 15 produções em 2018, representando um aumento de 400% das produções. As teses e dissertações foram desenvolvidas em PPG Stricto Sensu de diferentes áreas e as maiores porcentagens provêm dos PPG em Saúde Coletiva (26%), PPG em Psicologia (17%) e PPG em Antropologia Social (11%). 44 estudos, 94% do total, foram desenvolvidos em IES públicas. Desses, 30 (68%) derivam de IES federais e 32 (73%) de IES localizadas no eixo Sul-Sudeste do Brasil. Ainda acerca das teses e dissertações sobre transexualidade e saúde, a abordagem qualitativa foi a mais utilizada (87%) e seis temas apresentaram destaque: processo transexualizador no Sistema Único de Saúde (SUS) (48%); acesso de pessoas trans aos serviços de saúde (21%); percepções de profissionais de saúde sobre a transexualidade (13%); despatologização das identidades trans (6%); saúde mental das pessoas trans (6%); e infecção e adoecimento de pessoas trans por HIV/AIDS (6%). A análise bibliométrica revela mudanças nas pesquisas sobre transexualidade e saúde no Brasil no decorrer das duas últimas décadas. Após a publicação da Política Nacional de Saúde Integral LGBT, decorrente da luta de movimentos sociais, houve um aumento desses estudos nos PPG Stricto Sensu do país. Ademais, os estudos diminuíram o enfoque no adoecimento das pessoas trans, principalmente em relação às infecções sexualmente transmissíveis, e aumentaram o enfoque nos aspectos sociais, organizacionais e políticos que interferem na busca e no acesso das pessoas trans aos cuidados em saúde. Entretanto, o desenvolvimento dos estudos em questão acontece de forma desigual, com uma forte concentração nas IES públicas das regiões Sul e Sudeste. CONCLUSÕES: O estudo evidenciou uma tendência maior de teses e dissertações sobre o processo transexualizador no SUS ao longo dos últimos anos. É relevante expandir a realização de pesquisas que identifiquem as necessidades de saúde das pessoas trans, contribuindo com a produção científica e com a implementação de ações que diminuam as vulnerabilidades sociais, garantindo a existência de um SUS universal e equânime diante de um cenário de avanço de atos conservadores.
|