29/09/2019 - 15:00 - 16:30 EO-15D - GT 15 - Ciência e Educação |
30373 - EDUCAÇÃO E TRABALHO INTERDISCIPLINAR NA ASSISTÊNCIA À SAÚDE DE HOMENS TRANSGÊNERO ALINE VERAS MORAIS BRILHANTE - UNIFOR, CHRISTINA CÉSAR PRAÇA BRASIL - UNIFOR, SÍLVIO ALBERTO ALVES MOREIRA RÊIS - UNIFOR / IERSA, ERIKA RAVENA BATISTA GOMES - UNIFOR / IERSA, THUANNY MIKAELLA CONCEIÇÃO SILVA - UNIFOR / IERSA
CONTEXTUALIZAÇÃO: A heteronormatividade hegemônica reflete-se em práticas assistenciais permeadas pelo cerceamento dos direitos humanos básicos, como o direito à saúde (ALBUQUERQUE ET AL, 2016). O discurso acadêmico – ou seu silêncio – diz muito sobre a exclusão dos corpos LGBTTI (TEIXEIRA, 2011; 2013). Seja por sua invisibilidade seja pela patologização de suas características e afetos (Mello, 2012; Cardozo, Ferro, 2012) é frequente que a violência normativa (Butler, 2004) seja convertida em violência institucional (Aguiar, 2011), comprometendo o acesso à assistência à saúde. A desqualificação da assistência é reforçada por sua exclusão curricular e pela fragmentação do cuidado (Mello, 2012; Cardozo, Ferro, 2012). DESCRIÇÃO: Este relato de experiência apresenta um projeto-piloto implantado em núcleo de assistência à saúde de uma Instituição de Ensino Superior de Fortaleza, Ceará, Brasil, que presta assistência interprofissional a homens trans. PERÍODO DE REALIZAÇÃO: De outubro de 2016 a outubro de 2018. OBJETIVOS: Relatar a experiencia de um ambulatório de ginecologia que assiste homens trans. RESULTADOS: O serviço surgiu da demanda dos próprios usuários, que não conseguiam assistência em ambulatórios de ginecologia na atenção primária ou secundária, por recusa dos profissionais além de outras formas de violência institucional. Não há, contudo, qualquer diferença técnica na assistência ginecológica a ser prestada, além de respeito a identidade de gênero, empatia e habilidades de comunicação. Na implantação foi realizado um trabalho de conscientização com recepcionistas, seguranças, técnicos de enfermagem, funcionários do laboratório e do serviço de ultrassonografia, sendo pactuada a garantia do nome social como principal meio de identificação. O acolhimento destes pacientes era realizado por acadêmicas de psicologia. Diante da vacância curricular da temática, os acadêmicos de medicina que participariam desses ambulatórios passavam por um treinamento prévio, onde eram trabalhados aspectos conceituais e questões éticas e relativas a direitos humanos. A escuta ativa sobre a violência institucional prévia revelou que diante da desassistência estrutura-se uma rede informal de saúde, incluindo a auto-medicação, levando-os a se afastar cada vez mais de um sistema que não faz o devido esforço para acolhê-los e os priva do acesso à saúde como um direito fundamental. Algumas demandas principais foram identificadas: 1. Necessidade de trabalhar a temática na academia; 2. Necessidade de integrar outros ambulatórios, como endocrinologia, fononoaudiologia e psiquiatria; 3. Necessidade de trabalhar os profissionais nos serviços sobre os direitos dessas pessoas. Os relatos dos pacientes foram cruciais para retroalimentar as práticas na experiência ora relatada. Os profissionais orientaram-se por esses relatos a fim de prestar uma assistência interprofissional centrada nas necessidades dos usuários do serviço. Além disso, existe uma auto-análise perene a fim de se escapar à lógica da patologização das sexualidades. Após cada atendimento, os usuários foram convidados a avaliar o serviço desde a recepção até o atendimento final, a fim de fornecer subsídios para aprimoramento da assistência. Após todos os atendimentos do dia, reuniam-se profissionais da saúde, internos e/ou residentes e estudantes de psicologia para debaterem as experiências vividas, as particularidades da assistência, as necessidades específicas das pessoas assistidas, bem como estratégias para atender essas demandas. Nesses momentos, os(as) acadêmicos(as)e/ou residentes, de modo geral, enfatizaram o silenciamento sobre a população trans nos currículos acadêmicos. O trabalho interprofissional e a importância da educação interprofissional em saúde são fundamentais no acesso à saúde todas as populações, e isso não é diferente quando falamos de pessoas trans. APRENDIZADO: A centralidade dos usuários é basilar ao processo social e político de construção do SUS (Brasil, 1990). No caso particular desta experiência, essa centralidade, além de favorecer a colaboração interprofissional (Furtado, 2007), foi fundamental para o estabelecimento de uma assistência que escape à lógica da patologização das sexualidades. ANÁLISE CRÍTICA: Este contexto contribui para a formação de profissionais mais aptos para enfrentar problemas do modelo de atenção e da força de trabalho em saúde, contribuindo para fortalecimento do sistema de saúde e dos princípios de universalidade do acesso, integralidade, participação social e a atenção básica à saúde como ordenadora do cuidado. O serviço está em processo de reestruturação devendo retornar em agosto de 2019.
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