29/09/2019 - 15:00 - 16:30 EO-15D - GT 15 - Ciência e Educação |
30607 - OS GRUPOS DE PESQUISA DO CNPQ E A POPULAÇÃO LGBT (LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS, TRAVESTIS E TRANSEXUAIS): (IN)VISIBILIDADES DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA NACIONAL RENATO BARBOZA - INSTITUTO DE SAÚDE (SES/SP), INSTITUTO DE PSICOLOGIA (USP), ALESSANDRO SOARES DA SILVA - ESCOLA DE ARTES, CIÊNCIAS E HUMANIDADES, INSTITUTO DE PSICOLOGIA (USP)
Apresentação/Introdução: O último censo dos grupos de pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) realizado em 2016 identificou 531 instituições produtoras de conhecimento científico, responsáveis por 37.640 grupos que agregam 199.566 pesquisadores. No país, poucos estudos investigaram a produção de conhecimento sobre LGBT, temática que ainda encontra resistência no lócus acadêmico. Objetivos: Analisar a distribuição dos grupos de pesquisa registrados na base corrente do “Diretório dos Grupos de Pesquisa do Brasil – Lattes”, quanto à produção de conhecimento científico voltado à população LGBT. Metodologia: Estudo exploratório, descritivo, quantitativo, baseado no inventário dos grupos de pesquisa cadastrados até 28/09/2018. Foram identificados 86 grupos, sendo 71 registrados como “certificados” pelas instituições; 4 “em preenchimento” e 11 “excluídos”. Descartamos os grupos excluídos, perfazendo 75 grupos de pesquisa elegíveis, os quais constituem o universo analisado. Foram coletadas as variáveis: nome da instituição, caráter da instituição (pública ou privada), localização (estado e macrorregião), nome do grupo, ano de formação, situação do grupo (“certificado”, “em preenchimento” ou “excluído”), área de conhecimento predominante e área de conhecimento específica, segundo a classificação do CNPq, número de pesquisadores/titulação e número de linhas de pesquisa. Os dados foram organizados em planilha Excel e submetidos à análise descritiva baseada em frequências absolutas e relativas. Resultados e discussão: Constatamos que 81,3% dos grupos têm até uma década de atividade científica, revelando que a produção sobre a população LGBT é um tema emergente na agenda de pesquisa. Não obstante o crescimento dos grupos no último censo, aqueles que abordam a temática LGBT correspondem somente a 0,19% do total do país. Apesar de presentes em todas as macrorregiões, concentram-se majoritariamente nas regiões Sudeste (44%) e Nordeste (26,7%) e estão vinculados às instituições públicas (82,7%), contra 17,3% das privadas, abrangendo 16 estados e o Distrito Federal. Foram identificados 632 pesquisadores, sendo 482 doutores (76,3%) e 150 mestres (23,7%), indicando uma razão de 3,2 doutores/mestre. Nas instituições públicas aferimos 526 pesquisadores, sendo 76,8% doutores e 23,2% mestres e nas privadas 106 pesquisadores, 73,6% e 26,4%, respectivamente, evidenciando uma proporção semelhante. A distribuição dos pesquisadores variou de 1 a 32 pesquisador/grupo. Verificou-se que 73,3% possuem até 10 pesquisadores, sendo 40% na faixa de 1 a 5 pesquisadores e 33,3% de 6 a 10 pesquisadores. O capital intelectual é oriundo, sobretudo de três grandes áreas de conhecimento: Ciências Humanas (56%), Ciências Sociais Aplicadas (21,3%) e Ciências da Saúde (13,3%), além da área de Linguística, Letras e Artes (6,7%) e das Ciências Biológicas e Ciências Exatas e da Terra (1,3% cada). No que concerne às áreas específicas, as quais delimitam o campo de inserção dos pesquisadores, averiguamos a existência de 20 áreas, demonstrando assim, a diversidade e a interdisciplinaridade na produção desses saberes. Entretanto, entre as cinco principais áreas de estudos LGBT (N= 43) que respondem por 57,3% dos grupos do país, destacaram-se a Educação (27,9%), a Psicologia (23,3%), a Sociologia (20,9%), a Saúde Coletiva (16,3%) e a Antropologia (11,6%), revelando o protagonismo das Ciências Humanas, exceto no caso da Saúde Coletiva, campo interdisciplinar de produção de saberes e práticas, mas pertencente às Ciências da Saúde. Constatou-se que 55,8% dos grupos possuem até 3 linhas de pesquisa (N=43) e 66,7% têm 4 a 6 linhas (N=21), ambos das Ciências Humanas. Entre os grupos com maior número de linhas, ou seja, 7 a 9 (N=7) e 10 ou mais (N=4), destacaram-se os vinculados às áreas das Ciências Humanas e das Ciências da Saúde, respectivamente 28,6% e 50%. Conclusões/Considerações Finais: O esquadrinhamento dos grupos de pesquisa registrados no CNPq permitiu identificar e conferir visibilidade à produção científica brasileira voltada à população LGBT. Esses dados podem subsidiar discussões sobre as prioridades das agendas de pesquisa, bem como sobre a formação conduzida pelas instituições de ensino superior e pelos institutos públicos de pesquisa. No atual cenário de crise política e de avanço das forças sociais conservadoras, aliado à drástica redução dos recursos públicos investidos no fomento à Ciência, sobretudo nas Ciências Humanas, a sustentabilidade dos grupos dedicados à produção de saberes e de processos de avaliação das práticas sociais no âmbito das políticas públicas da Saúde e da Educação estão sob ameaça.
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