28/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-28A - GT 28 - Saúde, Currículo, Formação: Experiências, Vivências, Aprendizados e Resistência Sobre Raça, Etnia, Gênero e Seus (Des)Afetos: Atores Sociais |
30134 - DIFERENÇAS SOCIAIS COM BASE NO SEXO E GÊNERO: RELATO DE EXPERIÊNCIA DA CONSTRUÇÃO COLETIVA DO CONHECIMENTO EM SAÚDE FLÁVIA LIPARINI PEREIRA - UNICAMP, MÔNICA CAICEDO-ROA - UNICAMP, LUANA MARÇON BOTTEON - UNICAMP, NELSON FILICE DE BARROS - UNICAMP
Contextualização:
A experiência se desenvolveu durante o curso “Elementos Teóricos de Ciências Sociais em Saúde I” ofertado pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (FCM – UNICAMP). O curso propôs que as(os) estudantes em formação em Saúde Coletiva desenvolvessem a investigação, estruturação e síntese teórico-conceitual sobre a temática sexo/gênero no âmbito das ciências sociais e saúde coletiva, assumindo uma perspectiva ativa de produção do conhecimento com agência e autonomia das(os) estudantes.
Descrição:
O processo se desenvolveu em quatro etapas principais: 1. As(os) estudantes receberam uma questão norteadora: “Como se constroem as diferenças sociais com base no sexo e gênero?”; 2. Individualmente as(os) estudantes consultaram os textos que consideraram relevantes para o desenvolvimento de um resumo sobre o tema abordado; 3. Foi realizada uma discussão na sala de aula, onde as(os) estudantes trouxeram suas conclusões e reflexões do processo de aprendizado; 4. Coletivamente foi elaborado um texto sintetizando os resumos individuais de todas(os) as(os) estudantes e apresentado em seminário.
Período de realização:
A construção coletiva do conhecimento sobre as diferenças sociais com base no sexo e gênero ocorreu no 1º semestre de 2018.
Objetivos:
Esse relato de experiência teve como objetivo analisar os resumos de pesquisa individual e compartilhar as reflexões construídas individualmente e coletivamente em sala de aula na formação de profissionais em Saúde Coletiva sobre o tema das diferenças sociais com base no sexo e gênero.
Resultados:
O total de 24 estudantes do mestrado e doutorado em Saúde Coletiva disponibilizaram seus resumos para a construção do texto coletivo. Elas(es) consultaram 102 textos nos idiomas inglês, espanhol e português. As(os) estudantes utilizaram em média seis referências para elaborar os textos, com mínimo de 2 e máximo de 17, datadas entre o ano de 1982 e 2018, sendo que 50% dos textos foram publicados nos últimos nove anos. Do total de 102 textos, os mais consultados foram: 1- “Gênero: uma categoria útil de análise histórica” (SCOTT, 2012); 2- “Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade” (BUTLER, 2003); 3- “Diferença e igualdade nas relações de gênero: revisando o debate” (ARAÚJO, 2005); 4- “História da sexualidade I: A vontade de saber” (FOUCAULT, 1985); 5- “Política Nacional de Saúde Integral de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais”, (BRASIL, 2013).
Aprendizados:
O conceito de sexo, em grande parte dos textos, está relacionado aos aspectos genitais, cromossomáticos e hormonais. Já o conceito de gênero está associado aos seguintes aspectos: 1- classificação de relações sociais construídas histórico-culturalmente a partir das definições de sexo (SCOTT, 2012); 2- um artifício flutuante relacionado a uma “categoria múltipla e relacional que abarca códigos linguísticos institucionalizados e representações políticas e culturais” (BUTLER, 1987; 1999; 2003); e 3- uma forma de incorporação prostética que se fazem passar por naturais, mas que estão sujeitos a processos de transformação e de mudanças constantes (PRECIADO, 2014). São enormes as diferenças sociais produzidas com base no sexo e gênero das pessoas. Enquanto as imagens das mulheres são comumente utilizadas como produto/mercadoria de propaganda, sua presença em posições de destaque e poder são reduzidas, com menos de 5% das mais poderosas lideranças de negócios, menos de 25% da representação parlamentar no mundo e também pequena participação na direção de instituições religiosas, das ciências e tecnologia (CONNELL & PEARSE, 2015). Ainda que não tenham sido apresentados estudos comparativos nos resumos individuais sobre a população de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros e Queer (LGBTQ), observou-se que as diferenças sociais são ainda maiores nestas populações. Discutiu-se que todos os modos de viver que não se encaixam nos modos patriarcais e nos preceitos religiosos tendem a não ter reconhecimento de seu lugar na sociedade, ficando assim abjetos e marginalizados. Essas representações mantêm historicamente o padrão de desigualdades entre os gêneros.
Análise crítica:
O importante desta experiência foi construir e compreender coletivamente a noção classificatória em torno do sexo/gênero e as demarcações dos corpos a partir de práticas altamente reguladas. Concluímos que as diferenças sociais com base no sexo e no gênero são determinadas por construções sociais normatizadas pelas diversas instituições e que privilegiam homens heterossexuais e o binarismo homem/mulher. Não se enquadrar nas normas regulatórias binárias de gênero significa enfrentar um estigma e discriminação na sociedade e ser mulher significa carregar uma série de estereótipos relacionados com a apropriação dos nossos corpos.
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