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Grupos Temáticos

28/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-28A - GT 28 - Saúde, Currículo, Formação: Experiências, Vivências, Aprendizados e Resistência Sobre Raça, Etnia, Gênero e Seus (Des)Afetos: Atores Sociais

30943 - “HOJE É DIA DE BRANCO”: A BRANQUITUDE DE MÉDICOS DE FAMÍLIA DE JUIZ DE FORA/MG E A EQUIDADE RACIAL NO CUIDADO À SAÚDE
MARCELO DOS SANTOS CAMPOS - UFJF


O racismo cultural e institucionalizado representa um fenômeno estruturante da sociedade brasileira, sendo um determinante social no processo de saúde e doença da população negra e responsável pelas desigualdades e iniquidades raciais em saúde no Brasil, de acordo com vários estudos. Não obstante a relevância de tal fato, há uma invisibilidade dessa temática nos espaços de formação médica, majoritariamente brancos, o que reforça a negligência da questão racial nas práticas de cuidado em saúde e a manutenção da objetificação do negro nas ralações que constituem esse processo de cuidado. Essa pesquisa de mestrado do PPG em Saúde Coletiva da UFJF/MG, embasada nos estudos críticos da branquitude, tem como objetivo identificar, a partir das características da branquitude de médicos de família, práticas e comportamentos de racismo e/ou antirracismo que possam se relacionar com a promoção da igualdade e/ou desigualdade racial em saúde e, consequentemente, promoção da equidade e/ou iniquidade racial no cuidado em saúde. Para tanto, realizo uma pesquisa de natureza qualitativa, na qual participam quinze médicos de família autodeclarados brancos e em atuação no município de Juiz de Fora/MG. Todos foram submetidos a entrevistas semiestruturadas, as quais abordaram as trajetórias de vida acadêmica e profissional; a relação com negros; o entendimento sobre raça e o uso do quesito raça/cor nos formulários do SUS; compreensão e exercício do cuidado e da equidade nas práticas médicas; a observância da equidade racial de forma geral e na relação com pacientes negros; determinações sociais de adoecimento da população negra e percepções do que é ser negro e branco na sociedade brasileira. As entrevistas foram transcritas e submetidas à técnica de análise temática de Bardin. Embora incipiente, o tratamento dos resultados já evidencia algumas interpretações relevantes. Destaca-se a percepção de incômodo por parte de todos os entrevistados com o objeto da pesquisa, seja em manifestações verbais de desconforto com a temática, como nas produzidas pelos silêncios e outras demonstrações de inquietação. A maioria dos entrevistados teve a trajetória marcada por relações sociais e afetivas quase exclusivamente com brancos, referindo-se aos eventuais relacionamentos com negros de maneira antecipadamente defensiva, afirmando a inexistência de qualquer forma de preconceito. A palavra “racismo” apareceu apenas uma vez no material transcrito, evidenciando a dificuldade dos brancos de se confrontarem e implicarem com a questão racial, uma das características da branquitude. Todos afirmaram não ter tido nenhum contato com a temática racial em suas formações profissionais, excetuando no que se refere ao estudo de determinadas patologias mais prevalentes na raça branca ou negra, e a maioria afirma ser esse conteúdo suficiente para a atenção à saúde de seus pacientes negros. Tal fato evidencia-se na importância dada ao quesito raça/cor nos formulários do SUS. Nem todos fazem preenchimento e apenas alguns o fazem respeitando a autodeclaração. Nenhum entrevistado referiu importância dos estudos epidemiológicos para avaliação das iniquidades raciais em saúde, mas tão somente para estabelecimento de prevalência de patologias. Quando apresentados aos dados das desigualdades raciais em saúde, apenas três entrevistados afirmaram reconhecer o preconceito racial como determinante de adoecimento e apenas um utilizou a palavra “racismo”. A maioria delegou para tais desigualdades as condições econômicas precárias do segmento populacional negro, o que demonstra uma evidente submissão à ideologia da democracia racial. Quando perguntados sobre o que é raça, todos demonstraram uma grande dificuldade nas respostas, as quais variaram desde à cor da pele e caracteres fenotípicos, à pertença cultural. Ficou também evidenciado uma outra característica da branquitude que é o não reconhecimento da própria racialização. Raça se refere tão somente ao não branco. Com relação à equidade racial, todos afirmaram não ver diferenças entre brancos e negros em seus atendimentos, reiterando a questão de classe. Apenas três entrevistados, quando questionados sobre o que é ser branco, afirmaram o lugar de privilégios materiais e simbólicos na sociedade. Esses fazem parte de um projeto de educação permanente que discute os recortes de raça, gênero e classe como determinantes para violação de direitos humanos. O restante respondeu que é ter cor branca, evidenciando uma não marcação identitária. Assim, evidencia-se o silenciamento da questão racial nesse campo de pesquisa, seja pelo desconhecimento da dimensão social do tema, como pelas estratégias da branquitude de não implicação na produção do racismo, o que nos aponta para a necessidade de introduzir essa discussão nos espaços de formação médica, com vistas à construção de uma criticidade referente aos pertencimentos raciais e ao enfrentamento do racismo para a promoção da equidade racial em saúde.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

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