29/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-28D - GT 28 - Saúde, Currículo, Formação: Experiências, Vivências, Aprendizados e Resistência Sobre Raça, Etnia, Gênero e Seus (Des)Afetos: Formação |
30791 - GÊNERO E SEXUALIDADE NA FORMAÇÃO MÉDICA: A PERSPECTIVA DOS ESTUDANTES DE UMA UNIVERSIDADE FEDERAL PEDRO MENDONÇA DE OLIVEIRA - UFSCAR, ALINE GUERRA AQUILANTE - UFSCAR
Introdução
A história da humanidade é marcada por diferentes estratégias de aquisição e manutenção de poder. Podemos entender por poder o exercício de manutenção de privilégios de classe. Michel Foucault utiliza o termo dispositivo para tratar destas estratégias. Dentre os principais dispositivos encontra-se a sexualidade, que ao longo da história foi entendida e manipulada de diferentes formas, com intuito de moldar a sociedade à maneira de garantir o exercício do poder.
Sabemos que a reboque deste dispositivo, existe uma inevitável hierarquização sobre os gêneros – homem x mulher (cis e trans), e todos os desdobramentos advindos das relações de gênero, nos mais diferentes contextos, entendendo, entre outros, que o exercício da sexualidade não se resume ao desejo e ato sexual.
A partir do século XIX, à medicina foi dado o direito de legislar sobre o tema, decidindo sobre o que é normal ou anormal. Desde então, a medicina está a serviço do biopoder, ditando regras sobre como as pessoas devem entender e vivenciar sua sexualidade, conforme convém aos que querem manter seus privilégios de classe, ora “patologizando” supostos desvios, ora reforçando comportamentos “saudáveis”, num movimento quase nunca consciente por parte daqueles que exercem a profissão.
Estratégias dentro do currículo formal, e no dito currículo oculto convergem para garantir uma prática profissional que explicite o discurso vigente da sexualidade, ao notar que o motivo fundamental de ser da medicina é, segundo Moretti “garantir possibilidade e condições de que, através do diagnóstico, promova-se a modificação, a regulação, a intervenção nos corpos, no ímpeto de corrigir os desvios e os desviantes segundo ao sadio vigente e socialmente de interesse ao capital. Concluindo ser, por estes intentos, uma formação cis-heteronormativa.
Elementos curriculares, extracurriculares, a metodologia de ensino, somados ao perfil cada vez mais heterogêneo dos integrantes nos cursos de medicina, podem criar condições de ressignificar o discurso sobre gênero e sexualidade, a fim de transformá-lo, não em instrumento de vigilância e poder, e sim como ferramenta em prol de auto-conhecimento e promoção de saúde, não só para aqueles que procuram os estabelecimentos de saúde, mas como para os próprios profissionais.
O Curso de medicina analisado conta com 40 vagas de ingresso anual, e utiliza metodologias ativas de ensino-aprendizagem na condução do curso, que confere protagonismo aos estudantes no processo de aprendizagem, apostando na aquisição de conhecimentos por meio de meta-cognição e meta-aprendizagem, ancorando novos conteúdos aos repertórios prévios de conhecimento dos próprios estudantes, apostando na Teoria da Aprendizagem Significativa, e tem no professor o papel de facilitador deste processo.
Objetivo
Apresentar resultados preliminares da pesquisa de mestrado que busca compreender como se trabalha o desenvolvimento de competências relacionadas a gênero e sexualidade durante o curso de medicina de uma universidade federal, sob a perspectiva dos alunos
Metodologia
Tratou-se de pesquisa qualitativa, na qual foi utilizada a técnica de grupos focais para a coleta de dados. Foram convidados estudantes do último ano da graduação, dentre os quais 15 aceitaram participar e foram divididos em 2 grupos focais. Os grupos foram gravados, transcritos e posteriormente analisados através do Método de interpretação dos sentidos.
Resultados e Discussão
Foram criadas categorias analíticas que permitiram desenvolver discussões acerca das contribuições das metodologias ativas na aquisição de competências relacionadas a gênero e sexualidade, a vivência dos estudantes nos diferentes cenários de prática relacionadas aos temas, preconceitos relacionados a gênero e sexualidade durante a formação e as sugestões para aprimorar as ofertas pedagógicas relacionadas aos temas. É notória a falta de preparo de docentes e preceptores para lidar com gênero e sexualidade, ainda que, segundo os estudantes, a metodologia ativa prepare adequadamente para a relação médico-paciente em suas diversas especificidades. Existe preconceito e violência institucional relacionada a gênero e orientações sexuais não-cis-heteronormativas, e houve experiências distintas relacionadas aos diversos campos de prática/níveis de atenção, e mesmo dentro dos mesmos estágios.
Conclusões/Considerações finais
Ao encontro dos estudos já relacionados sobre o tema, e a partir dos resultados preliminares, percebe-se uma grande fragilidade e inadequação na formação médica no que diz respeito a gênero e sexualidade, em diversos espaços ainda machista, sexista, homofóbica, com percepção da necessidade de maior investimento na formação dos docentes e preceptores para tal, ainda que as percepções mostrem que a utilização das metodologias ativas de ensino-aprendizagem sejam uma alternativa importante como estratégia. São necessários mais estudos e investimentos para abordagem adequada do tema.
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