29/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-28D - GT 28 - Saúde, Currículo, Formação: Experiências, Vivências, Aprendizados e Resistência Sobre Raça, Etnia, Gênero e Seus (Des)Afetos: Formação |
31318 - FORMAÇÃO NAS RESIDÊNCIAS MULTIPROFISSIONAIS EM ATENÇÃO BÁSICA E AS REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE CÁSSIA DE ANDRADE ARAÚJO - FIOCRUZ BRASÍLIA, FRANCINI LUBE GUIZARDI - FIOCRUZ BRASÍLIA
A Portaria nº 4.279/2010 preconizou as Redes de Atenção à Saúde (RAS) como modelo organizativo de gestão do SUS, conceituadas como arranjos organizativos de unidades e ações de saúde, de diferentes densidades tecnológicas, integradas por meio de sistemas logísticos e de apoio. Para Mendes (2010), as RAS compreendem organizações poliárquicas de conjuntos de serviços de saúde, vinculadas entre si por uma missão única, por objetivos comuns e por uma ação cooperativa e interdependente. Do ponto de vista normativo, afirmava-se um modelo de Atenção Básica (AB) fortalecida e potente, com destaque para a Estratégia Saúde da Família (ESF), que deve atuar como coordenadora e ordenadora das redes do cuidado. Nesse contexto, as características da Residência Multiprofissional em Atenção Básica (RMAB) favorecem alguns aspectos caros à formação profissional em saúde: a articulação entre teoria e prática; a problematização do processo de trabalho; a imersão no território, e a construção de vínculo com a comunidade e com a equipe de saúde (NASCIMENTO; OLIVEIRA, 2006). Por esse motivo pode ser considerada uma estratégia relevante no caminho de reorientação do modelo assistencial do SUS e de construção de um novo perfil profissional, capaz de gerar mudanças nas práticas, com vistas à resolubilidade e qualidade dos serviços prestados. Desde 2013, o Ministério da Saúde tem fomentado a perspectiva de uma formação para atuação nas redes de atenção no âmbito das Residências em Saúde, sob o referencial de Mendes (2010), com intuito de orientar que a formação do residente percorra toda a linha de cuidado do usuário e os equipamentos que compõem a rede de saúde local. Busca-se identificar as competências desenvolvidas na Residência Multiprofissional em Atenção Básica para atuação nas RAS. A metodologia foi composta por uma pesquisa documental e um survey eletrônico com residentes dos programas que possuíam financiamento de bolsas para residentes pelo Ministério da Saúde, entre 2010 e 2015; que estavam em atividade há no mínimo um ano; e cujos projetos pedagógicos apresentavam relação com a formação no contexto da RAS. Foram analisados 24 projetos pedagógicos de RMAB, que apresentam um universo de 551 residentes no segundo ano de formação (R2). Os dados produzidos foram analisados a partir dos referenciais teóricos de Schuwartz (1998) e Perrenoud (1999) sobre competência profissional. A pesquisa teve sua aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa comprovada pelo parecer consubstanciado nº 56196116.8.0000.8027. Resultados e discussão: Os resultados indicam avanços em relação ao conhecimento de campo e núcleo profissional, especialmente, nas ações realizadas segundo os residentes junto com os serviços e atores da RAS local, com destaque para: atividades coletivas de prevenção e promoção da saúde (71%), matriciamento e atendimentos compartilhados (59%), discussões de casos do território (53%) e visitas domiciliares compartilhadas (52%). Apesar das limitações, existe um esforço, ainda que tímido, na busca para que o cuidado compartilhado ocorra na rede. Na dimensão política da formação, foi observado que 79% dos residentes entrevistados referem fazer contato com diferentes serviços/equipamentos da RAS local, porém, parte significativa afirmou raramente ou nunca ter articulado ações conjuntas com profissionais/atores de outros níveis de atenção (50%) e que raramente ou nunca propõem atividades que integrem a atenção básica e os demais serviços/equipamentos da Rede SUS local (45%). Foram relatados entraves na comunicação com a RAS, principalmente, concernentes à burocracia percebida para articulação com a gestão e os profissionais dos serviços; infraestrutura deficiente para as atividades coletivas nos serviços da atenção básica; a alta rotatividade de profissionais e gestores de saúde e a dificuldade de articulação inter e intrasetorial. Foi constatado que a relação de articulação, coordenação e ordenação de cuidado do usuário da atenção básica junto aos demais níveis de serviços da RAS, no âmbito das RMAB, embora apresente avanços, ainda é baixa e possui inúmeros desafios, havendo a necessidade de repensar estratégias de formação nas RMAB. Concluímos que a formação das competências almejadas, em relação à atuação nas RAS, depende, fortemente, da interseção entre a dimensão individual e coletiva dessas competências, considerando os diferentes aspectos presentes em situações concretas do trabalho. O trabalho em equipe revela-se como dispositivo potencial dessa articulação, com impactos profícuos nos resultados da ação. A inserção do residente em cenários diversificados de práticas demonstra ser fator determinante para que se desenvolva ao longo da RMAB, dentre outras, competências para compor, conhecer e promover ações junto as RAS, em consonância com as políticas públicas. No entanto, coexistem questões estruturais que extrapolam o eixo formação e limitam a construção linhas e fluxos de cuidado compartilhados no âmbito das RAS.
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