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28/09/2019 - 15:00 - 16:30
CB-28A - GT 28 - Saúde, Currículo, Formação: Experiências, Vivências, Aprendizados e Resistência Sobre Raça, Etnia, Gênero e Seus (Des)Afetos: Atores Sociais, Práticas e Cuidados em Saúde

30038 - DESAFIOS E POSSIBILIDADES DA PSICOLOGIA NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA: A CLÍNICA EM MOVIMENTO
ISADORA VEIGA DE ASSUNÇÃO - UNIVERSIDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE ALAGOAS (UNCISAL), FERNANDA RIBAS MOURA REZENDE - UNIVERSIDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE ALAGOAS (UNCISAL)


A psicologia percorreu longa trajetória até adquirir seu espaço institucionalizado de trabalho no Brasil, passando a integrar o contexto da assistência pública à saúde só a partir da década de 70. A princípio, vem atrelada a uma “psicologia da educação médica”, atuando enquanto prática para humanizar atendimentos médicos. Além disso, a entrada da psicologia nas instituições se deu como movimento dos próprios profissionais psicólogos, que buscavam alternativas ao modelo de clínica tradicional/privatista. Tal modelo já estava sendo afetado por críticas que apontavam a clínica tradicional como sem significado e abrangência social. Neste contexto, é possível destacar a Atenção Básica como cenário de atuação que direciona a psicologia para transformação de suas ações, voltando-se para o conhecimento da realidade local e das necessidades de saúde dos usuários atendidos. A Atenção Básica (AB) advém como prática de tecnologia leve, que se ocupa dos cuidados primários e essenciais à saúde, de baixo custo, mas de alta complexidade. A ideia é que tais cuidados sejam disponibilizados no território onde as pessoas vivem e trabalham, sendo de alcance universal de indivíduos e famílias. É neste contexto que o presente artigo visa apresentar a experiência de duas psicólogas inseridas num Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família (RMSF), alocadas em uma Unidade de Saúde da Família em Maceió, AL. A prática realizada pelas residentes ocorreu em momentos distintos: uma delas iniciou o programa em 2018, e a outra, em 2019. A Estratégia de Saúde da Família (ESF) surge, como proposta prioritária para reestruturar e fortalecer a Atenção Básica e o modelo assistencial do SUS. Na ESF são contempladas desde ações de promoção/prevenção à saúde até a reabilitação. Tais ações devem ser executadas por uma equipe multiprofissional, – composta por diversas áreas da saúde trabalhando em conjunto pelo cuidado integral ao usuário –, em território definido. A proposta da RMSF é que os residentes possam vivenciar a Atenção Básica e, articulando teoria e prática, possam agregar/problematizar as formas de produção de cuidado existentes nas equipes de Saúde da Família já consolidadas. Tratando-se da psicologia, é perceptível que sua prática, tanto no âmbito da atenção primária como no trabalho multiprofissional, ainda esteja em construção. Levando em conta o histórico da psicologia como espaço de clínica fechada, individual e categórica, os psicólogos chegam à atenção básica sem o conhecimento de suas outras possibilidades de atuação. E, além disso, se estes propõem outras formas de atuar na AB, muitas vezes tais propostas não são levadas em consideração pelos outros profissionais – ainda presos a práticas da psicologia executada em sala fechada. As residentes vivenciaram o dia a dia da unidade de saúde, conheceram o território, realizaram atendimentos conjuntos, individualizados e visitas domiciliares, e sentiram tais dificuldades. No entanto, perceberam que a clínica em movimento é possível. Para que se realize a escuta qualificada e haja espaço para apreensão dos processos sociais dos sujeitos em território, não é necessário dispor de muitos instrumentos, além da própria escuta. Também fica evidente a necessidade de os psicólogos inseridos na AB conscientizarem os outros profissionais a irem de encontro ao movimento da medicalização desenfreada – que vem travestido daquele que alivia o sofrimento psíquico, quando, na verdade, o silencia. No contexto da AB, a lógica de cura ainda se sustenta firmemente no modelo biomédico. Logo, quando o psicólogo se nega a seguir tal lógica, é visto como um profissional ineficiente. Pautando-se na psicanálise freudiana, a partir da escuta – saindo da lógica interpretativa –, dá-se espaço para o sujeito elaborar sua queixa, construir um saber singular acerca de seus sintomas e, por fim, responsabilizar-se por estes. Os impasses nesse processo são infindáveis, começando pela relação do psicólogo com o usuário, que muitas vezes não tem continuidade. Além disso, o trabalho multi é um grande desafio: diversos profissionais, cada um com uma perspectiva, tratando de um único sujeito. Comumente as perspectivas não compartilhadas resultam no tratamento fragmentado de um ser integral. As psicólogas conseguiram estabelecer diálogos e trocas com os outros profissionais residentes. A maior dificuldade foi estender esse diálogo à equipe como um todo, considerando que esta, muitas vezes, enxerga os residentes como meros aprendizes. Pôde-se concluir que a psicologia ainda vem construindo sua prática no espaço público, principalmente na atenção primária. As psicólogas residentes buscaram ir na contramão das expectativas dos outros profissionais – de se reproduzir a mesma psicologia do consultório no território – e objetivaram construir uma nova psicologia, que leve em conta a palavra, mas também o contexto social dos sujeitos inseridos em território. É possível, portanto, construir a clínica em movimento.

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