28/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-28A - GT 28 - Saúde, Currículo, Formação: Experiências, Vivências, Aprendizados e Resistência Sobre Raça, Etnia, Gênero e Seus (Des)Afetos: Atores Sociais, Práticas e Cuidados em Saúde |
30043 - DISCUSSÃO DE GÊNERO E SAÚDE NA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA DE DOCENTES CRISTIANE FERRAZ COLONESE - ENSP-FIOCRUZ, BIANCA MORAES ASSUCENA - EEAN-UFRJ
Contextualização: Trata-se de um relato de docentes da disciplina Gênero e Saúde, do Curso de Residência Multiprofissional em Saúde de um Hospital Universitário no Estado do Rio de Janeiro. A aula foi construída de forma dialógica com os alunos permitindo reflexão que ultrapassa os espaços profissionais, tendo sido importante para revisitar posturas e condutas da prática diária de vida e sem dúvida da vivência enquanto profissionais de saúde. Descrição: A proposta de ensino-aprendizado para os residentes contemplou sua inserção como profissional no tema Gênero e Violência a partir do seu local de atuação. A reflexão crítica foi baseada no reconhecimento do problema, com propostas de melhoria ao acesso e cuidado dos usuários no serviço em que estão inseridas. A disciplina em questão é parte integrante do processo de formação dos alunos da Residência de um hospital universitário no Estado do Rio de Janeiro da área de saúde da mulher, criança e adolescente. Ao total participaram do dia da aula cinco discentes. No formato de roda, inicialmente, as docentes e discentes falaram sobre os dilemas e desafios da experiência como residentes. Posteriormente foi sugerido às discentes responderem um questionário por escrito com perguntas abertas sobre o tema a ser apresentado. A dinâmica seguinte proposta às estudantes foi à construção em grupo de um corpo de um indivíduo no formato de desenho. Foram apresentados a partir das perspectivas das pós-graduandas os conceitos relevantes sobre a temática, como: gênero, sexo biológico, identidade de gênero, expressão de gênero e orientação sexual. O último conteúdo abordado em aula foram os dados de violência de gênero no Brasil e no mundo. Esse panorama trouxe a magnitude do assunto violência de gênero em que se destacam a violência contra a mulher pelo parceiro íntimo e contra a população LGBTQI. Período de realização: O bloco presencial da disciplina foi ministrado no dia 26 de janeiro de 2019 no período de 8h00 às 17h00 em sala de aula do Hospital Universitário onde os alunos atuam. Objetivo: Descrever a experiência enquanto docentes da disciplina “Gênero e Saúde” em um Curso de Pós-Graduação Multiprofissional. Resultados: Iniciamos a aula com alguns questionamentos que trouxemos no formato de formulário, onde apontamos questões da seguinte ordem: identificação, conhecimentos culturais, conhecimentos sociais e políticos, vivências e perguntas sobre experiências no SUS. Como destaque nesta primeira etapa da aula percebemos a dificuldade das alunas no item “Identificação”, em relação ao assunto definição do seu gênero. A confusão na definição do gênero estava muito ligada ao medo de dar definição ao que talvez “não possa ser definido”. Trabalhamos com o princípio da equidade, fundamentado pelo valor humano do respeito, sendo a necessidade de definição do gênero inerente a cada indivíduo, não sendo um equívoco sua determinação, bem como sua não determinação. Propomos uma dinâmica de construção coletiva de um corpo representando um ser humano. Impulsionamos a atividade sem definição de sexo para o corpo, no sentido de gerar a dúvida quanto a necessidade de definição das características específicas de cada ser. O grupo apesar de não querer definir o sexo biológico do corpo, nos apresentou um corpo masculino, com características específicas de um homem na praia. Nos chamou a atenção a elaboração de um corpo definido no sexo masculino, sendo este um grupo tão somente de mulheres. Aproveitamos para trazer de forma ampla e cuidadosa o debate sobre gênero e sexo, masculinidade e feminilidade na cultura ocidental, bem como a partir das perspectivas das pós-graduandas debatemos identidade e expressão de gênero, orientação sexual em conformidade com princípios e diretrizes do SUS. Em momento expositivo e dialógico debatemos sobre a contextualização histórica do movimento feminista brasileiro, histórico das políticas públicas com foco na saúde da mulher, bem como a legislação brasileira atual no que se refere a rede de proteção às mulheres no enfrentando da violência de gênero, vale dizer que enfocamos alguns dados sobre feminicídio e violência à população LGBTQI. Aprendizados: Na nossa percepção parece haver pouco debate nas graduações em saúde sobre a temática gênero e sendo a organização dos serviços de saúde pautadas pela determinação biológica, baseada em tecnologias duras, pouco dialógicas e reflexivas para situações que fogem do contexto saúde-doença, os espaços de trabalho ainda se configuram segmentados, dificultando o debate entre pares multiprofissionais sobre questões que por vezes se tornam invisíveis no contexto diário do trabalho. Análise crítica: O saber democrático e horizontal, inclusivo e sem preconceito foi a essência desta disciplina. Os estudos de Paulo Freire inspiraram nossa abordagem em sala de aula e permitiu a valorização do discente como sujeito ativo no seu processo de ensino-aprendizagem e o docente como mediador e parceiro nessa construção.
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