28/09/2019 - 15:00 - 16:30 CB-28A - GT 28 - Saúde, Currículo, Formação: Experiências, Vivências, Aprendizados e Resistência Sobre Raça, Etnia, Gênero e Seus (Des)Afetos: Atores Sociais, Práticas e Cuidados em Saúde |
31572 - EXPERIÊNCIAS DE SUPERVISÃO ACADÊMICA NO PROGRAMA MAIS MÉDICOS EM ÁREAS DE DIFÍCIL ACESSO NO AMAZONAS SARAH BARBOSA SEGALLA - GRUPO ESPECIAL DE SUPERVISÃO - AMAZONAS, EVELIN GOMES ESPERANDIO - GRUPO ESPECIAL DE SUPERVISÃO - AMAZONAS
Contextualização: O Programa Mais Médicos para o Brasil (PMMB) foi instituído pelo governo brasileiro em 2013 em resposta à dificuldade crônica de alocação de profissionais médicos em áreas de difícil acesso e periferias das grandes cidades e à necessidade de formação de médicas e médicos para a atenção básica. Dentre as responsabilidades dos profissionais inscritos no programa está o trabalho semanal 32 horas nas unidades de atenção básica, além de 8 horas semanais para a formação em medicina de família e comunidade (MFC) ou Saúde indígena. Além disso, esses médicos são supervisionados mensalmente por supervisores e tutores vinculados a Instituições de Ensino Superior (IES).
Através do PMMB possibilitou-se que brasileiras e brasileiros formados em medicina em IES de outros países pudessem trabalhar no país com registros profissionais provisórios para trabalhar exclusivamente no âmbito do programa. Como as vagas abertas pelo programa não foram preenchidas por esses profissionais (brasileiros e estrangeiros), houve também a firmação de um contrato com Cuba, através da Organização Pan-americana de Saúde (OPAS), através do qual o estado cubano disponibilizava profissionais cubanos para trabalhar no Brasil. Dentre essas áreas – negligenciadas historicamente e não priorizadas pelos médicos brasileiros e estrangeiros inscritos individualmente no Programa -, encontram-se a quase totalidade dos Distritos Sanitários Indígenas (DSEIs) e boa parte dos municípios de difícil acesso da Amazônia Legal. Para essas áreas de difícil acesso, foram criados Grupos Especiais de Supervisão (GES), que cobrem os estados Acre, Amazonas, Pará e Roraima.
O trabalho de GES-Amazonas ocorre atualmente junto a centenas de médicos ligados à atenção primária em municípios ribeirinhos e DSEIs - muitos dos quais nunca tiveram um médico antes do programa.
Descrição: Os supervisores do GES realizam uma visita bimestral para supervisão in loco, além de constante contato remoto com os médicos supervisionados, suas equipes e gestores locais.
Período de realização: O GES atua desde 2016, contudo sua atuação foi ampliada em 2019, com entrada de novos municípios e DSEIs e novos supervisores.
Objetivo: Este trabalho objetiva descrever e compartilhar a experiência dos supervisores do GES do estado do Amazonas.
Resultados: A supervisão permite o aperfeiçoamento das equipes em competências e habilidades inerentes a saúde da família, além de estabelecer contato com as comunidades tradicionais e com as instituições gestoras de municípios e DSEIs, possibilitando maior efetivação da APS nos locais onde existe, auxiliando na resolução das dificuldades locais.
A presença do Programa Mais Médicos, bem como dos grupos especiais de supervisão, foi de crucial importância para provimento e manutenção de médicas e médicos nesses locais. Até dezembro de 2018, a maioria dos profissionais dessas áreas era vinculada à cooperação com Cuba, por meio da OPAS, o que permitiu a alocação de médicos nessas áreas cronicamente carentes, e o apoio técnico dos médicos supervisores era parte importante para o acompanhamento do trabalho de maneira próxima e articulada. Atualmente o trabalho prossegue e se intensifica com a alocação de novos profissionais.
Aprendizados: Com a saída dos médicos cubanos, que representavam mais de 90% dos médicos supervisionados, o grupo precisou rever suas estratégias pedagógicas para lidar com outros perfis profissionais, sobretudo médicas e médicos brasileiros formados no exterior. Para isso, foram reorganizados os grupos de trabalho previamente existentes para estudo, aprofundamento e elaboração de propostas para possibilitar uma supervisão efetiva, do ponto de vista pedagógico e logístico.
Análise crítica: A supervisão em áreas de difícil acesso é um desafio permanente e somos sempre provocados a reformular nossas estratégias pedagógicas e políticas para atuar em locais constantemente ameaçados e historicamente negligenciados. Os desafios são diversos: a alocação de profissionais sem formação; a supervisão à distância de profissionais que estão em áreas sem contato digital ou muitas vezes sequer por telefone; a realização de supervisão in loco em áreas tão remotas em apenas 3 dias (período pactuado pelo convênio do Ministério da Saúde com o Ministério da Defesa, incluindo ida e volta); a realização de uma supervisão adequada em um curto tempo e com poucos recursos. Apesar das adversidades, o grupo de supervisores do GES-Amazonas entende que este trabalho é fundamental para que os povos ribeirinhos e indígenas tenham acesso ao direito à saúde e para que as equipes que oferecem este trabalho tenham algum apoio neste desafio. É preciso que se desenvolvam estratégias para prosseguir este trabalho enquanto ele resiste à precarização do SUS e às ameaças aos povos da floresta, e gostaríamos de compartilhar as experiências e ferramentas de supervisão que estamos desenvolvendo com outras pessoas que também vivem desafios complexos no campo da formação.
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