Clique para visualizar os Anais!



Certificados disponíveis. Clique para acessar a área de impressão!

Associe-se aqui!

Grupos Temáticos

28/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-12A - GT 12 - Cenários, Questões e Pontos de Partida

30275 - NADA SOBRE NÓS, SEM NÓS”? COMUNICAÇÃO E A EPIDEMIA DE ZIKA NO BRASIL
POLYANA APARECIDA VALENTE - FIOCRUZ/MG, MICHELE NACIF ANTUNES - PPGSC/ UFES, DENISE NACIF PIMENTA - FIOCRUZ/MG


Introdução

Como comunicar sobre os processos epidêmicos no Brasil? Quais são e como se configuram as relações de poder entre “quem sabe” e “quem deseja saber”? Como se dão os processos de participação social e diálogo durante as epidemias? É possível pensar uma comunicação de risco que não estejam ancoradas em relações hierárquicas e lineares? Onde o “público” possa assumir um papel central e não periférico nos processos comunicacionais? Enfim, é possível uma comunicação ancorada no lema: “nada sobre nós, sem nós”? O lema, presente nas redes sociais e documentos de algumas associações de mães e famílias de crianças com microcefalia ou Síndrome Congênita da Zika (SCZ), diz muito da luta histórica pela participação cívica nas políticas públicas de saúde e de comunicação no Brasil. A frase, cunhada a partir de 1960 pelos movimentos sociais de pessoas com deficiência e, mais tarde, pelo movimento feminista, reivindica o direito à participação e protagonismo político e social.

Objetivo

Refletir sobre as relações entre ciência, sociedade e os processos de comunicação e saúde a partir de estudo de caso da epidemia de Zika no Brasil.

Metodologia

A partir do lema “nada sobre nós, sem nós” foram abordados como pontos de inflexão a comunicação de risco durante a epidemia de Zika no Brasil. A pesquisa foi realizada a partir de revisão bibliográfica sobre os aspectos que envolvem as relações entre comunicação, ciência, sociedade e processos epidêmicos. E para discutir o “nós” do referido lema, também foi realizado um mapeamento das associações de mães e familiares afetados pela SCZ no Brasil, suas pautas, reivindicações e atuação. O levantamento foi realizado a partir de buscas na internet, artigos sobre as associações, sites institucionais, redes sociais e consulta à líderes das associações.

Resultados e Discussão

Na presente pesquisa, o olhar para os processos epidêmicos é lançado sob a ótica da comunicação de risco e das emergências em saúde pública, considerando que a comunicação durante uma epidemia ocorre em um ambiente complexo, com uma variedade de atores competindo por atenção e espaços de fala. Os processos epidêmicos são históricos e conjunturais, mobilizam diferentes setores da sociedade, evidenciam as desigualdades sociais, relações de poder, raça e gênero. No Brasil, desde o processo de redemocratização do país há um alargamento dos diálogos entre a sociedade, poder público e a produção científica. Os movimentos sociais e as associações civis são atores fundamentais para criação de agendas e demandas historicamente negligenciadas. Desde o início do surto epidêmico de Zika até o primeiro semestre de 2019, foram criadas quatorze associações civis. Além da microcefalia, algumas assistem crianças com doenças raras. Há uma tensão interna nas associações sobre restringir-se ao atendimento de casos de microcefalia ou ampliar para as doenças raras. Essa tensão impacta diretamente sobre os processos identitários dos grupos e de configuração das redes de sociabilidade. Os meios de comunicação desenvolvem um papel importante nesse diálogo e acionam diferentes vozes. Entanto, ainda prevalece silenciamentos, ruídos e hegemonia da fala científica em detrimento da população. Somente será possível uma comunicação ancorada no lema “nada sobre nós, sem nós” quando a sociedade civil assumir um papel central nos processos comunicacionais. Há necessidade de incorporação de novas vozes e práticas que levem em conta os diversificados contextos e processos sociais existentes. Somente será possível pensar em uma comunicação ancorada no lema “nada sobre nós, sem nós” quando houver o que Boaventura de Souza Santos nomeia de “ecologia dos saberes” (SANTOS, 2018).

Considerações Finais

Assim, como Sodré (2014), é necessário pensar a comunicação sob o ângulo de uma transcendência. Não como mero intercâmbio de palavras, mas como ação, criando pontes entre as diferenças. No contexto da epidemia de Zika, procurou-se problematizar as relações estabelecidas entre o Estado, a mídia e a sociedade civil via movimentos sociais e/ou associações que as representam. Refletiu-se sobre como essas relações afetam a elaboração das políticas públicas, tanto na saúde quanto na comunicação. Enfatiza-se a voz das associações de mães-mulheres como forma de reconhecimento do seu protagonismo político e social durante e após o estado de emergência da epidemia. Assim, com o decreto do dito “fim da emergência”, as lutas dessas associações permanecem e conclamam por mais escuta e, principalmente, por mais participação nas políticas públicas de saúde.

Referências
SANTOS, B. de S. Na oficina do sociólogo artesão: aulas 2011-2016 / Boaventura de Sousa Santos; seleção, revisão e edição Maria Paula Meneses, Carolina Peixoto. — São Paulo: Cortez, 2018.
SODRE, M. A Ciência Do Comum: Notas para o Método Comunicacional. 1. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.

local do evento

Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Campus Central

A Universidade Federal da Paraíba é reconhecida pela sua excelência no ensino e em pesquisas tecnológicas e, atualmente, encontra-se entre as melhores Universidades da América Latina.

Campus I - Lot. Cidade Universitaria, João Pessoa - PB, 58051-900