29/09/2019 - 13:30 - 15:00 EO-12C - GT 12 - Estudos de Mídias e Descolonização da Comunicação |
30416 - O COLONIALISMO PRESENTE NAS PÁGINAS DOS JORNAIS: UMA ANÁLISE SOBRE AS FONTES DE NOTÍCIAS NA COBERTURA DA EPIDEMIA DE ZIKA NO ESPÍRITO SANTO THALITA MASCARELO DA SILVA - UFES, MICHELE NACIF ANTUNES - UFES, ADAUTO EMMERICH OLIVEIRA - UFES, VICTOR ISRAEL GENTILLI - UFES
Apresentação/Introdução
A ideia predominante de que o colonialismo foi suplantado no século passado configura-se em um contrassenso, uma vez que o colonialismo não teve um fim, pois persiste na sociedade contemporânea de diversas formas (SANTOS, 2018). Na medida em que um saber evoca outro saber à subalternidade, uma espécie de colonialismo é perpetuado em forma de dominação de conhecimento, o que acarreta o silenciamento do outro. Essa colonização do saber torna-se, no século XXI, muito difundida nos jornais no campo da saúde. Nesse contexto, algumas perguntas emergem: pode-se considerar que na cobertura jornalística sobre saúde a utilização massiva das fontes de notícias classificadas como oficiais e oficiosas em detrimento da fala dos cidadãos consiste em uma forma de colonização? Ao excluir o cidadão, nega-lhe a voz e silencia a sua representatividade, ao mesmo tempo em que fortalece a imagem das fontes oficiais, mais procuradas, mais visibilizadas e cada vez mais dotadas de poder? Afinal, quais são as vozes mobilizadas e invisibilizadas nos jornais?
Objetivos
Tomando como ponto de partida a cobertura da epidemia de zika no jornal impresso A Gazeta do Espírito Santo, pretende-se discutir a presença das fontes de notícias no jornalismo como uma forma de colonialismo e suas consequências na produção jornalística.
Metodologia
Foi realizado um levantamento das fontes na cobertura da epidemia de zika no jornal A Gazeta do Espírito Santo, no período de novembro de 2015 até junho de 2017, período em que a epidemia de zika foi considerada emergência em saúde pública. As notícias sobre zika foram lidas na íntegra, identificando as fontes que foram ouvidas e as classificando em oficiais, pesquisadores/especialistas e cidadãos e outros.
Resultados e discussão
Foram identificadas 759 fontes, e foi constatado que houve uma prevalência nas notícias das fontes oficiais (47,7%) e especialistas (16,9%). Enquanto os cidadãos, entre eles, as mulheres e mães, foram ouvidas em (13,6%) das notícias. As fontes oficiais, condicionadas pelo Estado e instituições que exercem poder de Estado são aquelas que comumente se profissionalizam para fornecer informações à imprensa, e, assim, são capazes de influenciar mais facilmente no fazer jornalístico podendo, dessa forma, ser denominadas de news promoters (promotores de notícias). Pode-se considerar que o jornalismo quando aborda temas da saúde, costuma centralizar o conteúdo nas fontes oficiais, de cunho científico e especializado. Um conceito importante de Santos (2010) que contribui para essa discussão é a ecologia dos saberes, ou seja, postula um diálogo do saber científico com o saber popular, partindo do reconhecimento da assimetria e faz dela o motor da comparação entre saberes. No caso da epidemia de zika, as mães que tiveram seus filhos afetados pela Síndrome Congênita do Zika Vírus constituíram uma “expertise leiga” adquirida no cotidiano do cuidado dos filhos e na troca de experiências entre elas e tal expertise não é refletida nos jornais. Aqui, não se nega a importância da ciência moderna, no entanto, enfatiza-se que a soberania institucional de deter o conhecimento científico da verdade não pode excluir o reconhecimento de outras formas do saber. Na medida em que as falas de fontes científicas são privilegiadas, estabelece-se uma relação de poder em que a força das fontes oficiais prevalece em detrimento das vozes dos cidadãos (OLIVEIRA, 2017), apagando a ecologia dos saberes nos jornais. Ao analisar a constante convocação de fontes oficiais nas matérias jornalísticas, com o objetivo de demonstrar credibilidade e objetividade, percebe-se que os jornalistas estão se tornando reféns dessas fontes, cada vez mais profissionalizantes e qualificadas. No atual cenário da profissão, em um contexto de ascensão neoliberalista, tal movimento contribui para a colonização da informação nos jornais, aspecto antagonista na busca pela solidificação dos ideais dos direitos humanos na sociedade.
Conclusões/Considerações Finais.
O colonialismo cria uma relação de extrema desigualdade de saber-poder que conduz à omissão de diferentes formas de saber, preterindo outros saberes para um espaço de subalternidade. É preciso, dessa forma, a busca pela descolonização da informação evocando o princípio da integralidade na Comunicação e Saúde, que reconhece a possibilidade de acolher e ampliar as muitas vozes existentes com os muitos sentidos possíveis.
Referências.
SANTOS, B. S. Boaventura: o Colonialismo e o século XXI.Disponível em: . Acesso em: 13 mai. 2019.
______________. Um discurso sobre as ciências. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2010. 92 p.
OLIVEIRA, M. Biopoder no jornalismo em saúde: vozes autorizadas quando a pauta é alimentação. Disponível em: Acesso em: 01 mai. 2019.
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