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29/09/2019 - 13:30 - 15:00
EO-12C - GT 12 - Estudos de Mídias e Descolonização da Comunicação

31026 - REPRESENTAÇÕES RELACIONADAS À QUESTÃO DAS DROGAS ILÍCITAS NO NOTICIÁRIO DE JORNAIS DO RIO DE JANEIRO À LUZ DA TEORIA DE FRANTZ FANON
WILLIAN SÉRGIO DE JESUS LUCAS - ENSP/FICORUZ, ROSELY MAGALHÃES DE OLIVEIRA - ENSP/FIOCRUZ, GIL SEVALHO - ENSP/FIOCRUZ


O estudo constitui dissertação de Mestrado defendida na Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca/FIOCRUZ em 2018. Discute-se a construção de representações referentes à questão das drogas ilícitas, tráfico e uso, veiculadas por dois jornais diários impressos de grande circulação na cidade do Rio de Janeiro. A análise do material é fundamentada no conhecimento produzido por Frantz Fanon, médico psiquiatra martinicano, com atuação na luta pela libertação colonial da Argélia, falecido aos 36 anos em 1962. Fanon é autor expoente na interpretação da diáspora africana, e neste estudo destaca-se sua contribuição crítica experimentando-se sua teorização como método de análise de discursos publicados na mídia jornalística. Pensando a dominação colonial relacionada com racismo, cultura e capitalismo, Fanon influenciou autores em todo mundo, sendo presente no pensamento de Paulo Freire e reconhecido por intelectuais brasileiros como Abdias do Nascimento e Glauber Rocha. A contribuição de Fanon é expressiva nos pensamentos pós-colonial e de(s)colonial e suas repercussões em Stuart Hall e Homi Bhabha, dois pensadores pós-coloniais, é explorada neste estudo. A perspectiva pós-colonial problematiza identidades e culturas diaspóricas, criando aportes epistemológicos sobre o legado do imperialismo nas antigas colônias europeias da África e Ásia. Hall, sociólogo jamaicano radicado na Inglaterra, desde sua participação nos Estudos Culturais pensou a identidade e o conceito de cultura nas sociedades urbanas contemporâneas. Bhabha é filósofo indiano radicado nos EUA que, desde sua experiência na crítica literária, pensa a representação do colonizado sob o domínio inglês. A partir de Fanon, Bhabha discute um hibridismo cultural que se instala com o desejo do colonizado e do colonizador de uma troca mútua de identidades que não se completa, permanecendo, cindida, em um espaço intersticial da relação de dominação. Para Hall e Bhabha são caros os conceitos de representação e tradução cultural para analisar a relação entre colonizado e colonizador. A representação é fundamento para análise da produção jornalística examinada no estudo, onde privilegiam-se na obra de Fanon as leituras de Pele Negra, Máscaras Brancas (1951, publicado em 1952) e de Os condenados da Terra (1961, publicado em 1962). Destacam-se no pensamento fanoniano a sociogênese do racismo e a proposta de um humanismo revolucionário, evidenciando-se o uso da linguagem jornalística como forma de expressão da dominação social que forja representações de grupos sociais e relações. Sobre o material, referente aos meses de julho e agosto de 2017, utilizou-se a análise de conteúdo, acompanhada da teorização crítica fundamentada em Fanon. Organizado por classificação temática, o exame do material possibilitou inferências interpretativas sobre a discriminação velada nas representações. A espetacularização funciona como modelo privilegiado na apresentação do noticiário, e tal configuração estigmatiza sujeitos e relações enfocados nos cenários e temas apresentados. O espaço territorial do Rio de Janeiro é, numa perspectiva evidente, aquele da metrópole compartimentada onde se inscrevem as “zonas do ser” e “zonas do não-ser”, e nestas últimas está o negro, aquele que Fanon revela que “não é”. A produção do discurso inscreve-se na relação colonizadora, de dominação, que mascara o contexto social e ignora as repercussões na saúde, naturaliza a violência e a exclusão e impõe a resignação da população pobre do Rio de Janeiro, particularmente a negra, diante do drama das drogas, da violência, da injustiça social. A reflexão teórico-conceitual de Fanon, autor pouco trabalhado na saúde coletiva, mostrou-se adequada na análise pretendida. A teorização crítica utilizada permite identificar a relação entre racismo, cultura e capitalismo na representação da questão das drogas ilícitas. Imbricando o racismo no tecido sociocultural Fanon apresenta os mecanismos de defesa desenvolvidos pela psiquê da pessoa negra, ou grupo oprimido, diante da objetificação produzida como dominação. Entende-se que as supostas inferioridade negra e superioridade branca, o racismo gerado socialmente e posteriormente epidermizado, foi reproduzido em representações construídas no noticiário estudado. Parte importante do material encenava a guerra ao tráfico, intervenção federal e diversas formas de violência, sendo a questão das drogas ilícitas massivamente comentada pelo viés da segurança pública, com escassa participação analítica de cientistas sociais. Quando abordadas pelo viés da saúde, as matérias referenciavam-se a ações e grupos de apoio, sendo pouco frequente e isolada a opinião de algum profissional de saúde, sem alcançar a complexidade contextual da questão em sua relação fundamental e crítica com a saúde coletiva. A realização do estudo nos pareceu a produção de um discurso sobre discursos, para o que chama a argumentação emocionada de Fanon.

local do evento

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